Já foi Estado Livre do Congo, Congo Belga, República do Congo, Zaire e agora é República Democrática do Congo... As mudanças toponímicas foram muitas, mas, infelizmente, o Congo raramente (se é que alguma vez o foi) é notícia por bons motivos... Agora na região do Kivu (John Le Carré conhece-a bem), com o Ruanda à mistura e Angola a procurar manter o apoio a Kinshasa. Sei pouco de África, mas desconfio que, a haver solução para o Congo e a tristemente famosa região dos Grandes Lagos, ela terá de vir de fora... No momento em que os vizinhos e, principalmente, as potências regionais deixarem de ter interesse na instabilidade daquela zona ela provavelmente deixará de ser tão forte. E esse momento pode estar a chegar. Há uns anos Angola, Ruanda e outros já teriam enviado tropas, cada um disposto a defender o seu quinhão, mas agora assiste-se a uma difícil auto-contenção, porque os riscos de essa instabilidade se alastrar não são poucos e os custos seriam enormes...
Para seguir o que se passa ver http://drc.ushahidi.com/
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Accountability
Os EUA têm destas coisas... A equipa de transição de Obama criou um site a explicar todo o processo de mudança de administração, convenientemente alojado no endereço www.change.gov. Agora conhece-se o questionário que potenciais candidatos a cargos públicos terão de preencher caso queiram trabalhar na Administração (ver aqui). Relembre-se que há milhares de postos up for grabs, já que a administração federal não é, como na generalidade dos países europeus, neutral (a série Yes Minister não se poderia passar nos EUA). As escolhas políticas são muitas e todo o cuidado é pouco...
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
De regresso
E regresso, como não podia deixar de ser, com a vitória de Obama. Muito já se escreveu sobre os desafios que tem pela frente, sobre a dificuldade que terá em manter viva a chama de esperança que o levou a ser eleito e sobre o duro choque que todos aqueles que, fora dos EUA, o apoiaram vão ter quando Obama começar efectivamente a governar. Aguardaremos. Até lá registo apenas três momentos:
1 - O discuros de vitória:
2 - O discurso de McCain, de uma dignidade a toda a prova:
3 - Os melhores momentos de Sarah Palin, para quem ainda tenha dúvidas sobre a preparação desta senhora:
1 - O discuros de vitória:
2 - O discurso de McCain, de uma dignidade a toda a prova:
3 - Os melhores momentos de Sarah Palin, para quem ainda tenha dúvidas sobre a preparação desta senhora:
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Kosovo
Parece que o Governo Português se prepara para, em breve, talvez já na terça-feira, reconhecer a independência do Kosovo. Apesar de ter sido daqueles que concordou com a recusa inicial de Lisboa em dar esse passo em Fevereiro, penso que, agora, esta é uma decisão compreensível. E porquê?
Essencialmente, porque a política não é o que nós gostaríamos que fosse, mas sim aquilo que é. De facto, no plano dos princípios a nossa posição de não reconhecimento é muito confortável, já que temos o Direito Internacional do nosso lado. E, para um país como Portugal, o Direito Internacional é uma arma diplomática fundamental. Não temos outra, seja ela militar ou mesmo económica. Só pugnando por uma defesa intransigente do Direito Internacional é que garantiremos o respeito pelos compromissos internacionais - não pela razão da força, mas sim pela força da razão.
Há, contudo, outras razões a ter em conta, que se sobrepõem àquela:
- todos os nossos Aliados, com excepções em Madrid, Bratislava, Atenas, Nicósia e Bucareste (por razões que não se nos aplicam) reconheceram a independência. Não se trata aqui de defender uma política de Maria-vai-com-todos. Trata-se, somente, de reconhecer que estamos desalinhados do nosso centro político natural. E porquê? Países da nossa dimensão, para quem o Direito Internacional e a defesa dos seus princípios, é tão ou mais fundamental do que para nós, já reconheceram o Kosovo. Lisboa continua numa posição, não de intransigência, mas de reflexão, que não é, de todo, confortável. A decisão não foi de não reconhecer nunca. Foi a de não reconhecer por enquanto. Ora, já vimos como a situação evoluiu no terreno e eventuais reticências que pudessem existir no passado não se confirmaram no presente;
- Portugal participou na campanha aérea da OTAN de 1999 que nos conduziu, em última análise, à situação actual. Porquê, agora, continuar a sublinhar a perenidade de certos princípios que, na altura, não nos toldaram a acção?
- a situação no e do Kosovo é, de facto, sui generis. A própria Rússia, que até há pouco tempo mantinha uma certa superioridade moral nesta questão (que perdeu quando reconheceu a Abcázia e a Ossétia do Sul), hesita em fazer paralelismos entre as duas situações.
É certo que o timing da decisão do Governo português pode não ser o melhor, atendendo à situação no Cáucaso, mas os custos do não reconhecimento parecem, e aqui há que acreditar no que diz o Governo, ultrapassar, largamente, os custos da manutenção da actual situação... Como diria o outro, I go to bed an idealist, but wake up a realist!
terça-feira, 30 de setembro de 2008
Bailout Plan
O título do post vai buscar inspiração ao plano intervencionista do Governo dos EUA para ajudar aos bancos norte-americanos (e não só) a recuperar da crise financeira. E fá-lo como pretexto para voltarmos, aqui no blog, a um dos nossos temas preferidos: as eleições presidenciais nos EUA.
- Um dos méritos deste plano foi o de demonstrar a vitalidade da democracia norte-americana. O Presidente Bush, que conta tanto que só se sentiu com autoridade para fazer avançar este plano no momento em que Obama e McCain se lhe associaram; a liderança dos partidos democrata e republicano; a quase globalidade dos comentadores económicos; a intelligentzia de Wall-Street;..., todos queriam o plano. Mas não é só o Presidente que vai ser eleito em Novembro. Há membros do Congresso que também vão a votos. E no momento em que muitos eleitores questionam a bondade de um plano que põe em causa os princípios básicos do mercado, em que os americanos são ensinados a acreditar desde o nascimento, os candidatos à reeleição não querem correr riscos desnecessários. E, assim, democracy trumps party-politics...
- Outra virtude do plano foi a de demonstrar a clara incapacidade dos Republicanos em temas económicos. McCain, ao que se diz, não teve qualquer participação construtiva no debate que decorreu na Casa Branca com Bush, Obama, Paulson e outros. Para além disso, deu um golpe baixo de suspensão da campanha, a que Obama, e muito bem, respondeu que um Presidente tem de ser um multi-tasker.
- As sondagens têm mostrado uma subida constante de Obama. Resposta dos Republicanos? Pensam em casar a filha de Palin antes das eleições, marcando a agenda durante uma semana e retirando protagonismo a Obama. Bonito, não é?
- Um dos méritos deste plano foi o de demonstrar a vitalidade da democracia norte-americana. O Presidente Bush, que conta tanto que só se sentiu com autoridade para fazer avançar este plano no momento em que Obama e McCain se lhe associaram; a liderança dos partidos democrata e republicano; a quase globalidade dos comentadores económicos; a intelligentzia de Wall-Street;..., todos queriam o plano. Mas não é só o Presidente que vai ser eleito em Novembro. Há membros do Congresso que também vão a votos. E no momento em que muitos eleitores questionam a bondade de um plano que põe em causa os princípios básicos do mercado, em que os americanos são ensinados a acreditar desde o nascimento, os candidatos à reeleição não querem correr riscos desnecessários. E, assim, democracy trumps party-politics...
- Outra virtude do plano foi a de demonstrar a clara incapacidade dos Republicanos em temas económicos. McCain, ao que se diz, não teve qualquer participação construtiva no debate que decorreu na Casa Branca com Bush, Obama, Paulson e outros. Para além disso, deu um golpe baixo de suspensão da campanha, a que Obama, e muito bem, respondeu que um Presidente tem de ser um multi-tasker.
- As sondagens têm mostrado uma subida constante de Obama. Resposta dos Republicanos? Pensam em casar a filha de Palin antes das eleições, marcando a agenda durante uma semana e retirando protagonismo a Obama. Bonito, não é?
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Eleições
Estes últimos dias têm sido férteis em actos eleitorais... Senão vejamos:
- Na Bielorrússia realizaram-se, ontem, eleições parlamentares. A OSCE deve dar o seu veredicto sobre a justeza e liberdade do escrutínio esta tarde, mas já se sabe que a oposição não conseguiu eleger nenhum dos seus candidatos(ver aqui). Não é, portanto, de Minsk que chegam quaisquer surpresas. Contudo, este é um acto eleitoral a seguir com atenção, não tanto pelos procedimentos, mas mais pelas consequências. A Rússia quererá, certamente, assegurar-se que Lukachenko não continua a aprofundar uma tímida aproximação ao Ocidente e este, em particular a UE, deverá tentar ler nas entrelinhas do relatório da OSCE uma qualquer mensagem positiva que permita uma também tímida aproximação à "última ditadura da Europa". Real politik oblige...
