É sabido que os russos estão a treinar ursos polares para colocar bandeiras em titânio e matrioscas em folha de Flandres por todo o leito do Oceano Ártico. Este é uma fotografia raríssima, obtida pelo Conserto das Nações a partir de uma fonte que protegeremos enquanto não for demasiado doloroso, de uma sessão de treino desse projecto.
sexta-feira, 30 de novembro de 2007
O Ártico
É sabido que os russos estão a treinar ursos polares para colocar bandeiras em titânio e matrioscas em folha de Flandres por todo o leito do Oceano Ártico. Este é uma fotografia raríssima, obtida pelo Conserto das Nações a partir de uma fonte que protegeremos enquanto não for demasiado doloroso, de uma sessão de treino desse projecto.
Dá trabalho, mas deve compensar
A Conferência de Annapolis e a sua lista de participantes são disto um exemplo. Ninguém esperava que desta reunião saísse uma solução final para o Processo de Paz do Médio Oriente. Contudo, o facto de se terem sentado à mesma mesa países e respectivos dirigentes com visões diametralmente opostas e antagónicas (mesmo que não se cumprimentando entre si), é um bom sinal. Deu-se início (como parece sempre acontecer no final do mandato dos Presidentes dos EUA) a um processo em que as partes se comprometeram a discutir e a dialogar. Tenho dúvidas sobre o seu sucesso, mas sempre é melhor que nada. De facto, olhando para o Médio Oriente, fico um pouco como o outro, que vai para a cama idealista, mas se levanta realista.
Digno de nota é o convite à Síria, um Estado que os EUA não se cansam de rotular como patrocinador do terrorismo. Representada a nível de Vice-MNE, a Síria não estará de regresso ao Concerto das Nações, mas deu, certamente, um bom passo para se certificar de que, havendo desenvolvimentos, será parte deles e não um mero espectador.
Este é, a meu ver, um bom princípio em relações internacionais: mais vale dialogar do que, pura e simplesmente, ignorar Estados que têm influência (goste-se ou não) na possível resolução de um problema. Esta abordagem terá, certamente, os seus limites: it takes two to tango, como bem se sabe. Mas, normalmente, países como a Síria preferem ser vistos como partes de um processo do que ignorados e postos de lado - estratégia que, normalmente, não dá bons resultados.
quinta-feira, 29 de novembro de 2007
Com amigos destes
Este não é, pois, o momento de fazer balanços. Mas já há sinais do que poderá vir a acontecer no próximo ano. A Eslovénia ocupará a Presidência no 1º Semestre e a França no 2º. Este post deve-se a Paris. Nas vésperas da Cimeira UE-China, o Presidente Sarkozy foi a Pequim transmitir as preocupações francesas com o crescente défice comercial entre a UE e a China e com a não valorização do yuan. Foram também estas as mensagens que Sócrates transmitiu ao PM Chinês ontem. Este tipo de atitude não fica bem Paris, não valoriza a tão procurada imagem de coerência externa da União, nem ajuda à sua credibilização face a países terceiros.
Em política externa, não deveria haver lugar a invejas ou precipitações. Sarkozy é as duas: invejoso e precipitado. Duvido que o resultado, no 2º Semestre, venha a ser famoso.
Dia 2...
Na Rússia, haverá eleições para a Duma. Para aqueles que ainda pensam no país de Putin como uma democracia, vale a pena ler isto. Duvido que na Venezuela seja muito diferente.
Ser democrata não é só ganhar eleições. É permitir que todos expressem as suas opiniões, que os meios de comunicação social sejam livres de fazer as suas opções editoriais, que ninguém seja intimidado a votar num determinado partido.
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
Só para contrariar
"Polícias beijando-se", obra do colectivo Blue Noses, 2005
São dois polícias russos, claro. A II Guerra Fria é do pior que há, e pior ainda é que se reúnem todos os ingredientes, incluindo a convicção plena de que é o outro lado que alimenta a questão com as suas atitudes intolerantes e anacrónicas. Temos de dar a volta a isto... Mas antes disso vou publicar a fotografia outra vez!
