sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Foi distracção

É má vontade interpretar de outro modo os primeiros 3 segundos deste vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=7JIgLoTg3TQ&mode=related&search=

Será uma demonstração de terrível má-fé imaginar sequer que possa ter sido de propósito. Francamente. Monte de complexados, nós. Não nos livramos do passado, nós.

Já agora, fique o leitor a saber que o hino de Espanha, actualmente, não tem letra. Não tem nem pode ter: esta que aqui ouvirá (ou já terá ouvido) é conotada com o franquismo, e pode cair muito mal entoá-la em público.

Mas também pode cair muito bem, claro, é uma questão de saber com quem se canta: se passar pelos lados do Vale dos Caídos aí por alturas do dia 20 de Novembro aposto que ganha amigos num instante - e a lei das probabilidades exige que haja franquistas bem simpáticos (as).

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Quando a coragem é tudo o que resta

Há alturas em que ser um Hobbesiano neo-realista que pisca o olho ao cinismo custa muito (perdoem-me os leitores esta introspecção; poupá-los-ei tanto quanto possível aos meus estados de alma). Perdoem-me também os cultores da ciência política pela provável mistura entre conceitos e pontos de vista.

As manifestações dos monges birmaneses são, aos meus olhos, um exemplo admirável de coragem perante um poder desproporcionado; não sei se estão votados ao fracasso (e, por conseguinte, à morte, ao desaparecimento, à tortura), mas o passado parece indicar tal desfecho - a repressão começa, a ditadura mostra-se sólida e tanto Índia quanto China parecem preferir manter a Birmânia como terra de ninguém entre uma e outra (discordo parcialmente do texto do link).

A bem da coerência com o meu remendo sobre o Dalai Lama, acho que há diferenças nítidas entre uns e outros. Acho que é possível ser céptico quanto à inocência política da vinda de um líder político e religioso ao país que detém a presidência da UE e, pouco tempo depois, expressar admiração por um movimento que tudo indica merecer grande apoio popular e que pretende, ao que se sabe, democratizar o seu próprio país, para mais levado a cabo por elementos tradicionalmente apolíticos e respeitados no país como a sua reserva moral. Quanto a debater a questão «Dalai Lama», já me prometeram discordância aqui no blogue - fico à espera para prosseguir.

O movimento despoletado pelos monges birmaneses pode resultar na queda da ditadura ou num banho de sangue, discreto ou não. Pode até continuar tudo como dantes e em breve tudo isto estar esquecido. Já aconteceu em 1998, houve 3.000 mortos e desaparecidos, nada mudou.
Quem sabe desta vez. Ter as mãos sujas do sangue, não só do seu povo mas também dos seus símbolos, costuma ser o sinal do fracasso de quem governa pelo ferro. A incerteza e o desespero da sua situação só acrescenta à coragem que estes homens, e todos os civis que os apoiam, demonstram. Não sei que apoio prático é possível prestar aos manifestantes, mas seria uma bela altura de fazer algo de bom por este mundo.

Este remendo não é sobre política externa

Pela primeira, e quem sabe pela última vez, Pedro Santana Lopes (PSL) protagonizou um momento que pode vir a ser positivamente relevante para a política do nosso país:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1305892

Como de costume, não foi ele quem o idealizou, não foi ele quem o provocou, e, inevitavelmente, é vítima da perfídia alheia. Mas PSL agiu com dignidade, tratando o 4.º poder como ele merece. Quem sabe PSL regresse ao protagonismo político, embalado pela onda de simpatia que vai despertar!

Para ainda mais simpatia, só este vídeo, absolutamente impagável, que viva per secula seculorum e seja sempre nosso conforto nas horas mais tristes. Obrigado à Grande Loja do Queijo Limiano.

Agora mais a sério: estar nas mãos dos media, entre jornalistas e grandes patrões, é o preço da democracia, e estas ocasiões são muito refrescantes, além de úteis para nos manter alerta. No fim de contas, a nossa terra só desfruta de liberdade de imprensa há 30 anos.

E agora, de regresso ao espaço exterior. Beam me up!

Piadas e graçolas...

... mas não foi esta a piada da semana, foi outra sobre o programa nuclear iraniano... o tipo é um génio do stand up!

