terça-feira, 6 de novembro de 2007

Os consensos europeus

Ontem foi quebrado um novo recorde. Não do maior assador de castanhas do mundo (é nosso), não do maior arranjo floral para um casamento (também é nosso), mas do tempo que tem demorado à Bélgica formar um novo Governo: 149 dias, mais um do que em 1988 (hoje chegaram aos míticos 150!).
Este facto não é, por si só, preocupante. A Bélgica, aparte das tensões separatistas, não é um país muito interessante sequer com este episódio: as instituições funcionam, os transportes públicos continuam a circular e as pessoas a receber no final do mês. Só há um problema com este país: o de, por consenso não escrito, ser o anfitrião de todos os Conselhos Europeus (os formais, que adoptam conclusões, não os informais, como o de Lisboa).

E este é um problema porque, na sequência da aprovação do Tratado de Lisboa, ficou apalavrado que o Conselho Europeu de Dezembro se realizaria excepcionalmente também em Lisboa, depois da assinatura do Tratado nos Jerónimos, para se poupar o ambiente e passar uma mensagem de saudável consciência ecológica da Europa para o resto do mundo. É aqui que começa o problema. Os belgas não querem. E mais, discutem até se poderão vir assinar o Tratado, já que essa não é uma competência típica de um Governo de gestão.
Ora, vamos nós, depois do mais difícil (assegurar o acordo dos 27 quanto ao novo Tratado) deixar que este país nos tire também este momento? Podem considerar-me provinciano, mas gosto de ver Lisboa e Portugal nas bocas do mundo pelos bons motivos. Tal como acho (pecado mortal...) que é bom e útil termos um Presidente da Comissão português. Por maioria de razão, devíamos ter o Tratado de Lisboa seguido de um Conselho Europeu também em Lisboa. Demais a mais, a razão e a consciência pública estão do nosso lado. Esperemos que vinguem sobre os consensos europeus...

3 comentários:

Anónimo disse...

Conhecendo os políticos portugueses como conhecemos, só posso esperar que "amoxem" e que venha tudo para Bruxelas assinar o Tratado. De resto, a birra do Governo Belga de Gestão não poder ir a Lisboa assinar o Tratado pode ser bem real, pois a assinatura de tal documento não lhe compete. Vamos a ver como os meus Governos (Português e Belga) reagirão.

Sebastião disse...

Caro Embaixador,
Difícil essa situação de ter dois Governos. Ou então a melhor de todas, já que se sentirá sempre representado. Eu, como só tenho um, continuo a pensar que Lisboa é "the way to go" (ou "to come" neste caso).
Obrigado pela sua visita.

Anónimo disse...

Caro Sebastião,

Esse é o dilema de ter a dupla nacionalidade, somos estrangeiros nas nossas duas Pátrias!