P.S.: Um dia este blogue terá, esteticamente, o cuidado e o gosto de um Je Maintiendrai ou de um O Jansenista. Por enquanto, a gerência lamenta quaisquer inconvenientes.
P.S. 2: O blogue do José Milhazes, Da Rússia, torna-se leitura imprescindível para saber, em primeiríssima mão, aquilo que por lá se passa. Para mim, informação inestimável.
segunda-feira, 26 de novembro de 2007
Contagem decrescente
Agora as coisas precipitam-se, e posso bem dizer-vos que, se a UE não adopta uma posição mais firme, e através da sua Presidência - i.e., Portugal - estará, uma vez mais e sem a ajuda de mais ninguém, a rotular-se a si própria de sociedade comercial e nada mais, de tigre de papel, de anão político, de algo ainda abaixo de sócio minoritário dos EUA.
E já nem falo de impedir a declaração de independência do Kosovo, no próximo dia 10 de Dezembro, porque essa batalha, apesar de ser a certa, parece já perdida para os radicais. Falo do dia seguinte, e das semanas seguintes. Que ninguém reconheça a independência unilateralmente declarada do Kosovo, ponto final, para que esta tenha o valor das declarações de independência da Abcázia e da Ossétia e da Inguchétia e da Transdnístria, e se os EUA quiserem reconhecê-los, então bom proveito. «Não alinhamos com este género de actuação, que é a desaquada às circunstâncias e a menos construtiva de todas.» Uma mensagem simples e inequívoca - seria um bom serviço que a Presidência Portuguesa prestaria à Europa e a Portugal.
Entretanto, e como operação de psicologia de guerra, distribuir gratuitamente a sérvios e kosovares o single, mesmo que em 45 rotações, deste hino à paciência como grande virtude cardeal:
Eu ouço e ouço e ouço, e parece-me útil.
domingo, 25 de novembro de 2007
Uma satisfação meio tola, mas uma satisfação
A Galp e a PDVSA assinaram um acordo de cooperação para explorar gás e petróleo na Venezuela, e agora há grandes planos de intercâmbio económico. Houve mediação de Mário Soares, houve negociações de bastidores, houve, julgo eu, um prazer perverso da parte dos decisores nacionais em consorciarem-se com um dos elementos do Eixo da Irritação. Esta é a parte mais ou menos ligeira da coisa. Já agora, fica aqui o mapa da República Bolivariana para que o leitor se situe na dita, com a região dos depósitos de petróleo a vermelho e os depósitos de gás a azul - grosso modo, que eu não grande coisa com o Paint.
Agora vem a parte que dá o título ao remendo. Foi-me despertada com este artigo do El País, em que se dá um destaque especial a esta manobra da diplomacia económica lusitana. A meu ver, não há que fazer grande estardalhaço em torno disto, embora qualquer movimentação portuguesa que provoque estardalhaço, mesmo que só em Espanha, já valha qualquer coisa.
No entanto, é mesmo um fogo fátuo: Espanha e Venezuela vivem o momento que todos conhecemos, e que o Sebastião já referiu em remendo anterior; depois, porque duas empresas petrolíferas a fazer negócio devia ser business as usual - ou um contrato da BP é brindado com Murganheira em Downing Street? - e por fim, porque o correspondente do El País em Portugal, o Miguel Mora, não é, salvo o devido respeito, o mais sensível dos relatores. Mas esta impressão é puramente minha.
Claro que virão dizer que Portugal anda a meter-se com quem não deve, com inimigos do Ocidente, com ditadores populistas demagogos, que estamos a pactuar com os desmandos e com as perfeitas imbecilidades do regime chavista. E se calhar até estamos, até certo ponto.