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Pesos e medidas

Eu teria preferido deixar passar o assunto e vê-lo perder-se nas brumas dos Himalaias; tê-lo-ia feito, aliás, se o gesto, ou falta dele, tivesse ficado por aí. No entanto, o Eng.º Sócrates forçou-me as pontas dos dedos e tenho mesmo de preparar este remendo.

Não é que eu ache que, pelo facto de o Dalai Lama ter sido expoliado do seu poder temporal pelas hordas chinesas, de ser o líder espiritual de uma religião que está na moda e de ser uma figura simpática e acarinhada por nós no Ocidente, que qualquer governante tem de largar tudo para ir recebê-lo. Não defendo nem simpatizo, de modo nenhum, com a situação que a China criou e mantém no Tibete; mas fico sempre com a impressão de que a «política dos princípios» tem muito mais a ver com os fins, de política interna ou externa, de quem a prega, do que realmente com idealismos.

Mal estará um governo português que toma decisões com impacto na sua política externa para agradar a toda a gente que é defensora dos anexados, genocidados e, globalmente, oprimidos. Por isso, até nem me pareceu mal a solução acinzentanda que Portugal encontrou para acomodar o Dalai Lama: quem o recebe é a 2.ª figura da ordem constitucional, numa esfera oficialmente fora do poder do Executivo, e o Presidente da Câmara da capital do país; ficam de fora a Chefia do Estado e a Chefia do Governo.

Uma das coisas que mais me custa nesta vida, além de ver a defesa da Selecção de futebol, é assistir a fazer-se e pensar-se política com base em preconceitos. Um preconceito é, por exemplo, partir do princípio que tudo o que o Dalai Lama faz e diz é bom, e que aparecer-nos assim, quando somos a presidência da UE e temos uma cimeira UE-China em Novembro, é perfeitamente inocente e não pretende obter dividendos políticos. Ainda por cima, este raciocínio simplista acaba por retirar relevância política à questão tibetana e volta-se contra quem está realmente empenhado em algum tipo de progresso nesse capítulo. Enfim. Veja-se isto, como exemplo de ondulação política - simbólica, é certo.

Dito tudo isto... custa-me mais ainda ver que o Executivo não recebe o Dalai Lama, mas no mesmo dia abre as portas de São Bento ao Bob Geldof. Tal como o Bono e outros beneméritos, auto-intitulados defensores dos africanos (em geral, que no fundo no fundo são todos iguais) e conhecedores profundos dos males e patifarias que os Europeus e Ocidentais fizeram à África (porque aquilo é tudo a mesma coisa). Eu leria sem dramas a primeira frase deste parágrafo, oração por oração, em separado, em alturas distintas. O problema é que estão juntas. E o nosso Governo passou uma mensagem um bocado esquisita a quem lhe prestou atenção.

sábado, 22 de setembro de 2007

It's the economy, stupid!


Lembrei-me desta famosa frase, utilizada aquando da campanha presidencial de Bill Clinton em 1992, a propósito da UE e da estratégia apresentada pela Comissão Europeia para a energia. Esta demonstra que, contrariamente à crença generalizada, nem sempre é a economia, stupid. D
e facto, a campanha da COM que dá pelo nome de Energizing Europe contém um cláusula que pretende salvaguardar tomadas hostis de companhias europeias do ramo por empresas não europeias. Não surpreende que já tenha sido cunhada de cláusula Gazprom!
Assim, o cunho pretensamente liberal da Comissão Barroso dá lugar a um proteccionismo de cariz nacionalista, à imagem, de resto, do que acontece nos EUA (lembram-se da dificuldade de Richard Branson em dar início às actividades da Virgin America?).
Em suma, parece-me que, no que toca a alguns sectores considerados estratégicos, "é preciso que algo mude para que tudo fique na mesma".

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

O cinzento fica-vos tão bem

A discussão sobre o estatuto do Kosovo deve passar pela abdicação de "rótulos" como as palavras "autonomia" e "independência", defende o diplomata alemão Wolfgang Ischinger, representante da União Europeia na troika composta ainda por membros designados pela Rússia e pelos Estados Unidos. O diferendo entre a Sérvia e a sua província de maioria albanesa deve deixar de ser reduzido a tais etiquetas, sugere Ischinger em declarações ao diário britânico Independent, passando para uma via alternativa capaz de pôr a tónica na "supervisão internacional"."O rótulo autonomia não vale nada. Onde é que eles [os kosovares] vão encontrar receitas? Os kosovares teriam que continuar a contar com a ajuda estrangeira", afirmou. (in Público, 19 de Setembro de 2007)