- Na Áustria a extrema-direita, no seu conjunto, conseguiu quase 30% dos votos (ver aqui). É o regresso de Haider (desta vez noutro partido). Só espero que a UE não ceda ao politicamente correcto, embarcando, como em 2000, num desastroso processo de imposição de sanções diplomáticas. Numa altura em que a democracia não vive, em alguns cantos do mundo, os seus melhores dias, dizer que o sistema só é bom quando elege um dos nossos não parece a melhor solução. Até porque, e pegando na teoria da vacina de Kissinger, que nos é tão próxima, os austríacos poderão aperceber-se, em breve, do enorme erro que é entregar o poder (ou mesmo parte dele) àqueles partidos.
- No Equador o Presidente Correa, amiguito de Chavez e sus muchachos, venceu o referendo à nova Constituição (ver aqui e aqui), que, entre outras pérolas, lhe permite candidatar-se a um outro mandato, dissolver o Congresso nos primeiros três anos do seu mandato (de quatro), abre a porta ao não pagamento da dívida externa e à nacionalização de algumas indústrias. É o socialismo à la América Latina...
Bons tempos, estes!
- Na Bielorrússia realizaram-se, ontem, eleições parlamentares. A OSCE deve dar o seu veredicto sobre a justeza e liberdade do escrutínio esta tarde, mas já se sabe que a oposição não conseguiu eleger nenhum dos seus candidatos(ver aqui). Não é, portanto, de Minsk que chegam quaisquer surpresas. Contudo, este é um acto eleitoral a seguir com atenção, não tanto pelos procedimentos, mas mais pelas consequências. A Rússia quererá, certamente, assegurar-se que Lukachenko não continua a aprofundar uma tímida aproximação ao Ocidente e este, em particular a UE, deverá tentar ler nas entrelinhas do relatório da OSCE uma qualquer mensagem positiva que permita uma também tímida aproximação à "última ditadura da Europa". Real politik oblige...
- Na Áustria a extrema-direita, no seu conjunto, conseguiu quase 30% dos votos (ver aqui). É o regresso de Haider (desta vez noutro partido). Só espero que a UE não ceda ao politicamente correcto, embarcando, como em 2000, num desastroso processo de imposição de sanções diplomáticas. Numa altura em que a democracia não vive, em alguns cantos do mundo, os seus melhores dias, dizer que o sistema só é bom quando elege um dos nossos não parece a melhor solução. Até porque, e pegando na teoria da vacina de Kissinger, que nos é tão próxima, os austríacos poderão aperceber-se, em breve, do enorme erro que é entregar o poder (ou mesmo parte dele) àqueles partidos.
- No Equador o Presidente Correa, amiguito de Chavez e sus muchachos, venceu o referendo à nova Constituição (ver aqui e aqui), que, entre outras pérolas, lhe permite candidatar-se a um outro mandato, dissolver o Congresso nos primeiros três anos do seu mandato (de quatro), abre a porta ao não pagamento da dívida externa e à nacionalização de algumas indústrias. É o socialismo à la América Latina...
Bons tempos, estes!
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terça-feira, 23 de setembro de 2008
Um erro arredondado
Ainda sobre a África do Sul e sobre o post imediatamente infra, cumpre informar que o Sr. Jacob Zuma diferiu a assunção do cargo de Presidente da República da África do Sul até às eleições de Abril de 2009. Entretanto fica a segurar as pontas o Sr. Kgalema Motlanthe.
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
Mudança de liderança
Sopram pelo mundo ventos de mudança. É nos EUA; é na África do Sul, em Israel e no Japão. Até no Largo do Rato. Mas como este Conserto se dedica a olhar para além das fronteiras da ditosa pátria nossa amada, o Sr. Primeiro-Ministro não será objecto das nossas dissecções.
Ainda não nos internámos a trabalhar sobre o novo fôlego das eleições norte-americanas que a Governadora Palin representa e sobre a crise financeira e as suas implicações sobre a política externa prometida por ambos os candidatos. Por uma vez, desviamo-nos um bocado de bombardeamentos e oleodutos e seitas obscuras. Não que o mundo da banca de investimento seja transparente...
Novos chefes de governo na calha:
Tzipi Livni. Boas notícias. Moderada e decidida, a Sr.ª Livni, ex-MNE (o que é quase sempre uma boa credencial) ganhou à tangente as eleições internas no Kadima contra o "falcão" (de vôo baixinho) Saúl Mofaz. Será muito interessante acompanhar as próximas eleições em Israel e ver como lida ela com as múltiplas frentes onde Israel se debate - e a frente interna não é a mais pacífica, atenção.
Taro Aso. Notícias assim-assim. Tem a seu favor gostar muito de banda desenhada e uma queda pronunciada para o politicamente incorrecto, i.e., para a gaffe. Se cometer as gaffes com a panache do ex-PM Koizumi, ainda pode sair-se airosamente. De outro modo, podem cumprir-se os vatícínios de que Taro Aso PM não chega ao Natal. Ainda assim, no Japão a frente interna é a decisiva.
Jacob Zuma. Notícias, no mínimo, preocupantes. Vencedor, nas ruas, de acusações de corrupção e abusos sexuais, o sr. Zuma vence agora o golpe palaciano que leva o Presidente Mbeki a renunciar à posição de Chefe de Estado e de Governo. Não quero ser excessivamente negativo, mas aquilo que se pode esperar do Presidente Zuma não é muito inspirador. Espero estar redondamente enganado.
Ainda não nos internámos a trabalhar sobre o novo fôlego das eleições norte-americanas que a Governadora Palin representa e sobre a crise financeira e as suas implicações sobre a política externa prometida por ambos os candidatos. Por uma vez, desviamo-nos um bocado de bombardeamentos e oleodutos e seitas obscuras. Não que o mundo da banca de investimento seja transparente...
Novos chefes de governo na calha:
Tzipi Livni. Boas notícias. Moderada e decidida, a Sr.ª Livni, ex-MNE (o que é quase sempre uma boa credencial) ganhou à tangente as eleições internas no Kadima contra o "falcão" (de vôo baixinho) Saúl Mofaz. Será muito interessante acompanhar as próximas eleições em Israel e ver como lida ela com as múltiplas frentes onde Israel se debate - e a frente interna não é a mais pacífica, atenção.
Taro Aso. Notícias assim-assim. Tem a seu favor gostar muito de banda desenhada e uma queda pronunciada para o politicamente incorrecto, i.e., para a gaffe. Se cometer as gaffes com a panache do ex-PM Koizumi, ainda pode sair-se airosamente. De outro modo, podem cumprir-se os vatícínios de que Taro Aso PM não chega ao Natal. Ainda assim, no Japão a frente interna é a decisiva.
Jacob Zuma. Notícias, no mínimo, preocupantes. Vencedor, nas ruas, de acusações de corrupção e abusos sexuais, o sr. Zuma vence agora o golpe palaciano que leva o Presidente Mbeki a renunciar à posição de Chefe de Estado e de Governo. Não quero ser excessivamente negativo, mas aquilo que se pode esperar do Presidente Zuma não é muito inspirador. Espero estar redondamente enganado.
quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Arrepiante...
Não deixa de arrepiar um pouco toda esta tensão com a Rússia, pois se olharmos para a situação e fizermos um pequeno exercício de história comparada, ficamos com a ligeira impressão de já termos visto isto uma vez. Parece um 'cocktail de Crimeia com um twist de Guerra Fria'. Perdoem-me a ligeireza da comparação, mas esta 'espiral da estupidez' tão característica pode ter consequências tão más quanto previsíveis, pelo que resta-nos aguardar que desta vez não haja precipitações. Nem EUA nem Rússia estão capazes de se enfrentarem bélicamente, pelo que qualquer confronto dessa natureza seria um desastre militar de proporções épicas.
Mas ainda existe outra questão: qual a posição de Barack Obama sobre o assunto? Afinal de contas, não vai ser Bush a resolver esta situação, pelo que é totalmente natural que Medvedev (e a Europa) queira saber com quem irá lidar no futuro. Pode ser que estejamos a assistir a uma estratégia clássica, muito URSS, cuja principal finalidade é estudar o adversário e ver até onde podem 'esticar a corda'. Os Russos fizeram-no com JFK, porque não com o seu 'herdeiro' político?
