O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, afirmou numa entrevista que manteve com Roger Cohen, do International Herald Tribune, que os Estados Unidos da América 'perderam a magia' e que o sucessor de George W. Bush dificilmente a conseguirá recuperar. Depois de o afirmar, Kouchner acrescentou que os EUA mantêm o poder militar mas que a imagem externa do país demorará a ser restabelecida.
Este activista da esquerda socialista francesa, Ministro de um governo de centro-direita (onde é que eu já vi isto...?) considera que existe um novo mundo e uma nova diplomacia, mas que o exercício desta 'nova' diplomacia "is very difficult, very time consuming".
Aqui está a razão pela qual é imperativo que qualquer responsável político (e político responsável) que exerça o cargo de MNE, deve ter uma consciencia temporal apurada e uma visão holistica da História. Este senhor, cheio de si (afinal trata-se de um dos fundadores dos Médicos sem Fronteiras) vai dizendo uma barbaridades de quando em vez para arrepio dos mais atentos. Senão vejamos:
- Para um bom analista, expressões como 'a magia acabou' soam a determinismo bacoco. As Relações Internacionais não se fazem de 'magias', fazem-se de trocas comerciais, acordos políticos e diplomáticos, de cooperação internacional a diversos níveis, de relações inter-estaduais e com ONG's, relações bilaterais e multilaterais, onde a personalidade dos líderes políticos assume alguma importância no processo, mas não toda. A política externa norte-americana tem mais de dois 230 anos e não são os 8 anos de actuação da Administração Bush que lhe tiram a 'magia'. Ser superpotência constitui por si só "a kind of Magic" que não se perde sem mais nem menos.
- Para um bom analista, expressões como 'estamos perante um novo mundo' soam a determinismo bacoco. O mundo é o mesmo e o 'homo homini lupus' mantém a mesma actualidade (apenas a 'tecnologia' empregue é nova). Compreendo a afirmação, mas apenas se não considerar os séculos de história mundial que moldaram a actualidade.
- Para um bom analista, expressões como 'nova diplomacia' soam a determinismo bacoco. A Diplomacia não é nova, é velha como a história. Com a evolução das sociedades e dos mecanismos inter-relacionais entretanto criados, a Diplomacia passou a ser exercida em dois métodos: o multilateral (as Nações Unidas são o maior exemplo) e a diplomacia aberta (aquela praticada por Chefes de Estado e de Governo em Cimeiras como as do G8 ou nos Conselhos Europeus). Não acho que se trate de uma 'nova' Diplomacia, para mim é a mesma mas com novos atributos e áreas de intervenção.
Novo Sr. Kouchner, nada, até porque a Diplomacia tem horror a novidades e a surpresas. Compreendo que seja por vezes exasperante e "very time consuming", mas o exercício da Diplomacia está reservado aos mais pacientes, aos mais preserverantes, àqueles que têm uma comprensão do tempo muito diferente do conceito de imediatismo dos nossos dias. Para alguns Estados como Portugal, que já andam nestas andanças da Diplomacia há algum tempo, são séculos de relações diplomáticas que estão em causa e que é preciso considerar e saber manter. It's a kind of Magic!
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