Divulga-se que a imprensa belga discute muito seriamente o final do seu país. Recorrendo ao exemplo histório dado por Checos e Eslovacos em 1993, le plat pays separar-se-ia sem dramas nem ressentimentos, numa cirurgia que não deixaria cicatrizes.
A Bélgica foi uma solução de compromisso, no rescaldo das guerras napoleónicas, para aquela região da Europa, materializando a dificuldade de convivência no reino dos Países Baixos entre Calvinistas do Norte e Católicos do Sul. Aliás, não foi à toa que tanto Vestefália quanto Utreque reconheceram e reiteraram a Holanda e a Bélgica avant la lettre, e que o efémero Reino Unido dos Países Baixos foi mesmo efémero (1815-1830). Diz-se que para não violar a neutralidade belga Napoleão III acabou cercado , com 90.000 homens, em Sedan; o Kaiser Guilherme II não teve as mesmas peias e viu-se em guerra com a Grã-Bretanha.
Em tempos os francófonos foram maiores, mais fortes e mais ricos; com o fim das siderurgias e demais indústria pesada nas décadas de 60 a 80 a vantagem passou para os Flamengos, que têm gradual mas insistentemente pressionado o governo central para obter resultados cada vez mais confederais. Agora, com o drama/escândalo da impossibilidade de Yves Leterme formar governo, a Bélgica, dizem uns, está à beira do colapso.
Ora a Bélgica não é um país daqueles que se imaginem desfeitos, ou avassalados por terríveis perturbações que desemboquem em guerra civil. Daí que estar a traçar riscos e fronteiras sobre a Bélgica seja um exercício particularmente interessante de geopolítica recreativa. A Flandres quer mesmo tornar-se independente; a Valónia não costuma representar-se a si mesma como país independente, e o Le Figaro já adiantou que talvez pudesse ser admitida como parte integrante da França; Bruxelas, capital da Flandres mas com uma grande percentagem de habitantes francófonos, podia tornar-se uma Europa DC (Distrito Comunitário). O The Economist segue esta linha.
Ninguém fala do Plano Otto para a Bélgica (POB). Eu compreendo, o Plano Ahtisaari vai muito à frente em notoriedade mediática, embora deva estar mais ou menos no mesmo pé de exequibilidade. Não é por ter sido eu a esculpi-lo, mas gosto do POB:
1 - A Flandres seria independente, já que não há volta a dar aos flamengos. A Flandres tem dinheiro e 6 milhões de habitantes, é sensivelmente do tamanho do Baixo Alentejo, acho que até vão dar-se bem;
2 - Quanto à Valónia, mais pobre e com poucas hipóteses de ser anexada pela França (4 milhões de habitantes e 15% de desemprego) proponho uma solução integrada com o... Luxemburgo. Passo a explicar:
A Valónia e o Luxemburgo unir-se-iam sob a casa grão-ducal deste último e com outras duas entidades de sabor muito medieval como (i) o Arcebispado de Liège (que foi um Estado semi-independente até 1801) e com (ii) o Ducado do Brabante-Hainaut, uma possessão dos Duques de Borgonha, onde reinariam o actual Rei dos Belgas e seus descendentes. Estes três Estados - e um deles eclesiástico! - formariam uma confederação à malaia, e o Grão-Duque do Luxemburgo teria um outro título, a definir.
Vejo vantagens óbvias nesta solução: é menos um país na UE (a Flandres entraria e a Malásia Europeia substituiria o Luxemburgo); o Luxemburgo teria tamanho de gente, e melhor ainda: com mais espaço para portugueses. Eu acho isto importante, não sei se mais alguém acha.
Caso tudo isto fracassasse (e não sei porque fracassaria), uma vez que não ficámos com Timor como Região Autónoma, podíamos acolher a Valónia. A Valónia tem montes de coisas boas, fora os 15% de desemprego: tem as Festas de Namur, as Ardenas, a maior elevação da Bélgica (500m de altitude) e as gauffres de Liège, que são infinitamente melhores que as de Bruxelas. Os chocolates ficariam do outro lado, receio bem.