Pode parecer simplista mas este posicionamento da Rússia não é recente. Pelo menos desde 1998 que os principais think tanks de Moscovo fazem a leitura (correcta) de que os EUA estão a rodear a Rússia, e estão de tal forma próximo das suas fronteiras que Moscovo terá de reagir. Nas três fronteiras da Rússia (Este, Sul, e Oeste), os EUA têm instalações militares em duas delas (Sul e Oeste). A Este está a China, que já disse em Duchambé que “apoiam o papel activo da Rússia nas operações de paz e de cooperação na região”. Com a presença de forças militares/sistemas de defesa anti-missil muito próximo das suas fronteiras e o desmembrar sistemático do seu sistema de influências político-diplomáticas não admira muito que estejamos a assistir neste momento, no Mar Negro, a operações anti-tráfico de droga com um cruzador e assistência humanitária com destroyers.
O Sebastião tem razão, um erro não justifica o outro. Esperemos que Washington e Moscovo estejam conscientes do caminho que estão prestes a trilhar.
Mas ainda existe outra questão: qual a posição de Barack Obama sobre o assunto? Afinal de contas, não vai ser Bush a resolver esta situação, pelo que é totalmente natural que Medvedev (e a Europa) queira saber com quem irá lidar no futuro. Pode ser que estejamos a assistir a uma estratégia clássica, muito URSS, cuja principal finalidade é estudar o adversário e ver até onde podem 'esticar a corda'. Os Russos fizeram-no com JFK, porque não com o seu 'herdeiro' político?
Pode parecer simplista mas este posicionamento da Rússia não é recente. Pelo menos desde 1998 que os principais think tanks de Moscovo fazem a leitura (correcta) de que os EUA estão a rodear a Rússia, e estão de tal forma próximo das suas fronteiras que Moscovo terá de reagir. Nas três fronteiras da Rússia (Este, Sul, e Oeste), os EUA têm instalações militares em duas delas (Sul e Oeste). A Este está a China, que já disse em Duchambé que “apoiam o papel activo da Rússia nas operações de paz e de cooperação na região”. Com a presença de forças militares/sistemas de defesa anti-missil muito próximo das suas fronteiras e o desmembrar sistemático do seu sistema de influências político-diplomáticas não admira muito que estejamos a assistir neste momento, no Mar Negro, a operações anti-tráfico de droga com um cruzador e assistência humanitária com destroyers.
O Sebastião tem razão, um erro não justifica o outro. Esperemos que Washington e Moscovo estejam conscientes do caminho que estão prestes a trilhar.
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quarta-feira, 27 de agosto de 2008
a Rússia...
- a Rússia já não é a URSS (às vezes são os próprios russos que se 'esquecem');
- a Rússia não tem a capacidade militar que a URSS tinha (7 vezes inferior à dos EUA). A China tem mais...
- a Rússia continua a precisar de acesso a mares 'quentes' (cuja água esteja descongelada uma boa parte do ano), o eterno objectivo geoestratégico da potência continental...
- a Rússia não tem capacidade militar suficiente pelo que optou por criar em seu redor um grupo de segurança colectiva que lhe permita manter a influência geopolítica sobre os seus vizinhos... e como contra-peso da influência norte-americana...
- a Rússia, embora se encontre bastante melhor em termos financeiros (com a alta nos preços do petróleo/gás a preços elevados), não dispõe de uma economia sólida, equilibrada e forte que lhe permita 'sonhar' com 'aventuras' proto-militares... com a agravante de um dia ver o preço do crude descer de tal forma que a GAZPROM começará a não ter dinheiro suficiente para pagar novos investimentos e ao mesmo tempo manter os existentes.
- a Rússia não se pode dar ao luxo de actuar unilateralmente (como os EUA). Deve sempre (e isto é que é complicado para o político russo do Sec. XXI) dar a ideia de que são multilaterais e que respeitam o Direito Internacional... A forma perderam os media neste conflito com a Geórgia é sintomático do pouco calculo que os russos fazem sobre a forma como lidam com a Imprensa...
- a Russia está a experimentar o seu novo líder e Medvedev já deu provas daquilo que em tempos afirmou o actual PM russo... Medvedev não é uma versão mais 'ligeira' de Putin...
Claro que de todas as considerações possíveis, é generalizado o sentimento de que o Ocidente e a Rússia precisam um do outro, dependem um do outro para a concretização dos seus objectivos mediatos e imediatos. Daí que não esteja muito preocupado com os comentários lançados por analistas catastrofistas e deterministas de que estará próximo uma nova 'Guerra Fria'. As condições que levaram aos mais de 40 anos de confronto ideológico já não são as mesmas para a Rússia, mas também não são para os EUA...
- a Rússia não tem a capacidade militar que a URSS tinha (7 vezes inferior à dos EUA). A China tem mais...
- a Rússia continua a precisar de acesso a mares 'quentes' (cuja água esteja descongelada uma boa parte do ano), o eterno objectivo geoestratégico da potência continental...
- a Rússia não tem capacidade militar suficiente pelo que optou por criar em seu redor um grupo de segurança colectiva que lhe permita manter a influência geopolítica sobre os seus vizinhos... e como contra-peso da influência norte-americana...
- a Rússia, embora se encontre bastante melhor em termos financeiros (com a alta nos preços do petróleo/gás a preços elevados), não dispõe de uma economia sólida, equilibrada e forte que lhe permita 'sonhar' com 'aventuras' proto-militares... com a agravante de um dia ver o preço do crude descer de tal forma que a GAZPROM começará a não ter dinheiro suficiente para pagar novos investimentos e ao mesmo tempo manter os existentes.
- a Rússia não se pode dar ao luxo de actuar unilateralmente (como os EUA). Deve sempre (e isto é que é complicado para o político russo do Sec. XXI) dar a ideia de que são multilaterais e que respeitam o Direito Internacional... A forma perderam os media neste conflito com a Geórgia é sintomático do pouco calculo que os russos fazem sobre a forma como lidam com a Imprensa...
- a Russia está a experimentar o seu novo líder e Medvedev já deu provas daquilo que em tempos afirmou o actual PM russo... Medvedev não é uma versão mais 'ligeira' de Putin...
Claro que de todas as considerações possíveis, é generalizado o sentimento de que o Ocidente e a Rússia precisam um do outro, dependem um do outro para a concretização dos seus objectivos mediatos e imediatos. Daí que não esteja muito preocupado com os comentários lançados por analistas catastrofistas e deterministas de que estará próximo uma nova 'Guerra Fria'. As condições que levaram aos mais de 40 anos de confronto ideológico já não são as mesmas para a Rússia, mas também não são para os EUA...
...não é por Medvedev vir dizer que 'não tem medo'...
terça-feira, 26 de agosto de 2008
Um tiro no pé
A Rússia reconheceu a independência da Abcázia e da Ossétia do Sul - ver aqui. Esta decisão, para alguns expectável depois da votação unânime na Duma, parece-me um tremendo erro por parte da Rússia, que, assim, se arrisca a pôr em causa os ganhos estratégicos que conquistou até agora e a alienar por completo grande parte dos países Ocidentais.
Depois do erro clamoroso que foi a independência do Kosovo, Moscovo ganhou alguma "superioridade moral". Independentemente dos seus interesses nacionais, que foram o que justificaram a sua posição, a Rússia apareceu como um dos poucos países para quem o Direito Internacional ainda ditava alguma coisa. Agora esse capital esfumou-se por completo.
Esta decisão de Moscovo garante, é certo, o fim da integridade territorial georgiana, mas abre uma perigosíssima Caixa de Pandora, como o Niccolo já aqui referiu, que poderá pôr em causa aquilo que a Rússia conseguiu evitar com o fim da URSS - o revisionismo das fronteiras no espaço pós-soviético.
Acresce que o argumento utilizado pela Rússia, e cuja expressão concreta até agora foi a resposta ao ataque georgiano, arrisca-se agora a substituir o princípio sacrossanto da integridade territorial. Este foi agora substituído, efectivamente, por um outro - o da protecção de cidadãos russos onde quer que eles estejam (leia-se, no futuro próximo, Ucrânia). Com a agressão da Geórgia à Ossétia do Sul a Rússia pôde esgrimir este argumento com um relativo à-vontade: as acções de Tiblissi eram um argumento auto-suficiente para a resposta de Moscovo e aquele outro, de protecção dos cidadãos russos, era apenas utilizado como argumento supletivo. Ora, com este reconhecimento, a justificação russa para o reconhecimento da independência da Abcázia e da Ossétia do Sul, ganha uma força tal que se sobrepõe ao princípio da integridade territorial.