Sucede que há cerca de 1.200.000 portugueses e luso-descendentes na Venezuela, em quem há que pensar, se não queremos só brincar aos países ou às regiões autónomas europeias (nem digo espanholas...), e que, pela posição particular que ocupam na economia venezuelana, são alvos tentadores para a Revolução Bolivariana; há uma perspectiva de bons negócios para a Galp e de diversificação do abastecimento energético (e isso é importante, e todos os grilos falantes deste mundo também pensam nisso) e, por fim, há esta imagem: Portugal compra a esmagadora maioria do seu petróleo a dois países, nenhum deles monumentos à democracia liberal e participativa - a Nigéria e Angola. É caricato, mas em pergaminhos democráticos o senhor Chávez até possa pedir meças aos nossos outros fornecedores. Mas vem aí o Brasil para redimir-nos!
sábado, 24 de novembro de 2007
A arma secreta - e derradeira
As primárias no Iowa são a 3 de Dezembro. Já falta mesmo pouco. Espero que o tema se torne um pouco mais recorrente aqui no Conserto. Ó Sebastião, e se fizéssemos um bocadinho de campanha, assim só na brincadeira?
E já agora... este remendo é inteiramente "Chuck approved" - de outra forma, o Chuck já teria saltado do écrã para dar-me meia dúzia de pontapés giratórios.
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Estéticas georgianas
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
Vale a pena ler
quarta-feira, 14 de novembro de 2007
Um debate interessante
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Para nosso divertimento...
O Rei esteve bem, muito bem! Já é suficiente que o Sr. Chavéz se julgue o salvador popular do povo da Venezuela, suportado por petro-dólares, era o que faltava que agora insultasse pessoas democraticamente eleitas num Estado de Direito e ninguém lhe dissesse nada, a bem de um tão propalado complexo de esquerda, tão marcadamente europeu. O Rei não sucumbiu a essa fraqueza e impôs-se. E bem!
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
The French fries are back
Acho esta aproximação uma boa notícia. O Presidente Chirac não era, em termos de política externa, um actor muito recomendável - digo isto não tanto pelo princípio de oposição à guerra do Iraque, mas pela forma como ele foi encarado, defendido e apregoado (a emancipação da Europa face aos ditames do Império). Isto para não falar da associação ao Sr. Putin - um arauto do que de melhor existe no código genético da Europa, como sabemos.
O Sr. Sarkozy, que pessoalmente não me inspira particular simpatia, cedo se apercebeu, contudo, que os EUA são incontornáveis para a Europa, se esta quiser continuar a ter algum relevo internacional. Washington, sublinhe-se, sempre soube isto (a relação não é unívoca, como comummente se pensa).
A visita a Washington e a ovação de pé que recebeu no discurso do Congresso (quando lá foi o Sr. Chirac, ainda antes do Iraque, houve congressistas que recusaram marcar presença), para não falar do seu conteúdo, que me pareceu apropriado (apoio à guerra no Afeganistão, menção clara da posição francesa de oposição a um Irão nuclear e eventual regresso à estrutura militar conjunta da OTAN), são, por isso, boas notícias.
A Europa e os EUA fazem parte de uma comunidade de valores e, por isso, são mais fortes juntas do que separadas. Não significa isto, contudo, que deva haver políticas de mero seguidismo (mais tradicionais neste lado do Atlântico, convenhamos), como alguns, demogogicamente, tentam fazer crer quando se fala numa relação privilegiada entre a Europa e os EUA.
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Uma tortilha em Melilha
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Os consensos europeus
domingo, 4 de novembro de 2007
A excepção cultural francesa
A França não é um país detestável, povoado por gente do pior que há. Pode haver quem pense isso, mas não eu. Em França há coisas absolutamente maravilhosas, quem sabe a principal sendo a língua francesa. O problema com a França é que quem a governa perde a sua credibilidade com demasiada facilidade, mas continua a agir como se nada se passasse. E nós, os que achamos que a França é demasiado importante para a Europa e para o Mundo para se comportar desta forma, deixamos passar. Não pode ser. A França precisa de tough love. Perdão, amour inflexible.