Eis algo que vai mais ao encontro daquilo que me parece aceitável como solução para a questão do Kosovo: a não-solução. Optar pelas meias-tintas é genuinamente uma opção, e muitas vezes mais correcta, ponderada e prática do que rasgos de génio à macho alfa. Em notável contraste com as declarações do Dr. Kouchner, o diplomata W. Ischinger desloca a tónica da "solução a todo o custo, quer os afectados queiram quer não, e já!" para uma manutenção da situação para já e a procura de um modus vivendi possível, em outras circunstâncias internacionais, ou seja, daqui a uns anos.

Isto significa, para mim, a continuação da "supervisão internacional" no Kosovo e da indefinição do estatuto político do território. Ischinger prefere, com o meu modesto aplauso, que seja a comunidade internacional (leia-se a UE) a pagar o Kosovo, assumindo as responsabilidades políticas inerentes, do que continuar a pagar o Kosovo, sem ter forma prática de controlar política e militarmente o lugar. E aqui lembro-me da Faixa de Gaza, à qual se cortaram os fundos quando das eleições não saíram vencedores os menos maus. Que bem resultaram as sanções.

Caso isto fosse realmente para a frente e o ultimato de 10 de Dezembro fosse ao ar, como já deu a entender o Dr. Kouchner em Moscovo, depois de no Gymnich ter dito o inverso (surpresas...), não só a troika poderia continuar a trabalhar, como os únicos incomodados com isso seriam os kosovares.

Mas a quem esperou oito anos, acho eu, pode pedir-se que espere mais, até porque, por um lado, o governo tutelado pela UE ainda parece preferível, e, por outro, sempre se ganha mais tempo para se preparar para "eventualidades" caso se corte a corda ao Kosovo. Porque, se mesmo no jardim à beira-mar plantado se deve pensar em tudo, quanto mais no Kosovo.

Ah, e ao falar em «outras circunstâncias internacionais» eu estava a pensar nisto:

(...) Lors d'un séminaire organisé la semaine dernière par l'institut grec de relations internationales, Eliamep, un membre du monde académique russe a levé un coin du voile. Bien qu'il ne s'agisse pas d'une voix officielle, le marchandage évoqué éclaire les préoccupations du Kremlin. L'objectif de Moscou est de bloquer l'élargissement vers l'est de l'Alliance atlantique, notamment vers les pays de la Communauté des Etats indépendants, qui regroupe les anciennes républiques soviétiques ayant conservé des liens avec "le centre".
L'idée est la suivante : l'OTAN déclarerait un moratoire sur l'élargissement, considéré comme une politique dirigée contre la Russie. Il ne devrait donc y avoir ni nouveaux membres ni acceptation de nouveaux candidats lors du sommet de l'OTAN à Bucarest, en 2008. En contrepartie, la Russie prendrait l'engagement solennel d'aider à régler les "conflits gelés" (Transnistrie en Moldavie, Abkhazie et Ossétie du Sud en Géorgie) sur la base du respect de l'intégrité territoriale des Etats. En échange d'un renoncement occidental, la Russie s'engagerait donc à tenir des engagements... qu'elle a déjà souscrits.
L'esquisse de proposition ne s'arrête pas là. Il s'agirait aussi de "découpler" des autres conflits la question du Kosovo. Celle-ci pourrait être réglée, sous-entendu sur la base d'une forme d'indépendance, par une adhésion rapide de la Serbie à l'Union européenne et à l'OTAN. Est-ce en contradiction avec le refus russe de l'élargissement de l'OTAN ? Pas du tout, car ce ne serait plus la même OTAN. Réapparaît alors une vieille revendication de Moscou : la période du moratoire devrait être mise à profit pour réaliser un véritable rapprochement de la Russie et de l'OTAN.
(Daniel Vernet, Marchandage sur le Kosovo, in Le Monde, 19 de Setembro de 2007)

Seria mau negócio, digo eu. E temos de ver o que dizem os americanos de tudo isto.

Decida-se homem!!!!!

"Não quero que as pessoas digam que sou um espalha-brasas. A minha mensagem foi de paz e seriedade". O ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, 3 dias depois de declarar que nos devemos preparar para a guerra com o Irão.

Sr. Kouchner, gostava de saber se V.Exa. está aos controlos do Quay D'Orsay ou de um carrinho de choque?

