O que se está a passar no Tibete não é tanto uma surpresa, mas antes uma confirmação do que a China está disposta a fazer, mesmo nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, para manter a unidade da pátria. Taiwan deve tomar nota.
Mas mais do que discorrer sobre as acções dos monges e as represálias do exército, gostaria, aqui, de me referir às hipóteses de boicote dos JO que sistematicamente são referidas, tanto pelos eurodeputados como, até, pela parelha Sarkozy-Kouchner.
A UE deve, sem medos nem hesitações, assumir os seus valores e promover a sua disseminação sem quaisquer receios. Até aí estaremos todos de acordo (penso eu!). Afirmar já que se boicotarão as cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos (oportunidade única para a liderança chinesa mostrar a todo o mundo o seu progresso e desenvolvimento) será a melhor maneira de o fazer? A meu ver, não. Felizmente já ninguém se refere a boicotes pelos atletas, que apenas servem para pôr em causa o espírito olímpico (que muito bem pode fazer a populações limitadas nos seus contactos com o exterior). O que está hoje em dia em causa é um boicote político. Humilhar a China não aparecendo. Sinceramente, duvido que funcione. Pequim poderá estar preocupada com a imagem que transmite. A limpeza das ruas, a deslocalização de fábricas, as aulas públicas aos cidadãos com matérias como "fazer uma fila", são sinais disso mesmo. Mas há coisas mais importantes para a China do que a sua imagem internacional. A unidade do país é uma delas. E por isso não há boicote que funcione. Daí que seja preferível manter a pressão, exigir mais diálogo, procurar manter o assunto na agenda, mas não misturar o plano político com o desportivo, isolando Pequim com países pouco recomendáveis, deteriorando as relações com o Ocidente e fechando possíveis portas de entendimento futuro.