A França do Presidente Sarkozy tem-nos presenteado, neste últimos seis meses, com activismo, liderança, protagonismo, hiper-actividade, "o regresso à política pura", disse-se. Pois sim, talvez. Este seu governo age baseando-se numa ideia de França que é belíssima: ideais universais, uma visão alternativa (julgo que mais simpática e socializante) do capitalismo anglo-saxão e, claro, la gloire. É uma boa base emocional e intelectual para apresentar ao mundo como distintiva da França e ao mesmo tempo como base de uma política externa. E apesar de tudo, aconteceram, e acontecerão, coisas destas:
Nunca mais me esqueci desta nota de rodapé nos jornais. Países mais importantes estavam a atacar e a ser atacados e mereciam bem mais a nossa atenção e o nosso apoio ou repúdio, conforme. Rebentar com a Força Aérea de uma ex-colónia no coração das trevas não conta. Este fenómeno, que cabe mais no rol das opere buffe (em português é cacofónico) do que nas páginas da História, descredibiliza a França - pelo menos é a única conclusão que eu retiro destes episódios e de quem os ordena, na época em que os ordena.
Ocorreu-me tudo isto quando soube que o presidente Sarkozy vai a N'Djamena - sem Cécilia, atenção - negociar a libertação dos europeus implicados no caso "Arca de Zoé", algo de tão tamanhamente sórdido que nem eu me disponho a explorar. Fica aqui a ligação para a notícia mais próxima da fonte: http://www.lemonde.fr/web/article/0,1-0@2-3224,36-974348@51-963882,0.html. Desejo-lhe sorte, e não me surpreende que os franceses tenham do sistema jurídico do Chade a imagem que os ingleses têm do sistema jurídico português. Mas é ou não verdade que o episódio das enfermeiras búlgaras também abalou a credibilidade (pela manha rasteirinha, e ainda por cima bem planeada de antemão para a publicidade) do presidente Sarko?
sábado, 3 de novembro de 2007
Ainda não nos esquecemos
Uma nota, no entanto: uma ditadura militar não pode sobreviver se for unicamente baseada no apoio ou na complacência estrangeira. Suponho que tenha de haver muitos birmaneses civis a aceitar e a apoiar o regime. A Indonésia, para dar um exemplo da região, também era uma ditadura militar, e muitos outros exemplos haverá.
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Jornalismo de intervenção
Homem a cavalo: "Soldados, o vosso objectivo é o Norte do Iraque! Em frente, maaaarche!"
Soldado 1: "Mas quem é este gajo? É um general?"
Soldado 2: "Náá - jornalista."
Retirado do muito interessante Istanbul la Turque.
O estudo da influência da Imprensa na definição e condução da política externa, e também das relações entre diplomatas, políticos e jornalistas, é apaixonante, e é algo que merece toda a atenção de quem se interessa pelos destino do seu país. Fenómeno ao mesmo tempo de manipulação das emoções massificadas e de passagem de mensagens mais subtis, encontramos os seus antecedentes mais imediatos nas guerras da unificação alemã (dos Ducados, Austro-Prussiana e Franco-Prussiana), em que o Chanceler Bismark utilizou não só a imprensa do seu país, mas em larga medida a alheia, para desencadear os acontecimentos que serviam os seus propósitos.
O exemplo clássico de uma guerra fabricada pelo spin jornalístico é a Hispano-Americana de 1898. Sobre essa guerra tão ignorada em Portugal vale a pena ler alguns capítulos de "Espanã en 1898, claves del desastre", (Galaxia Gutemberg - Círculo de Leitores) sob a coordenação de Pedro Laín Entralgo e Carlos Seco Serrano.
Em democracia, a política externa já não é coutada das chancelarias, nem de uma casta de entendidos... Mas não é, nem pode ser, um assunto como outro qualquer nas redacções ou nas régies. Todos os implicados precisam de tratar-se uns aos outros com luvas de pelica, sobretudo quando há vidas em jogo.
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Um mundo que nos separa
Há direita religiosa que não vota Bush
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/us_and_americas/article2783974.ece
Quem quiser saber mais (há pior que isto, acreditem), vá aqui.
Este é, provavelmente, o remendo mais desmiolado até agora no blogue, ultrapassando aquele em que fui dado como apoiante de base do candidato Dennis Kucinich. Por acaso vale a pena voltar a essa ligação, à medida que as primárias do Iowa se aproximam (3 de Janeiro) e a super-potência vai a votos.
Com este remendo espero contribuir para dar um pouquinho de surreal aos dias dos leitores d'O Conserto das Nações. Abraços e agradecimentos a todos, a ponderação e a realidade recomeçam dentro de momentos.