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A ementa é a seguinte...



E este site é uma delícia: http://www.eurominority.org/

Regiões da Europa

Caríssimos co-consertistas e eventuais leitores deste blogue:

Tenciono começar hoje com uma série de remendos sobre a símbologia das "nações sem Estado" que abundam na nossa Europa e por esse mundo fora. Começo com uma dessas regiões/nações que me desperta uma simpatia muito particular: a Escócia.

Não vou dizer nada de novo sobre a terra do haggis e do tartan. Aquilo que me toca na Escócia é que o seu nacionalismo não se alicerça numa prosperidade recém-adquirida nem no lamuriar monocórdico de uma litania de gravames (esta última frase saiu-me bem) contra os ingleses. Estes argumentos, existem, com efeito, no discurso nacionalista escocês, mas não constituem o seu cerne, ao contrário de outros lugares, que a seu tempo serão (mal)tratados aqui. O "Proud Edward's army" foi o derrotado em Bannockburn, em 1314, por Robert de Bruce, depois Roberto I da Escócia.

A bandeira nacional escocesa é a bandeira de Santo André, e figura, como reconhecereis, no "fundo" da Union Jack; a bandeira imediatamente abaixo é o estandarte real da Escócia, e a sua utilização está restrita - sob pena de morte, por lei de 1679 - a S.M. a Rainha Isabel II, enquanto Rainha da Escócia, e aos seus legítimos representantes.






























Last, but not least (deve ser lido com sotaque escocês), o estandarte pessoal de Isabel II, rainha da Escócia (a não confundir com o estandarte real da Escócia, que não varia, ao contrário das armas pessoais dos monarcas):


As dúvidas dissiparam-se...

"Há uma alternativa à guerra: desarmar o Iraque através de inspecções. O recurso prematuro a uma opção militar estaria cheia de riscos". Dominique de Villepin, MNE francês a 14 de Fevereiro de 2003, no Conselho de Segurança da ONU.

"Não aceitaremos que esta bomba [do Irão] seja construída. Ela constitui um verdadeiro perigo para todos. O mundo deve preparar-se para o pior (...) que é a guerra". Bernard Kouchner, MNE francês a 16 de Setembro de 2007, numa entrevista ao programa Le Grand Jury da RTL/Le Figaro/LCI.

... a França é esquizofrénica!

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Je ne crois pas aux faucons, mais qu'il y en a, il y en a

faucons como este senhor, que piam grosso e espalham brasas. Normalmente voam lá no alto, bem no alto... O faucon pode ser avistado no seu vôo majestoso - e solitário - a Sul do Trópico de Câncer, abatendo-se, imparável, sobre a fauna autóctone. A Norte desta linha, porém, os avistamentos são raríssimos, ou mesmo inexistentes.

E há também falcões destes, que, à má fila e sem que saibamos da missa a metade, aplicam doses variáveis de força e de jeito para levar a sua avante sem que as probabilidades estejam muito a seu favor.

A diferença, parece-me, é que enquanto uns se comportam à altura das circunstâncias que criaram e que lhes são impostas (com diferentes graus de êxito), outros procuram desempoeirar glórias mortiças soprando muito, mas sempre vento.

E já agora, até que ponto um faucon não será um fauxcon, um variação de neocon? Algo em que pensar.

sábado, 15 de setembro de 2007

Qual a novidade?


Putin, numa só semana, demitiu o Governo, nomeou um novo Primeiro-Ministro (Zubkov), afirmou que ele será um dos cinco em condições de lhe suceder no lugar de Presidente e acabou concluindo, como Pedro Santana Lopes, que continuará por aí. Em suma, russian politics as usual.
Putin deve gostar mais da Rússia, enquanto conceito, do que provavelmente da sua própria Mãe. Uma sua recandidatura destruiría por completo a já mais que negativa imagem externa de Moscovo. Solução? Nomear um senhor desconhecido, com alguma idade, que não garanta grande concorrência em 2012 e que aceite sair sem grande protagonismo para um seu possível regresso. Até lá, quem sabe, um lugar como Presidente do Conselho de Segurança Nacional, que lhe garanta controlo sobre as mais importantes áreas do Estado (Defesa, Informações e Administração Interna), à imagem, portanto, do que acontece na China. Ouro sobre azul é o facto de Zubkov conhecer o passado de todos os oligarcas russos, mercê das suas anteriores funções, e, portanto, ter esse hipotético problema praticamente resolvido.
Em Março de 2008 veremos o que acontece.

sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Queimar pessoas, mesmo em efígie, é algo muito espanhol

Quem tiver reparado em alguns dos meus remendos anteriores (i.e., Sebastião, Niccolo e o Consertista-Sem-Nome), terá notado que me interessa a temática dos países que ou se desagregam por si sós ou que são desagregados por outros.
Ora sói apontar ao país vizinho (não é Marrocos, é o outro) que ele mesmo integra essa lista, a dos países em desagregação. Razões há muitas, algumas mergulham mesmo no Jardim do Éden - há uma região oprimida pelo centralismo-imperialista de Madrid (não é a Catalunha, é a outra) que diz que a sua língua é aquela em que a Eva perguntou a Adão se lhe apetecia uma maçã. Por sinal, e pela mesma lógica, é aquela a língua em que o Demónio pela primeira vez faz a sua entrada na História e desgraça o ser humano. Não é um juízo de valor, é só uma nota.
Eu acho que o estilhaçar da Espanha, por cair no solo fértil dos nossos traumas portugueses, anda como as acções do Benfica: sobrevalorizado. É um tema que merece mais desenvolvimento e reflexão, claro, mas julgo poder falar por uma maioria esmagadora de compatriotas quando digo que não podemos reprimir um sorrizinho ao pensar em acontecer algo de ruim a nuestros hermanos. Nada de grave, que somos gente de brandos costumes, mas que os aborreça.
Dito isto, esta juventude, ao manifestar-se assim, dá provas de um espanholismo a toda a prova, de fazer chorar de orgulho grandes próceres da história da Espanha una, grande e livre. Como aliás, não me surpreendeu ver, numa caricatura aqui (há já algum tempo), Els Paissos Catalans unos, grandes e livres, recortados em oposição a Espanya, uma avantesma que, por sinal, não tinha fronteira a Ocidente e que chegava até Peniche... É nestas coisinhas pequenas que mostramos quem somos.

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Heidi, Carla del Ponte, Alpes... A Suíça

Vale a pena ler... http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6992670.stm
E sem mais comentários...

Para conhecimento, o PM russo

Este cavalheiro é o burocrata que o Presidente Putin retirou da semi-obscuridade para baralhar, e bem!, este vosso consertista e, provavelmente, o mundo em geral.

Com as eleições legislativas agendadas para o próximo dia 2 de Dezembro, Zubkov PM vai ter pouco tempo de fazer algo mais que gerir tranquilamente os mananciais de hidrocarbonetos e quejandos, as bombas cataclísmicas, a aviação supersónica, as bandeiras titânicas, e, claro, executar fiel e diligentemente as ordens de Putin PR. Mas em boa verdade, não é isso que um PM russo, sob Putin, faz?

É que a alternativa é a ida para uma qualquer ilha ao largo da Eurásia, seja em classe executiva (Grã-Bretanha) seja em turística (um gulag qualquer em Nova Zembla, ou Kamtchatka, ou pior).

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Tarde e a más horas... (II)

Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé; se a dinâmica do investimento português na China não é das melhores, que tal surfar a onda do investimento chinês? Os senhores têm, para já, € 250.000.000.000 para investir:

http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0,36-953762,0.html

Que Máximos!

Alinhamento de planetas... o Euro e o preço do crude atingiram hoje os seus máximos históricos

http://www.negocios.pt/default.asp?Session=&SqlPage=Content_Economia&CpContentId=302240&ad_type=text&ref=http://news.google.pt/news?hl=pt-PT&um=1&ie=UTF-8&resnum=1&ct=title&q=pre%C3%A7o+do+euro&cc=302&ga_vid=551543124.1189618623&ga_sid=1189618623&ga_hid=568845047&ga_fc=true&flash=0&u_h=768&u_w=1024&u_ah=738&u_aw=1024&u_cd=32&u_tz=60&u_his=5&u_java=true

http://afp.google.com/article/ALeqM5gj4R4BTT6o_wDk1R4GGEqIxTSG-g

E a economia portuguesa estrebucha! Só falta vir o Jerónimo de Sousa fazer o discursito do "nababo" e do "ó Socrates faz alguma coisa" para eu desatar a rir!

O PM caiu, viva o Delfim?