Duvido que Moscovo não tenha ponderado o efeito deste passo no seu próprio território - nomeadamente na Tchetchénia e no Daguestão. Fê-lo certamente e concluiu que os benefícios superam os custos.
Quanto à reacção dos países ocidentais, que reconheceram a independência do Kosovo sempre argumentando que esta não constituía qualquer precedente, estes não vão assistir impávidos e serenos a este desenvolvimento. O seu relacionamento com Moscovo vai sofrer um sério revés e, confesso, outra coisa não seria de esperar. Este passo é perigoso - tanto quanto o do Kosovo. Mas um erro não justifica outro.
Depois do erro clamoroso que foi a independência do Kosovo, Moscovo ganhou alguma "superioridade moral". Independentemente dos seus interesses nacionais, que foram o que justificaram a sua posição, a Rússia apareceu como um dos poucos países para quem o Direito Internacional ainda ditava alguma coisa. Agora esse capital esfumou-se por completo.
Esta decisão de Moscovo garante, é certo, o fim da integridade territorial georgiana, mas abre uma perigosíssima Caixa de Pandora, como o Niccolo já aqui referiu, que poderá pôr em causa aquilo que a Rússia conseguiu evitar com o fim da URSS - o revisionismo das fronteiras no espaço pós-soviético.
Acresce que o argumento utilizado pela Rússia, e cuja expressão concreta até agora foi a resposta ao ataque georgiano, arrisca-se agora a substituir o princípio sacrossanto da integridade territorial. Este foi agora substituído, efectivamente, por um outro - o da protecção de cidadãos russos onde quer que eles estejam (leia-se, no futuro próximo, Ucrânia). Com a agressão da Geórgia à Ossétia do Sul a Rússia pôde esgrimir este argumento com um relativo à-vontade: as acções de Tiblissi eram um argumento auto-suficiente para a resposta de Moscovo e aquele outro, de protecção dos cidadãos russos, era apenas utilizado como argumento supletivo. Ora, com este reconhecimento, a justificação russa para o reconhecimento da independência da Abcázia e da Ossétia do Sul, ganha uma força tal que se sobrepõe ao princípio da integridade territorial.
Duvido que Moscovo não tenha ponderado o efeito deste passo no seu próprio território - nomeadamente na Tchetchénia e no Daguestão. Fê-lo certamente e concluiu que os benefícios superam os custos.
Quanto à reacção dos países ocidentais, que reconheceram a independência do Kosovo sempre argumentando que esta não constituía qualquer precedente, estes não vão assistir impávidos e serenos a este desenvolvimento. O seu relacionamento com Moscovo vai sofrer um sério revés e, confesso, outra coisa não seria de esperar. Este passo é perigoso - tanto quanto o do Kosovo. Mas um erro não justifica outro.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
De que é que estavam à espera?
Agora que a poeira começa a assentar em torno da crise na Geórgia partilho aqui algumas reflexões sobre o que se passou e sobre as consequências deste episódio no futuro da estrutura securitária do eixo euro-atlântico.
1) A primeira pergunta que me vem à mente no meio de tudo o que se passou é: de que é que a Geórgia estava à espera? Nos últimos tempos, principalmente desde o ano passado, que a Rússia vem dando sinais cada vez mais explícitos de que aquilo que foi tradicionalmente o seu back-yard o continuará a ser durante muitos anos, não aceitando Moscovo que este passe a esfera de influência do Ocidente. Ao atacar a Ossétia do Sul, em violação dos acordos de cessar-fogo, a Geórgia "descongelou" este conflito e forneceu um pretexto único, de que Moscovo estava certamente à espera, dada a prontidão da resposta, para que a Rússia destruísse o incipiente aparelho militar (que vinha sendo, segundo relatos vários, significativamente melhorado com a ajuda dos EUA), as infra-estruturas e a economia da Geórgia.
2) A reacção da Rússia foi certamente desproporcionada face aos ataques georgianos. Mas Moscovo não perderia certamente a oportunidade única que lhe foi oferecida de bandeja pelo Presidente georgiano, cuja ingenuidade, se não fosse trágica, seria certamente cómica.
3) De facto, estaria Tiblissi à espera que os EUA, ou qualquer outro dos países que, a meu ver irresponsavelmente, apoiaram a sua adesão à NATO, fosse a seu socorro militarmente? Um país envolvido numa guerra de guerrilha no Afeganistão e outra no Iraque, iria, na mente do Presidente Saakashvili, entrar em conflito com a Rússia?
4) Este jogo de "name and shame" não pode deixar de fora os EUA. A Administração Bush foi inepta, irresponsável e ambígua. Prometeu aos georgianos a entrada na NATO, ajudou-os a armarem-se, comprometeu-se publicamente a defender a sua integridade territorial, enquanto, nos bastidores, enviava tímidas mensagens (pelo que se lê nos jornais) de contenção e de aviso sobre aquilo que Moscovo estava a fazer (v.g. aumento das relações económicas com a Abcázia e a Ossétia do Sul) e que não era mais do que uma armadilha em que Tiblissi não deveria cair. Inconscientemente, Tiblissi deveria saber que o apoio de Washington não seria tão incondicional quanto alguns poderiam crer, já que, como alguém escrevia no Washington Post, Tiblissi preferiu pediu perdão depois do que pedir permissão antes.
Face a este cenário, o que esperar no futuro? A meu ver, as consequências são relativamente lineares:
1) A Rússia atingiu os seus objectivos. Destruiu a Geórgia e logrou criar uma situação face à qual manterá em território georgiano, durante muitos e bons anos, o seu exército. Moscovo não quer a independência da Abcázia e da Ossétia do Sul (o tão propagado precedente do Kosovo é um mero recurso estilístico e as resoluções aprovadas na Duma a defenderem o reconhecimento dessa independência não passarão do Kremlin). O que Moscovo quer é ter lá tropas, é manter o conflito congelado e a Geórgia amputada.
2) Com este conflito, a Rússia chamou o bluff do Ocidente e dos EUA em particular. Aqueles que garantiriam a integridade territorial da Geórgia não fizeram mais do que apelar a um cessar-fogo (numa rara demonstração de bom senso). Moscovo está agora certa de que pode fazer o que bem entender na sua vizinhança que dificilmente alguém, em Washington ou Londres, quererá entrar em guerra por causa de Tiblissi.
3) A Geórgia (e a Ucrânia) não vão entrar na NATO. Quem pensou que os afrontos feitos a Moscovo na década de 1990 (em que num dia se dizia que a NATO não se iria alargar a Leste e em que, noutro, se acolhiam os Estados Bálticos no North Atlantic Council) se poderiam repetir desengane-se. Moscovo não o vai tolerar e deixou-o bem claro. A Ucrânia deve agora, em bom português, pôr-se a pau e pensar bem se quer manter a posição de recusa à continuação da frota russa no porto da Crimeia. O argumentário russo, nesta crise, foi "há russos na Ossétia e é nossa função e dever protegê-los". Não é sequer necessário invocar números para sabermos que a Ucrânia está dividida em dois, entre russos e ucranianos, e todos sabemos para que lado pende a Crimeia.
4) Sarkozy foi dos poucos dirigentes europeus que esteve bem. Não entrou publicamente a matar, culpando uns e outros. Assumiu uma posição conciliatória, apelando a um cessar-fogo e negociando-o rápida e eficazmente. Se a UE quer manter alguma credibilidade nesta crise e no futuro que se avizinha, sugere-se que o bom senso impere e que se evitem rumos de acção mais voluntaristas.
5) A carreira de Saakashvili está acabada. O apoio dos EUA vai ter um fim próximo e o rumo de aproximação da Geórgia à UE vai ser mais difícil. Apoiar-se-á certamente a reconstrução do país e conceder-se-ão, eventualmente, algumas benesses, mas a União não vai querer no seu seio um país comandado por gente desta laia.
Bottom-line: Moscow is back.
1) A primeira pergunta que me vem à mente no meio de tudo o que se passou é: de que é que a Geórgia estava à espera? Nos últimos tempos, principalmente desde o ano passado, que a Rússia vem dando sinais cada vez mais explícitos de que aquilo que foi tradicionalmente o seu back-yard o continuará a ser durante muitos anos, não aceitando Moscovo que este passe a esfera de influência do Ocidente. Ao atacar a Ossétia do Sul, em violação dos acordos de cessar-fogo, a Geórgia "descongelou" este conflito e forneceu um pretexto único, de que Moscovo estava certamente à espera, dada a prontidão da resposta, para que a Rússia destruísse o incipiente aparelho militar (que vinha sendo, segundo relatos vários, significativamente melhorado com a ajuda dos EUA), as infra-estruturas e a economia da Geórgia.
