segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Outra chatice...


O Médio Oriente em geral e o Curdistão em particular são uma chatice, uma dor de cabeça. São daqueles temas de que toda a gente fala, mas de que pouca gente percebe. Este post insere-se na primeira categoria, mas hélas...

O PKK, depois de quebrar o último cessar-fogo que unilateralmente declarou, atacou, como se sabe, um conjunto de soldados turcos, matando uns quantos e, assim, criando o ambiente político certo em Ankara para a aprovação de uma resolução parlamentar autorizando o Governo Erdogan a entrar a matar. O PKK refugia-se no Curdistão iraquiano - a única área que beneficiou da invasão norte-americana e que agora regista níveis simpáticos de crescimento e desenvolvimento económicos, aliados a uma relativa prosperidade. Não só pela relativa homogeneidade do território, mas também pela reduzida dependência em relação ao Governo de Bagdade. É aqui que começa a chatice. Esta é ainda maior se considerarmos a perspectiva norte-americana: o Curdistão tem sido apontado como um exemplo a seguir pelas restantes províncias iraquianas e qualquer desestabilização decorrente de uma invasão turca destruiría não só o exemplo, como criaria as necessárias condições para que os curdos espalhados por outros países da região (ver mapa) se sublevassem, apoiando o PKK. O cenário de desunião do início dos anos 90, quando alguns generais curdos lutaram ao lado de Ankara para derrotar o PKK dificilmente se repetiria.

Agora chega a parte da dor de cabeça. Terá a Turquia o direito de fazer o que pretende fazer? Modestamente, acho que sim. Depois dos precedentes criados pelos EUA e admitidos até pelo CSONU, aquando das guerras da Somália e do Afeganistão, um país que tenha sido atacado por uma organização terrorista, que seja protegida e utilize o território de um Estado, pode ser perseguida, atacada, destruída pelo Estado atacado no território do harbouring state. Demais a mais, se os EUA viram no Iraque uma ameaça a milhares de km de distância, que dizer de Ankara que está mesmo ali ao lado.

Os estrategistas militares duvidam que a intervenção ocorra agora, às portas do Inverno. Os diplomatas esperam por uma solução negociada, que dê algum protagonismo ao Governo central de Bagdade e acalme os espíritos de Ankara. Os soldados querem sangue. O povo turco, suspeito, também! Vamos ver o que acontece.

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