Vale a pena ler o primeiro grande discurso sobre a União Europeia do Secretário de Estado britânico, David Miliband, no Colégio da Europa, em Bruges, ontem, dia 15. Registo aqui.
Três ideias sobressaem:
1) a Europa tem de aumentar a sua coordenação interna em matéria de defesa e política externa - já não há, nas palavras de Gordon Brown, citado por Miliband, uma diferença entre "over there" e "over here". O desafio não é, neste plano, institucional (contrariamente aos planos franceses que aparentemente passam pela criação de estruturas europeias que dupliquem as da NATO). O desafio é essencialmente político. Se a UE quer ser um actor internacional com peso, tem de assumir as suas responsabilidades e ser capaz de actuar para além da retórica: o Darfur é apenas um dos vários exemplos possíveis.
2) a UE não tem de ser, nem será no que depender do Reino Unido, um superestado. O seu valor acrescentado reside no modelo que foi capaz de criar, alargar e aprofundar. É esse modelo que faz com que países vizinhos queiram aderir e que outras regiões do mundo queiram aprender connosco.
3) o proteccionismo não é a solução para os desafios económicos da UE, nem o caminho a seguir para uma economia que pretenda fazer face à globalização.
São três ideias simples, mas nem sempre evidentes. Não serão megalómanas. Pelo contrário, parecem seguir a tese dos pequenos passos, que tantos resultados tem dado no aprofundamento do projecto europeu.
A meu ver, este discurso não marca necessariamente uma viragem da política externa britânica (a PESD é fruto da vontade do Reino Unido, conjugada com a da França, como se sabe). Mas é uma boa síntese de ideias e projectos que parecem ter sido esquecidos por alguns. E a um ano da Presidência francesa, há referências que não são certamente inocentes.
Em suma, um bom discurso, com boas ideias, que subscrevo na sua quase totalidade (não me revejo, nomeadamente, na ideia de que a futura criação de Zonas de Comércio Livre com alguns Estados da Vizinhança possa ser um prelúdio para um futuro alargamento). Em todo o caso, vale a pena ler.
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