2) A reacção da Rússia foi certamente desproporcionada face aos ataques georgianos. Mas Moscovo não perderia certamente a oportunidade única que lhe foi oferecida de bandeja pelo Presidente georgiano, cuja ingenuidade, se não fosse trágica, seria certamente cómica.
3) De facto, estaria Tiblissi à espera que os EUA, ou qualquer outro dos países que, a meu ver irresponsavelmente, apoiaram a sua adesão à NATO, fosse a seu socorro militarmente? Um país envolvido numa guerra de guerrilha no Afeganistão e outra no Iraque, iria, na mente do Presidente Saakashvili, entrar em conflito com a Rússia?
4) Este jogo de "name and shame" não pode deixar de fora os EUA. A Administração Bush foi inepta, irresponsável e ambígua. Prometeu aos georgianos a entrada na NATO, ajudou-os a armarem-se, comprometeu-se publicamente a defender a sua integridade territorial, enquanto, nos bastidores, enviava tímidas mensagens (pelo que se lê nos jornais) de contenção e de aviso sobre aquilo que Moscovo estava a fazer (v.g. aumento das relações económicas com a Abcázia e a Ossétia do Sul) e que não era mais do que uma armadilha em que Tiblissi não deveria cair. Inconscientemente, Tiblissi deveria saber que o apoio de Washington não seria tão incondicional quanto alguns poderiam crer, já que, como alguém escrevia no Washington Post, Tiblissi preferiu pediu perdão depois do que pedir permissão antes.
Face a este cenário, o que esperar no futuro? A meu ver, as consequências são relativamente lineares:
1) A Rússia atingiu os seus objectivos. Destruiu a Geórgia e logrou criar uma situação face à qual manterá em território georgiano, durante muitos e bons anos, o seu exército. Moscovo não quer a independência da Abcázia e da Ossétia do Sul (o tão propagado precedente do Kosovo é um mero recurso estilístico e as resoluções aprovadas na Duma a defenderem o reconhecimento dessa independência não passarão do Kremlin). O que Moscovo quer é ter lá tropas, é manter o conflito congelado e a Geórgia amputada.
2) Com este conflito, a Rússia chamou o bluff do Ocidente e dos EUA em particular. Aqueles que garantiriam a integridade territorial da Geórgia não fizeram mais do que apelar a um cessar-fogo (numa rara demonstração de bom senso). Moscovo está agora certa de que pode fazer o que bem entender na sua vizinhança que dificilmente alguém, em Washington ou Londres, quererá entrar em guerra por causa de Tiblissi.
3) A Geórgia (e a Ucrânia) não vão entrar na NATO. Quem pensou que os afrontos feitos a Moscovo na década de 1990 (em que num dia se dizia que a NATO não se iria alargar a Leste e em que, noutro, se acolhiam os Estados Bálticos no North Atlantic Council) se poderiam repetir desengane-se. Moscovo não o vai tolerar e deixou-o bem claro. A Ucrânia deve agora, em bom português, pôr-se a pau e pensar bem se quer manter a posição de recusa à continuação da frota russa no porto da Crimeia. O argumentário russo, nesta crise, foi "há russos na Ossétia e é nossa função e dever protegê-los". Não é sequer necessário invocar números para sabermos que a Ucrânia está dividida em dois, entre russos e ucranianos, e todos sabemos para que lado pende a Crimeia.
4) Sarkozy foi dos poucos dirigentes europeus que esteve bem. Não entrou publicamente a matar, culpando uns e outros. Assumiu uma posição conciliatória, apelando a um cessar-fogo e negociando-o rápida e eficazmente. Se a UE quer manter alguma credibilidade nesta crise e no futuro que se avizinha, sugere-se que o bom senso impere e que se evitem rumos de acção mais voluntaristas.
5) A carreira de Saakashvili está acabada. O apoio dos EUA vai ter um fim próximo e o rumo de aproximação da Geórgia à UE vai ser mais difícil. Apoiar-se-á certamente a reconstrução do país e conceder-se-ão, eventualmente, algumas benesses, mas a União não vai querer no seu seio um país comandado por gente desta laia.
Bottom-line: Moscow is back.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Kosovo, Ossétias e Pandora
Num há direito, noutro... não há direito!
Num temos um opressor, noutro... temos um arauto (se é que se pode chamar Mikhail Saakashvili um arauto).
Mas não foram os russos quem abriu a caixa!
Num temos um opressor, noutro... temos um arauto (se é que se pode chamar Mikhail Saakashvili um arauto).
Mas não foram os russos quem abriu a caixa!
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segunda-feira, 21 de julho de 2008
De volta aos EUA
Depois de algum tempo sem me referir à campanha presidencial dos EUA, eis que volto ao tema numa altura em que a aura de invencibilidade de Obama se começa a desvanecer. O primeiro sinal de que a sua vitória em Novembro não será um passeio no parque veio das reacções à capa da última "New Yorker", revista liberal (isto é, de esquerda nos EUA) que certamente apoia Obama, mas que se dirige a um público ínfimo, capaz de perceber sátira política, e não à generalidade dos americanos que viram no cartoon de Obama vestido de muçulmano, a celebrar o black power com a sua mulher enquanto uma bandeira dos EUA ardia na fogueira, uma reflexão das suas próprias preocupações em relação ao candidato.
Mais preocupante do que isto, contudo, é a acusação, agora generalizada, de que Obama se vendeu. Traiu o seu eleitorado de esquerda, fiel e entusiasta, que lhe assegurou a vitória nas primárias, e aproxima-se agora do centro político (de que McCain se está a afastar para conquistar o eleitorado de direita que garantiu aos republicanos todas as suas vitórias desde Reagan). Este limar de posições (penso que não se pode falar de flip-flop como alguns comentadores têm dito) é normal em qualquer campanha e a maioria dos norte-americanos não se espanta, por exemplo, quando McCain recua no seu apoio à legislação que possibilitaria a legalização de imigrantes ilegais. Mas quando Obama o faz cai o Carmo e a Trindade. E cai porque a sua campanha sempre assentou numa mensagem de mudança, de não submissão à Washington-politics e de afastamento do sistema. Agora que se vê que ele é um candidato como outro qualquer - que prefere o dinheiro dos privados ao financiamento público, que começa a perceber que retirar todas as tropas do Iraque em 16 meses sem qualquer tipo de concessão é impossível, que apoia a pena de morte, que defende o direito dos americanos usarem armas - os seus apoiantes entuasiastas começam a afastar-se, fazendo a sua campanha ressentir-se, e os novos eleitores desconfiam da sua credibilidade e honestidade.
Nenhum destes sinais é positivo. E as sondagens começam a demonstrá-lo.
Mais preocupante do que isto, contudo, é a acusação, agora generalizada, de que Obama se vendeu. Traiu o seu eleitorado de esquerda, fiel e entusiasta, que lhe assegurou a vitória nas primárias, e aproxima-se agora do centro político (de que McCain se está a afastar para conquistar o eleitorado de direita que garantiu aos republicanos todas as suas vitórias desde Reagan). Este limar de posições (penso que não se pode falar de flip-flop como alguns comentadores têm dito) é normal em qualquer campanha e a maioria dos norte-americanos não se espanta, por exemplo, quando McCain recua no seu apoio à legislação que possibilitaria a legalização de imigrantes ilegais. Mas quando Obama o faz cai o Carmo e a Trindade. E cai porque a sua campanha sempre assentou numa mensagem de mudança, de não submissão à Washington-politics e de afastamento do sistema. Agora que se vê que ele é um candidato como outro qualquer - que prefere o dinheiro dos privados ao financiamento público, que começa a perceber que retirar todas as tropas do Iraque em 16 meses sem qualquer tipo de concessão é impossível, que apoia a pena de morte, que defende o direito dos americanos usarem armas - os seus apoiantes entuasiastas começam a afastar-se, fazendo a sua campanha ressentir-se, e os novos eleitores desconfiam da sua credibilidade e honestidade.
Nenhum destes sinais é positivo. E as sondagens começam a demonstrá-lo.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Justiça internacional
Já aqui expus a minha opinião sobre os Tribunais Penais Internacionais e os seus méritos na pacificação de sociedades muitas vezes devastadas por décadas de conflitos internos. Como então disse (ver aqui) tenho dúvidas sobre se não serão as Comissões de Reconciliação Nacional, que fizeram o seu caminho em países como a África do Sul, um melhor caminho a seguir.
