domingo, 9 de dezembro de 2007

A tríade está completa


No início da sua Presidência da UE, Portugal assumiu três objectivos principais: 1) concretizar uma parceria estratégica com o Brasil, à imagem das que tinha iniciado, em 2000, com a Índia e com África; 2) conseguir um Acordo sobre um novo Tratado; 3) realizar uma demasiado adiada Cimeira com a União Africana. Foram todos atingidos. Contrariamente ao que os cépticos e os tradicionais Velhos do Restelo poderão dizer, não são vitórias pequenas.

A parceria com o Brasil podia ser tida, inicialmente, como uma questão relativamente pacífica. A importância do Brasil na cena internacional é cada vez mais relevante e a necessidade de o reconhecer como parceiro estratégico da UE (em pé de igualdade com a Rússia, os EUA, a China e a Índia) poderia parecer como evidente. Se o fosse, certamente, já outros os teriam tentado. Por vezes as evidências são tão evidentes que ninguém se lembra delas. Por outro lado, Espanha, por exemplo, teria se calhar preferido incluir nessa parceria estratégica a América do Sul (ou Latina, como alguns preferem).

Sobre o Tratado de Lisboa já escrevi e penso que ninguém põe em causa que, apesar de ter sido a Alemanha (e a Chanceler Merkel, porque nestas coisas as pessoas contam e muito) a dar início ao processo, foi Portugal que o concluiu. É meritório. Apesar de algumas dúvidas que persistem sobre a sua aplicação prática, o acordo sobre o Tratado teve pelo menos o mérito de fazer a Europa abandonar uma crise de confiança que já durava há tempo demais.

Sobre a Cimeira com a UA, aí ninguém pode pôr em causa que foi Portugal que, contra ventos e marés, desenhou o plano, o executou e o conseguiu levar a bom porto. Não foi fácil. Da resistência do Reino Unido, passando pela complicada questão dos convites até aos temas a discutir e aos documentos a assinar, o mérito é de Lisboa. Como já referi anteriormente, penso que o diálogo serve melhor os interesses dos países do que a ostracização, que, não só nada resolve, como acarreta o risco de apenas se exacerbarem e aumentarem ainda mais fossos, tensões e posições. Ontem e hoje muito líderes africanos ouviram o que dificilmente ouviriam nos seus países sobre Direitos Humanos, Democracia e Boa Governação. Os governantes europeus, por seu turno, ter-se-ão apercebido que os tão propalados Acordos de Parceria Económica não são uma receita económica assim tão milagrosa e evidente para os países africanos. Sem Cimeira, duvido que algum dos dois debates acontecesse com tanta clareza e visibilidade pública. Valeu, portanto, e quanto mais não seja, por isso.

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