Ora a Bélgica não é um país daqueles que se imaginem desfeitos, ou avassalados por terríveis perturbações que desemboquem em guerra civil. Daí que estar a traçar riscos e fronteiras sobre a Bélgica seja um exercício particularmente interessante de geopolítica recreativa. A Flandres quer mesmo tornar-se independente; a Valónia não costuma representar-se a si mesma como país independente, e o Le Figaro já adiantou que talvez pudesse ser admitida como parte integrante da França; Bruxelas, capital da Flandres mas com uma grande percentagem de habitantes francófonos, podia tornar-se uma Europa DC (Distrito Comunitário). O The Economist segue esta linha.
Ninguém fala do Plano Otto para a Bélgica (POB). Eu compreendo, o Plano Ahtisaari vai muito à frente em notoriedade mediática, embora deva estar mais ou menos no mesmo pé de exequibilidade. Não é por ter sido eu a esculpi-lo, mas gosto do POB:
1 - A Flandres seria independente, já que não há volta a dar aos flamengos. A Flandres tem dinheiro e 6 milhões de habitantes, é sensivelmente do tamanho do Baixo Alentejo, acho que até vão dar-se bem;
2 - Quanto à Valónia, mais pobre e com poucas hipóteses de ser anexada pela França (4 milhões de habitantes e 15% de desemprego) proponho uma solução integrada com o... Luxemburgo. Passo a explicar:
A Valónia e o Luxemburgo unir-se-iam sob a casa grão-ducal deste último e com outras duas entidades de sabor muito medieval como (i) o Arcebispado de Liège (que foi um Estado semi-independente até 1801) e com (ii) o Ducado do Brabante-Hainaut, uma possessão dos Duques de Borgonha, onde reinariam o actual Rei dos Belgas e seus descendentes. Estes três Estados - e um deles eclesiástico! - formariam uma confederação à malaia, e o Grão-Duque do Luxemburgo teria um outro título, a definir.
Vejo vantagens óbvias nesta solução: é menos um país na UE (a Flandres entraria e a Malásia Europeia substituiria o Luxemburgo); o Luxemburgo teria tamanho de gente, e melhor ainda: com mais espaço para portugueses. Eu acho isto importante, não sei se mais alguém acha.
Caso tudo isto fracassasse (e não sei porque fracassaria), uma vez que não ficámos com Timor como Região Autónoma, podíamos acolher a Valónia. A Valónia tem montes de coisas boas, fora os 15% de desemprego: tem as Festas de Namur, as Ardenas, a maior elevação da Bélgica (500m de altitude) e as gauffres de Liège, que são infinitamente melhores que as de Bruxelas. Os chocolates ficariam do outro lado, receio bem.
5 comentários:
Muito bom Otto!Grande Plano!Só há ali um pormenor que não focaste e que me faz lembrar a Eritreia e a Etiópia - a velha história da saída para o Mar
... mas o que fazer quando os flamengos, qual caranguejo, dominam a ida a banhos dos valões?!?!
Parabéns e longa vida a este blog!!!
Uma observação pertinente, Henrique... algo que merece atenção. O facto de o aeroporto que a Ryanair utiliza ser o de Charleroi, no Ducado do Brabante-Hainaut, é fundamental para uma análise cuidada da questão. E aquelas praias... francamente. Nunca tinha visto água do mar ser castanha, mas em Knokke vi.
Obrigado por ser o nosso primeiro comentador!
Como cidadão Luso Belga (Flamengo pois claro), fartei-me de rir com a solução do Otto.
Mas agora a sério, para a Flandres, Independência JÁ!
Ah, esqueci-me de dizer, mudei o nome do meu blog de A Embaixada para o meu próprio nome Miguel Lomelino, e o url é o seguinte: http://miguellomelino.blogspot.com
Agradecia que actualizassem o link no vosso blog.
Um abraço e Boas Festas.
Por que nao:)
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