Surgem estas reflexões a propósito da acusação pelo TPI do actual Presidente do Sudão por crimes de guerra e outras preciosidades. Eu, pessoalmente, não tenho quaisquer dúvidas que o senhor (e isto já é um overstatement) é um facínora da pior espécie. Mas essa não é a principal questão. O que importa agora estabelecer é se essa acusação, com todas as consequências políticas que terá, servirá o propósito, que será também o do TPI, de permitir a reconciliação nacional no Sudão e a efectiva implementação de um processo de paz. Tenho muitas dúvidas de que assim seja, tanto que as Nações Unidas já anunciaram que, temendo as cenas que se seguem, retirarão do país todo "o pessoal não essencial".
Neste mesmo dia, é apresentado aos Presidentes da Indonésia e de Timor-Leste um relatório de uma Comissão conjunta estabelecida para averiguar responsabilidades no período pré e pós-referendo de 1999. A culpa é largamente atribuída ao exército indonésio, mas ambos os Presidentes já vieram a público dizer que não pensam que o objectivo de pacificar a sociedade timorense (e a indonésia, já agora) seja atingido através de acusações criminais. Conhecendo Timor e lembrando-me dos recentes episódios de violência entre timorenses não me espanta que isto possa ser verdade.
Surgem estas reflexões a propósito da acusação pelo TPI do actual Presidente do Sudão por crimes de guerra e outras preciosidades. Eu, pessoalmente, não tenho quaisquer dúvidas que o senhor (e isto já é um overstatement) é um facínora da pior espécie. Mas essa não é a principal questão. O que importa agora estabelecer é se essa acusação, com todas as consequências políticas que terá, servirá o propósito, que será também o do TPI, de permitir a reconciliação nacional no Sudão e a efectiva implementação de um processo de paz. Tenho muitas dúvidas de que assim seja, tanto que as Nações Unidas já anunciaram que, temendo as cenas que se seguem, retirarão do país todo "o pessoal não essencial".
Neste mesmo dia, é apresentado aos Presidentes da Indonésia e de Timor-Leste um relatório de uma Comissão conjunta estabelecida para averiguar responsabilidades no período pré e pós-referendo de 1999. A culpa é largamente atribuída ao exército indonésio, mas ambos os Presidentes já vieram a público dizer que não pensam que o objectivo de pacificar a sociedade timorense (e a indonésia, já agora) seja atingido através de acusações criminais. Conhecendo Timor e lembrando-me dos recentes episódios de violência entre timorenses não me espanta que isto possa ser verdade.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Brasil
Uma das consequências políticas mais relatadas da recente libertação de Ingrid Betancourt das mãos das FARC foi a vitória da estratégia brasileira sobre a que tinha vindo a ser seguida pelo regime populista de Chavez. De facto, Lula da Silva não sucumbiu à fácil tentação de apelar a negociações com um grupo terrorista, nunca o seu país financiou aquele grupo nem a elite política brasileira nutria qualquer tipo de admiração expressiva pela "guerrilha marxista" (uma expressão pomposa para quem hoje em dia não se dedica a outra coisa que não o tráfico de droga). Um cenário, portanto, completamente oposto àquele que se vivia, e ainda hoje vive, na Venezuela: Chavez admirava as FARC, compreendia os seus princípios, entendia como forma legítima de os defender o uso da força e apoiava financeira e politicamente os seus dirigentes. Tudo coerente, portanto, com a sua própria ideologia política, mas, et pour cause, altamente lesivo para os interesses da Venezuela, agora subjugados a uma política externa errática, sem rumo e cuja única motivação parece ser a de fazer o que quer que seja que possa ser visto como uma afronta ao "Império".
A este propósito, e sobre a subtil e pacífica ascensão política do Brasil e a muito publicitada queda da Venezuela, leia-se isto.
A este propósito, e sobre a subtil e pacífica ascensão política do Brasil e a muito publicitada queda da Venezuela, leia-se isto.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
O primeiro teste de Medvedev
O Ocidente decidiu dar, e bem, uma oportunidade ao novo Presidente russo. As suas prioridades em matéria de política externa não diferem muito das de Putin, pelo contrário, mas a maneira como estas são enunciadas e defendidas é claramente diferente. O estilo é outro e em relações internacionais interessa tanto aquilo que se diz como a forma como se diz.
Hoje o Presidente Medvedev poderá estar perante o seu primeiro grande teste. A Geórgia atacou a Ossétia do Sul, respondendo, alega Tiblissi, a um ataque a um checkpoint (vide aqui) Ora, é conhecido o apoio russo às regiões separatistas da Geórgia, onde mantém supostas forças de manutenção de paz. A reacção da Rússia a estes acontecimentos (depois de ter enviado reforços militares para a Abcázia na sequência da decisão da NATO na Cimeira de Bucareste de admitir ponderar no futuro a adesão da Geórgia à Aliança) determinará certamente se a boa-vontade até aqui demonstrada pelo Ocidente tem razão de ser ou se se vai esfumar dentro de momentos.
Uma situação a acompanhar...
Hoje o Presidente Medvedev poderá estar perante o seu primeiro grande teste. A Geórgia atacou a Ossétia do Sul, respondendo, alega Tiblissi, a um ataque a um checkpoint (vide aqui) Ora, é conhecido o apoio russo às regiões separatistas da Geórgia, onde mantém supostas forças de manutenção de paz. A reacção da Rússia a estes acontecimentos (depois de ter enviado reforços militares para a Abcázia na sequência da decisão da NATO na Cimeira de Bucareste de admitir ponderar no futuro a adesão da Geórgia à Aliança) determinará certamente se a boa-vontade até aqui demonstrada pelo Ocidente tem razão de ser ou se se vai esfumar dentro de momentos.
Uma situação a acompanhar...
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Au! Ai! Ui!
E agora?
Quem me dizia que os referendos sobre política externa não valem o papel que neles se gasta tinah razão; continuo a não ver motivos para sujeitar este género de decisões à consulta popular - e não, não tem a ver com achar que ninguém está preparado para, consciência, analisar o Tratado; tem a ver com a dificuldade crescente de firmar qualquer espécie de acordo com os Governos de certos países, uma vez que as suas decisões em política externa vão ser julgadas à luz da qualidade do saneamento básico ou das estradas municipais.
Se calhar vão tirar-nos o Tratado de Lisboa. Já não está a ser porreiro, pá. Por mim, espera-se até que os eleitores irlandeses digam que sim. Marque-se novo referendo para o dia seguinte ao Dia de São Patrício, ou coisa parecida.
Que treta. Chamar "de Lisboa" a qualquer iniciativa europeia vai passar a ter um mau karma, se nos lembrarmos da Estratégia. Sinto-me, de certo modo, vingado; sempre fui a favor de um tratado com nome impronunciável, como Carvalhelhos ou São Gens. Isso sim, ter-nos-ia levado longe.
Para poupar tempo na leitura da imprensa:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1332208&idCanal=11 - Público
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article4128055.ece - Times Online
http://www.elpais.com/articulo/internacional/primeros/resultados/apuntan/rechazo/Irlanda/Tratado/Lisboa/elpepuint/20080613elpepuint_13/Tes
El País
Quem me dizia que os referendos sobre política externa não valem o papel que neles se gasta tinah razão; continuo a não ver motivos para sujeitar este género de decisões à consulta popular - e não, não tem a ver com achar que ninguém está preparado para, consciência, analisar o Tratado; tem a ver com a dificuldade crescente de firmar qualquer espécie de acordo com os Governos de certos países, uma vez que as suas decisões em política externa vão ser julgadas à luz da qualidade do saneamento básico ou das estradas municipais.
Se calhar vão tirar-nos o Tratado de Lisboa. Já não está a ser porreiro, pá. Por mim, espera-se até que os eleitores irlandeses digam que sim. Marque-se novo referendo para o dia seguinte ao Dia de São Patrício, ou coisa parecida.
Que treta. Chamar "de Lisboa" a qualquer iniciativa europeia vai passar a ter um mau karma, se nos lembrarmos da Estratégia. Sinto-me, de certo modo, vingado; sempre fui a favor de um tratado com nome impronunciável, como Carvalhelhos ou São Gens. Isso sim, ter-nos-ia levado longe.
Para poupar tempo na leitura da imprensa:
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1332208&idCanal=11 - Público
http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article4128055.ece - Times Online
http://www.elpais.com/articulo/internacional/primeros/resultados/apuntan/rechazo/Irlanda/Tratado/Lisboa/elpepuint/20080613elpepuint_13/Tes
El País
quinta-feira, 5 de junho de 2008
E acabou...
Já é oficial: Hillary Clinton vai anunciar no sábado que desiste da corrida à nomeação democrata, aproveitando o ensejo para manifestar o seu apoio a Obama...
