Hoje quero falar do Acordo Ortográfico, aquele sobre o qual corre muita tinta desde há anos e anos para cá. Acordos ortográficos parece que houve muitos, essencialmente entre Portugal e o Brasil, uma vez que nos países africanos a grafia seguida é, essencialmente, a portuguesa.
O acordo ortográfico, este último de que se fala, levanta, como de costume, celeuma em Portugal, e aqui deixo o último artigo sobre o assunto. No Brasil, suponho que não, pelo motivo de que o Brasil tem mais com que se preocupar e porque é o principal beneficiado em deixar correr o marfim. Em Portugal não gostamos (fora quem quer que tenha negociado o dito) sequer que se fale em acordo ortográfico. E porquê? Porque não queremos passar a escrever como se escreve no Brasil. Não queremos mudar a ortografia de 8% das nossas palavras, não queremos escrever "ator". Só por isso.
A coisa seria menos grave se não representasse, ainda por cima, um prejuízo grave para as editoras portuguesas que teriam de reimprimir os livros destinados a todo o Mundo Lusófono (desculpem, não resisti) para se adequarem ao Acordo, enquanto as editoras brasileiras não. Sabe a esforço desproporcionado e, ainda por cima, inglório. Mais vale não fazer, a sério.
Consola-me a sensação de que, como em todos os anteriores, este acordo vai ser letra morta. Vai valer menos que as folhinhas de papel em que está escrito e garatujado no final. Porque é daquelas leis sem eficácia social. Pode ser aprovada, referendada, promulgada e publicada em todos os trâmites e mais algum. Mas os destinatários não a querem aplicar. Maçada...
E tudo isto é escrito, para mais, com a perfeita noção de que a promoção da Lusofonia é e deve continuar a ser uma das primeiras directrizes da política externa portuguesa; que a nossa luta para fazer do português uma das línguas de trabalho da ONU, e que esse português será certamente o do Brasil, é justa e terá resultados; que é graças ao Brasil que o português é uma das línguas mais faladas no Mundo; que tudo se deve fazer para reforçar o estatuto do português como língua quotidiana e de cultura na América do Sul, na África e, com maior custo, já se sabe, na Europa e na Ásia.
A minha única achega a tudo isto é que empobrecer a Língua, harmonizando-a artificialmente, contra a prática e contra o sentimento de tantos, não contribui para estes objectivos.
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