quarta-feira, 17 de outubro de 2007

"Regresso ao passado, e a tantas recordações..."

Era um programa do Júlio Isidro, éramos todos umas crianças e a RTP fazia de nós o que queria. Não vos maço mais com isto.

Dois dias, dois fracassos. Eu não quereria estar hoje na casa Branca. E nem sequer estou a colocar-me na Sala Oval. Só na Administração. Como observador. Mesmo porteiro. Hoje devem voar estilhaços por todo o lado, haverá crispação, skimmed milk diet decaf-mokaccinos a cair em camisas e vestidos, de propósito ou não.

Não bastava a Índia mandar o acordo nuclear às urtigas; hoje a Rússia confirma, ao mais alto nível, o acordo nuclear que tem com o Irão. Olhando à substância, talvez as circunstâncias não mudem muito, mas o simbolismo de tudo isto é, aos meus olhos, muito forte.

As razões para a Rússia acenar assim com o seu apoio explícito ao Irão parecem-me claras: a Rússia quer aparecer aos olhos dos Muçulmanos como amiga segura, como no tempo da URSS; a Rússia quer ser o garante da paz na região do Mar Cáspio-Turquestão, como no tempo da URSS; a Rússia quer pressionar Israel, por quem não nutre a maior das simpatias, como no tempo da URSS; a Rússia quer fazer passar a mensagem à NATO de que não pode imiscuir-se naquela região do mundo, e isso incluiu não se alargar para Oriente - olha, como no tempo da URSS.

Os interesses estratégicos da URSS e da Rússia foram sempre uma e a mesma coisa. Nenhum Secretário-Geral se desviou um milímetro da perspectiva estratégica dos Czares. O Presidente Putin não tem razão para fazer o contrário, por esta ordem de ideias. Até recuperou o hino da URSS, uma melodia linda.

Esta actuação nem sequer choca (flagrantemente) com a repressão dos Chechenos: pois a Rússia não está a defender os Muçulmanos da agressão dos Cruzados americanos? E do Sr. Kouchner, já agora? E isso não é estupendo? Olé a Putin, então, que reitera a todo o mundo a sua política de força. A Rússia é poderosa e vai desenvolver a sua política externa, para os seus objectivos. Não os das "Democracias", nem os de um "Ocidente" nem muito menos os de uma "Europa".

Perante isto, e para regressar ao cenário de catástrofe do início do remendo, como é que isto deixa os Ocidentais (EUA e UE, sim)? Em Washington deverá passar-se aquilo que já imaginei supra; em Paris, e nas outras capitais da troika, sabe-se lá. Soluções, caminhos alternativos, precisam-se. Endurecimento de sanções? Quais?

Mais que tudo isto, julgo que este é o sinal de que não podemos tratar a Rússia como "um dos nossos". A Rússia é um pólo em si mesma, e vai continuar a consolidar essa posição; quisémos acreditar que podia não ser assim, e essa convicção foi boa enquanto durou. Mas já não há maneira de mantê-la.

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