O Governo russo acaba de ser dissolvido pelo Presidente Putin, carinhosamente conhecido chez soi como "Senhor de Toda a Terra, Água, Subsolo e Do Que Mais Haja na Rússia". Diz-se que a sua escolha de primeiro-ministro será a verdadeira designação - finalmente! - de um delfim comme il faut.*

Entretanto, na esteira das preocupações do Niccolo, e porque desconfio que a única coisa que os russos NÃO SUPORTAM é que nos riamos deles, deixo aqui este cartoon inspirador.
*muito francês, reconheço, sinal claro da universalidade do idioma e dos valores... da Valónia ou do Quebeque.

Oh! Really!?

Parece que o regresso de Nawaz Sharif ao Paquistão poderá gerar um pequeno caos político no país...

http://www.lemonde.fr/web/panorama/0,11-0@2-3216,32-954014@51-895309,0.html

...juntar a Sra. Bhuto e os Srs. fundamentalistas islâmicos e o Pervez começa a desejar nunca ter nascido...

França Sem Fronteiras

Por um lado, uma referência (não chego a chamar-lhe análise, mas o leitor julgará) à política externa francesa tal como a começa a conceber e pôr em prática Super Sarko, aqui:

http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3232,36-953727,0.html

E por outro, a conjugação daquilo que se tiver lido com estas declarações atribuídas ao MNE francês, durante o Conselho informal de Viana do Castelo:

"O problema é deles [sérvios e kosovares]! Têm de encontrar uma solução por sua própria conta, ou então encontraremos nós uma solução. O prazo de 10 de Dezembro não será prorrogado."

Uau, o senhor Kouchner fala grosso - encontraremos nós uma solução. Qual será a solução que este «nós» (não sei se a UE se a França) tem em mente e que se propõe impor às partes, no caso (caso...) elas não se entendam? E o que dizem os países associados da França - perdão, os Estados Membros da UE - sobre isto?

Já se corre para os abrigos em Belgrado? Lembra-me uma história em Abidjan, que, depois de documentada, relatarei.

Realpolitik

E não é que voltámos ao mesmo?

http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/6990815.stm

Isto é que vai uma animação hein!?

Shinzo Abe retira-se após um ano

Um ano após ter assumido a liderança dos destinos nipónicos, Shinzo Abe sai sem ter conseguido a tão desejada reforma constitucional e a revisão do estatuto das forças de defesa japonesas. É aliás devido à relutancia da Dieta em prolongar a missão das Forças de Defesa da Marinha no apoio logístico aos EUA no teatro de operações do Iraque que Abe se demite. Falta de condições políticas depois de o seu partido ter sofrido uma pesada derrota nas eleições para o Senado de 29 de Julho, enfraquecido por escândalos de fraude, demissões abruptas e desbaratamento do sistema de pensões.

http://www.asahi.com/english/Herald-asahi/TKY200709120178.html

Tarde e a más horas...

Muito francamente, gostaria de saber para que raio andamos a dizer (pelo menos eu já o digo desde 2002, com artigo publicado em 2005) para se investir na China para depois o tecido empresarial português ligar pouco ou nada ao assunto e deixar passar oportunidade atrás de oportunidade?
http://dn.sapo.pt/2007/09/12/economia/empresas_portuguesas_chegaram_tarde_.html

Depois admirem-se que são comidos pelos espanhóis, e que é preciso apoios do Estado e subsídios da UE... Mandriões!!!!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

O Plano Otto para a Bélgica


Divulga-se que a imprensa belga discute muito seriamente o final do seu país. Recorrendo ao exemplo histório dado por Checos e Eslovacos em 1993, le plat pays separar-se-ia sem dramas nem ressentimentos, numa cirurgia que não deixaria cicatrizes.
A Bélgica foi uma solução de compromisso, no rescaldo das guerras napoleónicas, para aquela região da Europa, materializando a dificuldade de convivência no reino dos Países Baixos entre Calvinistas do Norte e Católicos do Sul. Aliás, não foi à toa que tanto Vestefália quanto Utreque reconheceram e reiteraram a Holanda e a Bélgica avant la lettre, e que o efémero Reino Unido dos Países Baixos foi mesmo efémero (1815-1830). Diz-se que para não violar a neutralidade belga Napoleão III acabou cercado , com 90.000 homens, em Sedan; o Kaiser Guilherme II não teve as mesmas peias e viu-se em guerra com a Grã-Bretanha.
Em tempos os francófonos foram maiores, mais fortes e mais ricos; com o fim das siderurgias e demais indústria pesada nas décadas de 60 a 80 a vantagem passou para os Flamengos, que têm gradual mas insistentemente pressionado o governo central para obter resultados cada vez mais confederais. Agora, com o drama/escândalo da impossibilidade de Yves Leterme formar governo, a Bélgica, dizem uns, está à beira do colapso.

