Este remendo, aviso já, vai roçar os limites do politicamente correcto. Aliás, interpretado de forma mais ou menos lata, até pode arranjar-me complicações com as autoridades deste e e outros países. Vá, coragem.
Este remendo versa a vindoura Cimeira UE-África, e a a maçada que é para a nossa Presidência da UE, que tem dados aqueles frutos que gostamos de ostentar, como a Cimeira UE-Brasil e a assinatura do Tratado, e que até tem servido para projectar uma imagem bastante positiva da nossa terra; a maçada, dizia, que é para a nossa Presidência o regime do Sr. Mugabe ainda existir.
Maça também a insistência asinina dos regimes africanos em alinhar e respaldar com a sua solidariedade o regime bestial (de besta, mesmo) que o referido Sr. instaurou naquele país; não sei se alguém já lhes chamou a atenção para o facto de que associar-se a um regime moribundo pega mal e só demonstra a escassa esperança de vida daqueles que se lhe associam. "Ah, são imperativos de política interna, têm de mostrar-se solidários." A política externa também tem imperativos, e não menos prementes que os internos - têm é de ser tornados bem claros.
Maçam também os Estados-membros que, fora o Reino Unido, dizem que não vêm a uma Cimeira onde haja ditadores. Pois claro, há grilinhos falantes que nos arengam do alto de elevadíssmos padrões civilizacionais. Está tudo dito quanto a esses nossos irmãos comunitários.
Há limites para o grau de desonra que podemos aceitar; é que quem nos atrapalha mais este pequeno êxito de que alimentam as políticas externas dos países (mais) pequenos, é esta gente.
Há também um serviço de informações que poderia dedicar-se, entre outras actividades, a causar acidentes apenas ligeiramente incapacitantes a ditadores execráveis, sem que o Mundo ficasse infinitamente mais pobre por isso. Estarei a exagerar?
Regressando à Terra, desta questiúncula desagradável podemos retirar a conclusão, triste, de que nem Portugal, nem outros intervenientes tradicionais na área (o Reino Unido), nem mesmo a UE enquanto tal tem influência ou poder de dissuasão suficiente para fazer desta Cimeira um êxito, como conviria. Conviria a Portugal, primeiro que tudo, e conviria aos Estados africanos. Não que da Cimeira fossem resultar grandes soluções para os problemas globais, mas como sinal de compromisso e mesmo de respeitabilidade de quem nela participasse.
Ou então a realização da Cimeira só convém mesmo a Portugal, porque quer mais uma estrelinha na constelação da sua Presidência, e há outros que ou não estão nem aí ou que querem organizar a conferência na sua Presidência, enquanto ela é rotativa. Talvez não seja a Eslovénia, no entanto.
Por último, resta-me aplaudir (sinceramente) a coragem do nosso Executivo ao planear a Cimeira. Foi uma aposta, e ainda vai a tempo de correr bem, mas pode muito bem dar para o torto. Acredito que, ao planear a Presidência, tenham pensado "em Dezembro de 2007 o homem ou já morreu ou o regime caiu". E teriam fundamento para acreditar nisso. Mas não. O regime arrasta-se, entre decretos a cortar a inflação para metade (para uns 4000% ao ano) e entre ajustes de contas tribais. Quanto mais escrevo mais me convenço de que há limites. Esperemos pelo melhor.
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