Depois da campanha que também se fez aqui no blog, os parabéns são devidos não apenas a Obambi (como os republicanos agora lhe chamam - e que terá de concorrer contra McBush, como os democratas gostam de chamar a McCain), mas também ao Otto.
Pela minha parte, continuo a achar que Hillary seria uma melhor opção, mas rendo-me às evidências e só espero, agora, que Obama ganhe em Novembro. Se tal acontecer, não tanto por ser ele, mas, acima de tudo, por não ser um republicano, haverá, automaticamente, uma melhoria significativa da imagem externa dos EUA (e a percepção conta muito em relações internacionais). Outras coisas, espero, lhe seguirão: um afastamento das teorias unilateralistas; um regresso, enquanto interveniente activo, a vários fora multilaterais (abandonando o estatuto oficioso de observador que tem assumido nos últimos 8 anos); um maior empenho nas questões climáticas; uma revisão sensata da questão do envolvimento no Iraque (que não irá, certamente, corresponder às ideias radicais de retirada imediata que Obama agora propõe); um envolvimento ab initio no conflito israelo-palestiniano (e não reservado apenas para o final da Presidência - como Clinton e Bush fizeram), entre tantas outras coisas em que os EUA não só são precisos, mas são fundamentais.
Depois da campanha que também se fez aqui no blog, os parabéns são devidos não apenas a Obambi (como os republicanos agora lhe chamam - e que terá de concorrer contra McBush, como os democratas gostam de chamar a McCain), mas também ao Otto.
Pela minha parte, continuo a achar que Hillary seria uma melhor opção, mas rendo-me às evidências e só espero, agora, que Obama ganhe em Novembro. Se tal acontecer, não tanto por ser ele, mas, acima de tudo, por não ser um republicano, haverá, automaticamente, uma melhoria significativa da imagem externa dos EUA (e a percepção conta muito em relações internacionais). Outras coisas, espero, lhe seguirão: um afastamento das teorias unilateralistas; um regresso, enquanto interveniente activo, a vários fora multilaterais (abandonando o estatuto oficioso de observador que tem assumido nos últimos 8 anos); um maior empenho nas questões climáticas; uma revisão sensata da questão do envolvimento no Iraque (que não irá, certamente, corresponder às ideias radicais de retirada imediata que Obama agora propõe); um envolvimento ab initio no conflito israelo-palestiniano (e não reservado apenas para o final da Presidência - como Clinton e Bush fizeram), entre tantas outras coisas em que os EUA não só são precisos, mas são fundamentais.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Why we love the States
Não será se calhar o melhor e mais memorável post, mas não resisti... Esta pequena blague ilustra bem a grandeza dos EUA:
Why did the chicken cross the road?
BARACK OBAMA:The chicken crossed the road because it was time for a CHANGE! The chicken wanted CHANGE!
JOHN McCAIN:My friends, that chicken crossed the road because he recognized the need to engage in cooperation and dialogue with all the chickens on the other side of the road.
HILLARY CLINTON:When I was First Lady, I personally helped that little chicken to cross the road. This experience makes me uniquely qualified to ensure -- right from Day One! -- that every chicken in this country gets the chance it deserves to cross the road. But then, this really isn't about me.......
OPRAH:Well, I understand that the chicken is having problems, which is why he wants to cross this road so bad. So instead of having the chicken learn from his mistakes and take falls, which is a part of life, I'm going to give this chicken a car so that he can just drive across the road and not live his life like the rest of the chickens.
GEORGE W. BUSH:We don't really care why the chicken crossed the road. We just want to know if the chicken is on our side of the road, or not. The chicken is either against us, or for us. There is no middle ground here.
COLIN POWELL:Now to the left of the screen, you can clearly see the satellite image of the chicken crossing the road...
JOHN KERRY: Although I voted to let the chicken cross the road, I am now against it! It was the wrong road to cross, and I was misled about the chicken's intentions. I am not for it now, and will remain against it.
MARTHA STEWART:No one called me to warn me which way that chicken was going. I had a standing order at the Farmer's Market to sell my eggs when the price dropped to a certain level. No little bird gave me any insider information.
JERRY FALWELL:Because the chicken was gay! Can't you people see the plain truth?' That's why they call it the 'other side.' Yes, my friends, that chicken is gay. And if you eat that chicken, you will become gay too. I say we boycott all chickens until we sort out this abomination that the liberal media white washes with seemingly harmless phrases like 'the other side. That chicken should not be crossing the road. It's as plain and as simple as that.
BILL GATES:I have just released e-Chicken2007, which will not only cross roads, but will lay eggs, file your important documents, and balance your check book. Internet Explorer is an integral part of the Chicken. This new platform is much more stable and will never cra...#@&&^(C% ..reboot.
BILL CLINTON:I did not cross the road with THAT chicken. What is your definition of chicken?AL GORE:I invented the chicken!
DICK CHENEY:Where's my gun?
AL SHARPTON:Why are all the chickens white? We need some black chickens!
PAUL KAGAME:The French pushed the chicken to the other side of the road. Fortunately we all know what the French are up to.
Why did the chicken cross the road?
BARACK OBAMA:The chicken crossed the road because it was time for a CHANGE! The chicken wanted CHANGE!
JOHN McCAIN:My friends, that chicken crossed the road because he recognized the need to engage in cooperation and dialogue with all the chickens on the other side of the road.
HILLARY CLINTON:When I was First Lady, I personally helped that little chicken to cross the road. This experience makes me uniquely qualified to ensure -- right from Day One! -- that every chicken in this country gets the chance it deserves to cross the road. But then, this really isn't about me.......
OPRAH:Well, I understand that the chicken is having problems, which is why he wants to cross this road so bad. So instead of having the chicken learn from his mistakes and take falls, which is a part of life, I'm going to give this chicken a car so that he can just drive across the road and not live his life like the rest of the chickens.
GEORGE W. BUSH:We don't really care why the chicken crossed the road. We just want to know if the chicken is on our side of the road, or not. The chicken is either against us, or for us. There is no middle ground here.
COLIN POWELL:Now to the left of the screen, you can clearly see the satellite image of the chicken crossing the road...
JOHN KERRY: Although I voted to let the chicken cross the road, I am now against it! It was the wrong road to cross, and I was misled about the chicken's intentions. I am not for it now, and will remain against it.
MARTHA STEWART:No one called me to warn me which way that chicken was going. I had a standing order at the Farmer's Market to sell my eggs when the price dropped to a certain level. No little bird gave me any insider information.
JERRY FALWELL:Because the chicken was gay! Can't you people see the plain truth?' That's why they call it the 'other side.' Yes, my friends, that chicken is gay. And if you eat that chicken, you will become gay too. I say we boycott all chickens until we sort out this abomination that the liberal media white washes with seemingly harmless phrases like 'the other side. That chicken should not be crossing the road. It's as plain and as simple as that.
BILL GATES:I have just released e-Chicken2007, which will not only cross roads, but will lay eggs, file your important documents, and balance your check book. Internet Explorer is an integral part of the Chicken. This new platform is much more stable and will never cra...#@&&^(C% ..reboot.
BILL CLINTON:I did not cross the road with THAT chicken. What is your definition of chicken?AL GORE:I invented the chicken!
DICK CHENEY:Where's my gun?
AL SHARPTON:Why are all the chickens white? We need some black chickens!
PAUL KAGAME:The French pushed the chicken to the other side of the road. Fortunately we all know what the French are up to.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Preocupações com a África do Sul
As últimas notícias que nos chegam da África do Sul são para lá de preocupantes - são um abalo grave para quem acredita que, para além dos traumas profundos por que passou aquele país e dos problemas monumentais de que sofre, a África do Sul será ainda um grande país africano.
Os motivos dos linchamentos e da selvajaria (não me ocorrem outras palavras, mas mantenho-me, como sempre, receptivo a sugestões) não são importantes para quem olha para esta questão da perspectiva da política externa portuguesa. A etno-antropo-economo-sociologia fará o seu trabalho nesse campo; neste caso, para Portugal (no meu entender), isso não importa.
Preocupa-me a grande quantidade de portugueses, luso-descendentes e lusófonos em geral (moçambicanos, claro) na África do Sul. São comunidades muitíssimo vulneráveis a este género de desordem (são estrangeiros, são ou trabalhadores pouco qualificados ou donos de bens "saqueáveis" (pequeno comércio, distribuição alimentar).
Preocupa-me, caso esta fúria continue a fazer vítimas entre estrangeiros pobres, ou caso mude de direcção, como o vento, contra os brancos, que as autoridades portuguesas no terreno pouco ou nada possam fazer. E deveriam poder fazer: há planos de contingência para estas situações? Planos de evacuação ou de repatriamento, necessariamente organizados com as autoridades sul-africanas (não se pode mandar 2000 GOE para Joanesburgo)? E quando cenas destas se repetirem em países que não têm a infra-estrutura bastante razoável da África do Sul?
