A homenageada de hoje é a Catalunha, ou melhor, os «Paisos Catalans», um pot pourri que amalgama as comunidades autónomas da Catalunha, Valência, Baleares, uns pozinhos de Aragão e o departamento dos Pirénées-Orientales (vulgo Rossilhão, em França). Se as regiões mencionadas a seguir à Catalunha estão muito interessadas nos PC, isso é outra conversa.
O nacionalismo catalão é um daqueles que, não sendo puramente lírico e épico como o escocês (veja-se o primeiro post desta série, de 18 de Setembro de 2007), não é puramente onzeneiro e mercantil como o da Flandres ou da Padânia. É assim um misto de ambos, mas em que o resultado é mauzinho. E mauzinho porquê?
Porque tudo quanto é simbólico do nacionalismo catalão fala de derrota. São umas vítimas históricas, os catalães e a sua terra. Uns desgraçados, portanto.
A começar pela bandeira, a Senyera (que significa "bandeira", em catalão e se lê senhéra), que, mesmo bonita, tem associada a lenda de que foi um conde de Barcelona, ao morrer em combate, que passou os dedos (4) ensanguentados pelo seu escudo até aí inteiramente dourado. Daí as quatro barras vermelhas sobre fundo amarelo. Mas até aqui tudo bem.
Depois há o dia nacional, a Diada (11 de Setembro), em memória do dia 11 de Setembro de 1714, em que, nos últimos estertores da Guerra da Sucessão Espanhola, as tropas de Filipe V tomaram de assalto as fortificações de Barcelona e fizeram um banho de sangue entre os defensores. Desde então (situação confirmada pelos decretos de Nueva Planta, de 1716) que a Coroa de Aragão, a que pertencia a Catalunha, tinha perdido os seus foros e liberdades. Foi o início da Espanha centralizada e unificada, e o dia nacional catalão assinala a sua derrota derradeira. Inspirador.
O hino, valha-nos isso, é Els Segadors, uma melodia tradicional com um som poderoso, e que fala de mais uma revolta fracassada, a dos camponeses em Junho de 1640, aproveitando a guerra entre França e Espanha.
Aliás, a propósito desta revolta circula a ideia pouco esclarecida de que os castelhanos se viram obrigados a escolher entre reprimir a Catalunha ou afogar a restauração da independência portuguesa, nesse mesmo ano. Nada mais falso: a Catalunha recebeu apoio activo da França, porque era teatro de operações e os catalães chegaram a declarar Luís XIII conde de Barcelona. Entre isso e Portugal, a premência da guerra fez da Catalunha a primeira linha. E a guerra com Portugal durou até 1668, já agora, décadas depois da derrota dos segadores. Pelos vistos, já nesse tempo, os catalães gostavam de estrangeiros para heróis do nacionalismo (e aqui falo do Figo, sim, que cometeu o crime de lesa-catalanidade de ir para o Real).
Enfim, não acho o nacionalismo catalão com muitas pernas para andar. Porque não faz apelo ao passado remoto mas robusto que tem (Jaime I, a expansão pelo Mediterrâneo, os Almogávares, a cultura) mas sim ao passado recente desgraçado que preferem recordar. E aos benditos 18% do PIB espanhol que produzem. Uau.
A bem da pluralidade, aqui fica o texto onde fui sacar a fotografia da bandeira, e o site do Conselho Nacional Catalão, onde se encontram dados sobre um país que não é.
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