segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Da Rússia, mas sem amor...

A última semana foi pródiga em demonstrações da real politik russa, tema que já aqui foi alvo de posts. Dois acontecimentos, contudo, demonstram bem o alcance, os objectivos e as premissas que estão na base da actual política externa russa.
A primeira foi a reacção russa - à la KGB - à recusa do Reino Unido em encerrar dois escritórios regionais do British Council, que deveriam ter fechado no dia 1 de Janeiro. O que fez Moscovo? Interrogou os funcionários russos dos respectivos Centros, que, supresa, não foram trabalhar no dia seguinte e levou para a esquadra o director de um desses Centros, que, supostamente, apresentaria sinais de embriaguez. Não sei se a argumentação - essencialmente jurídica - das autoridades russas tem ou não validade. O certo é que nenhuma das partes no diferendo esconde a sua verdadeira causa: o pedido britânico de extradição de Lugovoy, investigado pelo homicídio de Litvinenko. Note-se que as trocas comerciais entre Londres e Moscovo continuam a bater recordes, o que é sinal de alguma maturidade. Mas não deixa de ser sintomático que ao claro desafio lançado pelo Reino Unido, na forma de recusa em acatar uma decisão de Moscovo, que foi claramente política, a Rússia tenha reagido como reagiu. De forma tacanha, pequena e mesquinha. Conclusões? Por um lado, a sensação de influência estrangeira na Rússia na década de 1990 foi tão grande, que, hoje, qualquer pretexto serve para minimizar os pretensos perigos que essa presença potencialmente encerra. Por outro, e parafraseando um político português, "quem se mete com a Rússia, leva". O tratamento de ONG's financiadas por estrangeiros na Rússia é também disto um exemplo.
O segundo caso digno de registo foi o acordo firmado por Putin na Bulgária quanto à conclusão do oleoduto Burgas-Alexandroupolis, que mina claramente (diga Sófia o que disser) o projecto Nabuco da UE. A conclusão que se retira deste episódio é que, face aos Estados-membros da UE, a estratégia de Putin é clara: dividir para reinar. À falta de uma linha clara da União face a Moscovo, Putin aproveita as linhas divisórias que existem e vai assegurando a presença russa num sector em que a Europa está claramente dependente da Rússia: a energia.

Para terminar, e num tom mais descontraído, três anedotas que circulam na Rússia sobre Putin:

- Num encontro entre Putin e Estaline, o primeiro pede ajuda ao segundo sobre como melhor liderar o país. Resposta pronta de Estaline: "Mata todos os democratas e depois pinta o interior do Kremlin de azul". "De azul?", pergunta Putin. "Ah ha", responde Estaline, "já sabia que não irias estranhar a primeira parte".

- Num encontro entre Putin e Bush, nas margens do Volga, o Presidente dos EUA queixa-se dos constantes ataques de mosquitos, que não o deixam apreciar o passeio. "Vladimir", pergunta ele, "estou farto de ser atacado por mosquitos, mas nenhum te ataca". Resposta pronta de Putin: "They know better than that".

- Putin leva Medvedev (seu designado sucessor) a jantar. À pergunta do empregado sobre o que vão comer, Putin responde prontamente "Um bife". "E quanto ao vegetal?", pergunta o empregado. "Come um bife, também", responde Putin.

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