Ora a Bélgica não é um país daqueles que se imaginem desfeitos, ou avassalados por terríveis perturbações que desemboquem em guerra civil. Daí que estar a traçar riscos e fronteiras sobre a Bélgica seja um exercício particularmente interessante de geopolítica recreativa. A Flandres quer mesmo tornar-se independente; a Valónia não costuma representar-se a si mesma como país independente, e o Le Figaro já adiantou que talvez pudesse ser admitida como parte integrante da França; Bruxelas, capital da Flandres mas com uma grande percentagem de habitantes francófonos, podia tornar-se uma Europa DC (Distrito Comunitário). O The Economist segue esta linha.

Ninguém fala do Plano Otto para a Bélgica (POB). Eu compreendo, o Plano Ahtisaari vai muito à frente em notoriedade mediática, embora deva estar mais ou menos no mesmo pé de exequibilidade. Não é por ter sido eu a esculpi-lo, mas gosto do POB:

1 - A Flandres seria independente, já que não há volta a dar aos flamengos. A Flandres tem dinheiro e 6 milhões de habitantes, é sensivelmente do tamanho do Baixo Alentejo, acho que até vão dar-se bem;
2 - Quanto à Valónia, mais pobre e com poucas hipóteses de ser anexada pela França (4 milhões de habitantes e 15% de desemprego) proponho uma solução integrada com o... Luxemburgo. Passo a explicar:

A Valónia e o Luxemburgo unir-se-iam sob a casa grão-ducal deste último e com outras duas entidades de sabor muito medieval como (i) o Arcebispado de Liège (que foi um Estado semi-independente até 1801) e com (ii) o Ducado do Brabante-Hainaut, uma possessão dos Duques de Borgonha, onde reinariam o actual Rei dos Belgas e seus descendentes. Estes três Estados - e um deles eclesiástico! - formariam uma confederação à malaia, e o Grão-Duque do Luxemburgo teria um outro título, a definir.

Vejo vantagens óbvias nesta solução: é menos um país na UE (a Flandres entraria e a Malásia Europeia substituiria o Luxemburgo); o Luxemburgo teria tamanho de gente, e melhor ainda: com mais espaço para portugueses. Eu acho isto importante, não sei se mais alguém acha.

Caso tudo isto fracassasse (e não sei porque fracassaria), uma vez que não ficámos com Timor como Região Autónoma, podíamos acolher a Valónia. A Valónia tem montes de coisas boas, fora os 15% de desemprego: tem as Festas de Namur, as Ardenas, a maior elevação da Bélgica (500m de altitude) e as gauffres de Liège, que são infinitamente melhores que as de Bruxelas. Os chocolates ficariam do outro lado, receio bem.

Português! Em qual destes yankees votarias tu?

Para quem gosta de se imaginar norte-americano, nem que seja por uns momentos (e durante qualquer exibição do Top Gun), aqui vai o modo mais fiável e cientificamente rigoroso de saber em quem votaríamos.Eu estou 80% de acordo com o... Dennis Kucinich. Com certeza o candidato mais justamente ridicularizado de sempre, em franca concorrência com o Presidente Bush.

Ainda estou abalado. Tenho de telefonar ao meu terapeuta.

http://www.vajoe.com/candidate_calculator.html

Em Novembro de 2008, vamos ter saudades... (Ref: remendo do Sebastião)

http://www.youtube.com/watch?v=HLuAfaGZyZU

A propósito do Kosovo (II) (Ref: remendo do Sebastião)

A perspectiva do Otto, a que não abano a cabeça, mas com a qual não concordo, fez-me recordar as palavras do MNE português no final da reunião informal de Viana do Castelo. Disse Luís Amado que a unidade da UE estava assegurada na questão do Kosovo. Não duvido que neste momento assim seja, mas desconfio que, caso a situação se precipite, seja na direcção de uma declaração unilateral de independência, seja no sentido de uma intervenção sérvia no terreno (vale a pena, a este propósito, ver os artigos de polaridade inversa publicados sexta-feira no FT e no IHT), a unidade agora proclamada se mantenha. Não acredito que o voluntarismo alemão do início da década de 1990 se repita, mas não me espantaria que a UE passasse por mais uma experiência traumática no plano externo. E, ainda por cima, em plena Presidência Portuguesa (recorde-se que o tão falado prazo - ou ultimato, conforme as leituras - de 120 dias termina a 10 de Dezembro).

