segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

EUA, Rússia e Jogo de Soma Zero

Em Política Internacional, o Jogo de Soma Zero é tipicamente exemplificado pelo presente estado em que se encontram as relações bilaterais EUA-Rússia, pelo menos no que diz respeito à pretensão da Administração republicana em montar um sistema anti-míssil na Europa (Polónia e Rep. Checa).

Se em momentos anteriores, a Rússia abriu a porta para uma solução mediada, actualmente a questão chegou a um ponto tal em que, se os EUA insistirem em colocar elementos do Escudo em território polaco e checo, Moscovo insistirá na sua 'neutralização'.

Parece então ser muito simples a análise desta situação. Os ganhos dos EUA são proporcionais às perdas russas e vice-versa... ou será que não?

Para os entusiastas das Relações Internacionais, em especial os que acompanham as relações EUA-Rússia, do actual momento de tensão poderá resultar:


a) Roll back norte-americano;

b) Roll back russo;

c) EUA comunicam avarias no sistema que levam à suspensão do programa;

d)EUA avançam com a instalação do sistema e desafiam o Kremlin a responder;


Num clássico exercício de 'tarologia':

a) improvável, os EUA não recuam;

b) improvável, a Rússia não recua;

c) Muito provável saída airosa. Não é encarada ao nível político como uma derrota, adia qualquer decisão sobre esta matéria para o futuro. Não é dificil de vender esta saída pois ao longo dos anos foram várias as falhas deste tipo (por exemplo, esta), sendo altamente duvidoso que alguma vez seja possível atingir uma fiabilidade do sistema na ordem dos 100%.

d) improvável, seria muito 'dificil de vender' e de colocar em marcha. Para isso o sistema teria de estar numa fase de desenvolvimento muito mais avançada.


Avaliando o momento actual e comparando-o com outros momentos igualmente clássicos:

I. Crise dos mísseis de Cuba - Jogo de Soma Zero, vitoria dos EUA nos media (de influência ocidental e muito politizado durante o período da Guerra-fria), empate técnico no campo das RI's.

II. Crise dos Euromísseis - Jogo de Soma Zero, novo empate técnico.

III. Crise da 'Guerra das Estrelas' - os EUA saem vitoriosos, não por mérito próprio da sua política externa, mas porque a falência do sistema político/económico soviético ditou a queda do regime. Como tal, não houve empate técnico, os EUA ganharam o jogo de Soma Zero, de tal forma que demorou à Rússia 10 anos até voltarem a estar de novo na ribalta do xadrêz internacional.

Será este o momento clássico IV? Se assim fôr, estamos perante a hipotese de assistirmos finalmente a... novo empate técnico.
Independentemente deste nosso exercício de 'tarologia', certo é que com estas declarações, a Rússia jogará sempre a jogada de fracturação da Europa, contando com as ansiedades alemãs, com a impetuosidade francesa, a neutralidade ibérica, a agressividade britânica, o atlantismo das ex-républicas soviéticas (agora sob alçada da PESC e PEV, respectivamente), as cautelas nórdicas e a sempre colorida prestação italiana (talvez uma t-shirt como na 'crise' dos cartoons de Maomé).

E o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU)? Qualquer que venha a ser a sua reacção, será sempre analisada como um fracasso do sistema dominado por Washington (pelo menos aos olhos dos reformistas adeptos da entrada de mais membros permanentes). Sobre isto, gostaria de ouvir o que dizem as autoridades de Brasília e Nova Deli sobre o assunto. Afinal de contas, devem ter uma opinião a dar, como candidatos a um lugar permanente no CSNU...

E a NATO? Limitar-se-á a reagir em conformidade com o seu novo conceito estratégico e defenderá a instalação do sistema à luz da Guerra contra o Terror e da acção preemptiva contra a ameaça iraniana.

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