A discussão sobre o estatuto do Kosovo deve passar pela abdicação de "rótulos" como as palavras "autonomia" e "independência", defende o diplomata alemão Wolfgang Ischinger, representante da União Europeia na troika composta ainda por membros designados pela Rússia e pelos Estados Unidos. O diferendo entre a Sérvia e a sua província de maioria albanesa deve deixar de ser reduzido a tais etiquetas, sugere Ischinger em declarações ao diário britânico Independent, passando para uma via alternativa capaz de pôr a tónica na "supervisão internacional"."O rótulo autonomia não vale nada. Onde é que eles [os kosovares] vão encontrar receitas? Os kosovares teriam que continuar a contar com a ajuda estrangeira", afirmou. (in Público, 19 de Setembro de 2007)
Eis algo que vai mais ao encontro daquilo que me parece aceitável como solução para a questão do Kosovo: a não-solução. Optar pelas meias-tintas é genuinamente uma opção, e muitas vezes mais correcta, ponderada e prática do que rasgos de génio à macho alfa. Em notável contraste com as declarações do Dr. Kouchner, o diplomata W. Ischinger desloca a tónica da "solução a todo o custo, quer os afectados queiram quer não, e já!" para uma manutenção da situação para já e a procura de um modus vivendi possível, em outras circunstâncias internacionais, ou seja, daqui a uns anos.
Isto significa, para mim, a continuação da "supervisão internacional" no Kosovo e da indefinição do estatuto político do território. Ischinger prefere, com o meu modesto aplauso, que seja a comunidade internacional (leia-se a UE) a pagar o Kosovo, assumindo as responsabilidades políticas inerentes, do que continuar a pagar o Kosovo, sem ter forma prática de controlar política e militarmente o lugar. E aqui lembro-me da Faixa de Gaza, à qual se cortaram os fundos quando das eleições não saíram vencedores os menos maus. Que bem resultaram as sanções.
Caso isto fosse realmente para a frente e o ultimato de 10 de Dezembro fosse ao ar, como já deu a entender o Dr. Kouchner em Moscovo, depois de no Gymnich ter dito o inverso (surpresas...), não só a troika poderia continuar a trabalhar, como os únicos incomodados com isso seriam os kosovares.
Mas a quem esperou oito anos, acho eu, pode pedir-se que espere mais, até porque, por um lado, o governo tutelado pela UE ainda parece preferível, e, por outro, sempre se ganha mais tempo para se preparar para "eventualidades" caso se corte a corda ao Kosovo. Porque, se mesmo no jardim à beira-mar plantado se deve pensar em tudo, quanto mais no Kosovo.
Ah, e ao falar em «outras circunstâncias internacionais» eu estava a pensar nisto:
(...) Lors d'un séminaire organisé la semaine dernière par l'institut grec de relations internationales, Eliamep, un membre du monde académique russe a levé un coin du voile. Bien qu'il ne s'agisse pas d'une voix officielle, le marchandage évoqué éclaire les préoccupations du Kremlin. L'objectif de Moscou est de bloquer l'élargissement vers l'est de l'Alliance atlantique, notamment vers les pays de la Communauté des Etats indépendants, qui regroupe les anciennes républiques soviétiques ayant conservé des liens avec "le centre".
L'idée est la suivante : l'OTAN déclarerait un moratoire sur l'élargissement, considéré comme une politique dirigée contre la Russie. Il ne devrait donc y avoir ni nouveaux membres ni acceptation de nouveaux candidats lors du sommet de l'OTAN à Bucarest, en 2008. En contrepartie, la Russie prendrait l'engagement solennel d'aider à régler les "conflits gelés" (Transnistrie en Moldavie, Abkhazie et Ossétie du Sud en Géorgie) sur la base du respect de l'intégrité territoriale des Etats. En échange d'un renoncement occidental, la Russie s'engagerait donc à tenir des engagements... qu'elle a déjà souscrits.
L'esquisse de proposition ne s'arrête pas là. Il s'agirait aussi de "découpler" des autres conflits la question du Kosovo. Celle-ci pourrait être réglée, sous-entendu sur la base d'une forme d'indépendance, par une adhésion rapide de la Serbie à l'Union européenne et à l'OTAN. Est-ce en contradiction avec le refus russe de l'élargissement de l'OTAN ? Pas du tout, car ce ne serait plus la même OTAN. Réapparaît alors une vieille revendication de Moscou : la période du moratoire devrait être mise à profit pour réaliser un véritable rapprochement de la Russie et de l'OTAN. (Daniel Vernet, Marchandage sur le Kosovo, in Le Monde, 19 de Setembro de 2007)
Seria mau negócio, digo eu. E temos de ver o que dizem os americanos de tudo isto.
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2 comentários:
Já sabes o que diz o Kustunica sobre o assunto Kosovo? considero de uma perigosidade extrema decidir a excisão do Kosovo... sou a favor de que a UE e os EUA deviam deixar cair esta e tentar estatutos de autonomia ou soluçoes do género... se formos teimosos, arriscamos um agravamento nas relações com a Russia, já para não falar nos antagonismos que iriamos gerar com tal decisão irreflectida...
O único problema de tudo isto é que pouco ou nada nos garante que a independência do Kosovo seja a garantia da paz na região - as tropelias do UÇK desde 1999 demonstram que o facto de se ser vítima de limpeza étnica não é um atestado de bons costumes.
Se os kosovares decidirem que o lugar dos sérvios é na Sérvia, ou no Além, quem vai bombardear o Kosovo? O Dr. Kouchner?
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