A propósito do Kosovo

O Kosovo é uma das minhas causes célébres: algo que sigo com atenção e onde costumo intervir só para ser portentosamente rebatido por um coro de vaias e de acenos de cabeça em reprovação. A perspectiva que eu adopto para a questão do Kosovo está derrotada à partida, acho eu, mas isso dá-lhe alguma graça; é um caso em que o senso comum me parece estar mesmo a pedir para ser desafiado, que hei-de eu fazer?

A Sérvia ameaça usar a força caso o Kosovo proclame unilateralmente a independência, mesmo que algum país a reconheça. Eu digo, à boca pequena, que não consigo censurá-los muito. Só se fizerem o gosto ao gatilho e cometerem as atrocidades que já se esperam. Entretanto, e antes disso, não.

http://www.iht.com/articles/2007/09/05/america/serbia.php

Capital de simpatia (Ref: remendo do Niccolo)

Portugal detém um capital de simpatia que no meio diplomático vale tanto como os vouchers de desconto da BP, ou do Continente. Desta feita é a Líbia que emitiu um "Voucher Simpatia" ao nosso país, reclamando do atraso nacional na corrida aos mega-investimentos relacionados com a renovação e reforma (supra e infra-estrutural) desta simpática nação mediterrânica. Leia-se http://www.diariodigital.pt/news.asp?section_id=12&id_news=293695 e rasgue-se um sorriso de satisfação, quanto mais não seja pela nota de apreço pelo esforço diplomático que Portugal tem desenvolvido para que a Cimeira UE-Africa seja bem sucedida (qb).

Foi há 6 anos... (III)

Tinha regressado da praia para almoçar e o meu avô estava colado ao televisor a ver a SICNotícias, e dizia "Houve um acidente em Nova Iorque, um avião chocou contra um arranha céus em Nova Iorque". Depois de ver as imagens e perceber que eram as Torres Gémeas, rapidamente me apercebi que não era acidente pois aviões comerciais não passam ali. O que batera nas torres voava bem longe da rota. Pouco depois as minhas suspeitas confirmaram-se, quando a segunda aeronave choca com a outra torre, em directo. Incrédulo, só pensava nas vidas humanas perdidas em segundos e no espectáculo dantesco que assistia, ao vivo e a cores. As informações sucediam-se a um ritmo alucinante e o anúncio do ataque ao Pentágono fazia parecer que estavamos perante um ataque total aos Estados Unidos. Um dos maiores atentados terroristas da História, e vi-o em directo...

Nunca esquecerei o que senti naquele dia em que a história acelerou de uma forma impressionante e o pós-guerra-fria tinha terminado.

Foi há 6 anos... (II)

Há seis anos passei o dia encerrado a tentar perceber minudências de uma questão abstronça, graças a uma das milhentas melhorias de nota que constituíram, elas sim, o meu curso. Vieram incomodar-me, por volta da uma da tarde, com uma história completamente absurda acerca de aviões e torres e a Casa Branca. Lembro-me de ter dito, ipsis verbis, com o cepticismo à flor da pele, que aquele dia não era 1 de Abril, e de pensar que tinha sido o alvo de uma graçola dos colegas. Pura e simplesmente não acreditei, nem pensei mais nisso.
Fui almoçar pelas quatro da tarde e só aí percebi que estava toda a gente a falar da mesma coisa, e que se respirava uma tensão que até hoje não tornei a sentir. Voltei a casa, onde tinha a família reunida e consternada em torno da televisão.
Ainda hoje só consigo comparar a minha reacção à daqueles homens e mulheres de um ponto afastado do Império quando lhes disseram que os Bárbaros tinham saqueado Roma. É algo que simplesmente não acontece, que não encaixa na nossa imagem do mundo.
Talvez tenhamos vivido o dia em que começou uma nova era - a Era do Inconcebível.

Foi há 6 anos...