Na Madeira, arquipélago que conheço razoavelmente bem, disfruta-se de um sentido de humor muito especial e que normalmente se materializa em partidas. Os madeirenses são muito amigos disso, o que é que se há-de fazer?
Pois parece que a Assembleia Legislativa Regional da Madeira, um órgão, ele mesmo, que deve muito a um sentido de humor desenvolvido e vibrante para continuar a existir, aprovou um voto de congratulação pela independência do Kosovo. Do próprio texto do voto, resulta claramente que é uma partida - pois não se utiliza exactamente o vocabulário típico das supostas guerras RAM-Continente: ..."para além da situação de contiguidade territorial não impedir a legitimidade da independência do Kosovo, de facto, aí, como noutros locais, verifica-se a imposição de fora do território, de um estatuto político que a população kosovar rejeitava."?
Palavras-chave aqui: contiguidade territorial, imposição, estatuto político. É o transplantar do vocabulário da relação Governo da República / Regiões Autónomas do plano comezinho dos escassos quilómetros entre Lisboa e o Funchal para a política internacional.
O comentário a fazer, como sempre que há destes faits divers, é o mesmo, e dirige-se não aos madeirenses, mas aos demais portugueses: não há madeirense que queira a independência da Madeira.
Não há. O Jaime Ramos não conta.
Este género de declarações é feito somente com propósitos de política interna nacional e regional, porque resulta. E resulta porque em Lisboa governa a geração que assistiu à catadupa de independências nos anos 70, e que guardou, por isso, traumas e fantasmas. E que, no fundo, gosta de se sentir ameaçada por uma região de 300.000 almas com sentido de humor. São guerras de alecrim e manjerona, não são coisas a sério. Não há madeirenses convencidos disso, há sim que desconvencer os continentais (e os açoreanos, se calhar).
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