As manifestações dos monges birmaneses são, aos meus olhos, um exemplo admirável de coragem perante um poder desproporcionado; não sei se estão votados ao fracasso (e, por conseguinte, à morte, ao desaparecimento, à tortura), mas o passado parece indicar tal desfecho - a repressão começa, a ditadura mostra-se sólida e tanto Índia quanto China parecem preferir manter a Birmânia como terra de ninguém entre uma e outra (discordo parcialmente do texto do link).
A bem da coerência com o meu remendo sobre o Dalai Lama, acho que há diferenças nítidas entre uns e outros. Acho que é possível ser céptico quanto à inocência política da vinda de um líder político e religioso ao país que detém a presidência da UE e, pouco tempo depois, expressar admiração por um movimento que tudo indica merecer grande apoio popular e que pretende, ao que se sabe, democratizar o seu próprio país, para mais levado a cabo por elementos tradicionalmente apolíticos e respeitados no país como a sua reserva moral. Quanto a debater a questão «Dalai Lama», já me prometeram discordância aqui no blogue - fico à espera para prosseguir.
O movimento despoletado pelos monges birmaneses pode resultar na queda da ditadura ou num banho de sangue, discreto ou não. Pode até continuar tudo como dantes e em breve tudo isto estar esquecido. Já aconteceu em 1998, houve 3.000 mortos e desaparecidos, nada mudou.
Quem sabe desta vez. Ter as mãos sujas do sangue, não só do seu povo mas também dos seus símbolos, costuma ser o sinal do fracasso de quem governa pelo ferro. A incerteza e o desespero da sua situação só acrescenta à coragem que estes homens, e todos os civis que os apoiam, demonstram. Não sei que apoio prático é possível prestar aos manifestantes, mas seria uma bela altura de fazer algo de bom por este mundo.
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