Hillary, contudo, não parece disposta a aceitar as evidências e a render-se aos factos. Obama lidera no número de pledged delegates, no popular vote e no número de superdelegates. Está a poucas dezenas de votos de conseguir a maioria absoluta na Convenção. Mas, ainda assim, Hillary não desiste. Porquê? Custa-me a acreditar nas teorias mesquinhas de que esta resistência se deve à secreta esperança de que, caso consiga aguentar até 3 de Junho (dia das últimas primárias), Obama a ajude a pagar as contas da campanha. Outros dizem que é agora no cargo de Vice-Presidente que ela se concentra. Outros, finalmente, defendem que ela ainda não foi simplesmente capaz de aceitar que uma campanha que tinha tudo para ser um passeio no parque se transformou num pesadelo político e financeiro. Inclino-me mais para esta última...
A questão que agora se impõe é quem irá concorrer com Obama. John Edwards já pôs de lado essa hipótese, não descartando contudo a possibilidade de vir a ser nomeado Attorney-General e Clinton duvido que queira (já foi nº 2 durante muito tempo). Obama, contudo, sabe que tem de ter um VP capaz de apelar aos grupos mais sensíveis a Edwards e a Clinton: os blue-collar voters, sem educação superior, com pequenos salários, preocupados essencialmente com o estado da economia. Terá de ser um homem branco (uma mulher que não Clinton seria inovação a mais para os eleitores), do Sul dos EUA e com capacidade de mobilizar aquele eleitorado. Se Clinton sair com graciosidade da campanha até pode ser que ajude Obama nessa tarefa.
Um segundo momento em que importa reflectir é a eleição presidencial em si. McCain tem aproveitado este tempo de luta fraticida no Partido Democrático para se ir estabelecendo no campo republicano e para evitar contestações desnecessárias assim que os democratas se entenderem e ele passar a ter um único opositor.
Confesso que a luta Obama-McCain me inquieta e duvido, sinceramente, que Obama ganhe. O factor raça terá certamente uma tremenda influência, mas não será o único. Obama, como se viu recentemente, não sabe reagir a uma campanha à la Karl Rove, que Clinton ensaiou, mas de que logo desistiu. Por outro lado, o reverendo Wright não ficará calado, tal é a sua sede de protagonismo. E a falta de good judgement de um candidato a Presidente que não se apercebeu, ao longo de 20 anos, da natureza do Reverendo (para quem o VIH é uma criação do Governo dos EUA para exterminar os pretos), não deixará certamente de ser abundantemente explorada pelos republicanos. Há, depois, os argumentos que Clinton vem testando sem grande sucesso: falta de experiência política e executiva, a que McCain juntará falta de experiência militar, e incapacidade de ganhar os swing states, que são quem tudo decidirá...
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