E daqui a 2 anos, quando a África do Sul receber o Mundial de futebol?
Fica aqui o link para uma notícia do Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1329393 e outra do The Times Online: http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/africa/article3960471.ece
Os motivos dos linchamentos e da selvajaria (não me ocorrem outras palavras, mas mantenho-me, como sempre, receptivo a sugestões) não são importantes para quem olha para esta questão da perspectiva da política externa portuguesa. A etno-antropo-economo-sociologia fará o seu trabalho nesse campo; neste caso, para Portugal (no meu entender), isso não importa.
Preocupa-me a grande quantidade de portugueses, luso-descendentes e lusófonos em geral (moçambicanos, claro) na África do Sul. São comunidades muitíssimo vulneráveis a este género de desordem (são estrangeiros, são ou trabalhadores pouco qualificados ou donos de bens "saqueáveis" (pequeno comércio, distribuição alimentar).
Preocupa-me, caso esta fúria continue a fazer vítimas entre estrangeiros pobres, ou caso mude de direcção, como o vento, contra os brancos, que as autoridades portuguesas no terreno pouco ou nada possam fazer. E deveriam poder fazer: há planos de contingência para estas situações? Planos de evacuação ou de repatriamento, necessariamente organizados com as autoridades sul-africanas (não se pode mandar 2000 GOE para Joanesburgo)? E quando cenas destas se repetirem em países que não têm a infra-estrutura bastante razoável da África do Sul?
E daqui a 2 anos, quando a África do Sul receber o Mundial de futebol?
Fica aqui o link para uma notícia do Público: http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1329393 e outra do The Times Online: http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/africa/article3960471.ece
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Wake up and smell the coffee
Parece ser este o sentimento generalizado de quem acompanha a corrida à nomeação democrata para as eleições presidenciais norte-americanas. Hillary Clinton, infelizmente, perdeu. Obama é o escolhido e parece que dirá isso mesmo já amanhã no Iowa, regressando ao Estado que lhe deu a primeira vitória nas primárias e que lhe permitiu apresentar-se como um candidato viável (já que o Iowa é um Estado predominantemente branco).
Hillary, contudo, não parece disposta a aceitar as evidências e a render-se aos factos. Obama lidera no número de pledged delegates, no popular vote e no número de superdelegates. Está a poucas dezenas de votos de conseguir a maioria absoluta na Convenção. Mas, ainda assim, Hillary não desiste. Porquê? Custa-me a acreditar nas teorias mesquinhas de que esta resistência se deve à secreta esperança de que, caso consiga aguentar até 3 de Junho (dia das últimas primárias), Obama a ajude a pagar as contas da campanha. Outros dizem que é agora no cargo de Vice-Presidente que ela se concentra. Outros, finalmente, defendem que ela ainda não foi simplesmente capaz de aceitar que uma campanha que tinha tudo para ser um passeio no parque se transformou num pesadelo político e financeiro. Inclino-me mais para esta última...
A questão que agora se impõe é quem irá concorrer com Obama. John Edwards já pôs de lado essa hipótese, não descartando contudo a possibilidade de vir a ser nomeado Attorney-General e Clinton duvido que queira (já foi nº 2 durante muito tempo). Obama, contudo, sabe que tem de ter um VP capaz de apelar aos grupos mais sensíveis a Edwards e a Clinton: os blue-collar voters, sem educação superior, com pequenos salários, preocupados essencialmente com o estado da economia. Terá de ser um homem branco (uma mulher que não Clinton seria inovação a mais para os eleitores), do Sul dos EUA e com capacidade de mobilizar aquele eleitorado. Se Clinton sair com graciosidade da campanha até pode ser que ajude Obama nessa tarefa.
Um segundo momento em que importa reflectir é a eleição presidencial em si. McCain tem aproveitado este tempo de luta fraticida no Partido Democrático para se ir estabelecendo no campo republicano e para evitar contestações desnecessárias assim que os democratas se entenderem e ele passar a ter um único opositor.
Confesso que a luta Obama-McCain me inquieta e duvido, sinceramente, que Obama ganhe. O factor raça terá certamente uma tremenda influência, mas não será o único. Obama, como se viu recentemente, não sabe reagir a uma campanha à la Karl Rove, que Clinton ensaiou, mas de que logo desistiu. Por outro lado, o reverendo Wright não ficará calado, tal é a sua sede de protagonismo. E a falta de good judgement de um candidato a Presidente que não se apercebeu, ao longo de 20 anos, da natureza do Reverendo (para quem o VIH é uma criação do Governo dos EUA para exterminar os pretos), não deixará certamente de ser abundantemente explorada pelos republicanos. Há, depois, os argumentos que Clinton vem testando sem grande sucesso: falta de experiência política e executiva, a que McCain juntará falta de experiência militar, e incapacidade de ganhar os swing states, que são quem tudo decidirá...
sexta-feira, 2 de maio de 2008
A Universidade da CPLP
Há cerca de uma semana, com pouco ou nenhum destaque dos meios de comunicação portugueses (que eu visse), o ministro dos Assuntos Exteriores do Brasil, Celso Amorim, anunciou o projecto de criar uma «universidade da CPLP». Esta instituição seria sediada no Nordeste brasileiro e metade das vagas seria para estudantes desse país, enquanto que as demais seriam para os outros PA (africanos e asiático) LOP.
Tem graça. Não estou - longe disso! - contra o projecto de uma Universidade da CPLP, e sei bem a distância que vai das palavras aos actos; mas continuo a ficar assombrado com a displicência com que se lida em Portugal com as escassas oportunidades de exercer soft power naquilo que entendemos como o nosso espaço tradicional de influência e solidariedade.
Por aqui grita-se aqui d'El-rei por um acordo ortográfico que faz desaparecer as sagradas consoantes que não pronunciamos - mas mexermo-nos para que a língua portuguesa não passe a ser padronizada pelo português do Brasil, e atrair a Portugal e às suas causas as camadas jovens e promissoras dos países com quem partilhamos Língua e História? Isso talvez dê trabalho, talvez exija uma política externa não só de cultura como de investimento na imagem e, pior que tudo, despesas. A diplomacia económica é mais para vender rolhas, não é?
Parabéns ao Brasil, então, por aproveitar bem as oportunidades, se este projecto se concretizar. Portugal foi grande assim, e espero (mais: tenho fé!) que Brasil se engrandeça assim também.
Tem graça. Não estou - longe disso! - contra o projecto de uma Universidade da CPLP, e sei bem a distância que vai das palavras aos actos; mas continuo a ficar assombrado com a displicência com que se lida em Portugal com as escassas oportunidades de exercer soft power naquilo que entendemos como o nosso espaço tradicional de influência e solidariedade.
Por aqui grita-se aqui d'El-rei por um acordo ortográfico que faz desaparecer as sagradas consoantes que não pronunciamos - mas mexermo-nos para que a língua portuguesa não passe a ser padronizada pelo português do Brasil, e atrair a Portugal e às suas causas as camadas jovens e promissoras dos países com quem partilhamos Língua e História? Isso talvez dê trabalho, talvez exija uma política externa não só de cultura como de investimento na imagem e, pior que tudo, despesas. A diplomacia económica é mais para vender rolhas, não é?
Parabéns ao Brasil, então, por aproveitar bem as oportunidades, se este projecto se concretizar. Portugal foi grande assim, e espero (mais: tenho fé!) que Brasil se engrandeça assim também.
quarta-feira, 30 de abril de 2008
De volta à vaca fria
Esperávamos, aqui no blog, que a Pensilvânia fosse decisiva e permitisse encerrar, de vez, a campanha democrata. Não foi o que aconteceu, infelizmente. Daí o (anormalmente) longo período entre as eleições primárias e o primeiro post sobre o seu resultado.
Clinton ganhou por 10% dos votos, conseguindo, assim, alcançar a que era considerada pela generalidade dos media norte-americanos como a marca mínima para se manter na campanha.
Mais do que a vitória de Clinton, já previsível, o interessante é que parece que a maré está de facto a mudar. Obama saiu muito fragilizado da Pensilvânia e não parece que, desde então, tenha conseguido recuperar o tão falado momentum. A crise económica está aí e as pessoas parecem cada vez menos dispostas a entregarem o país a alguém tido por inexperiente. Por outro lado, a questão da raça tem jogado um importante papel, contrariamente ao que todos desejaríamos. Nas sondagens à boca das urnas são muitos os eleitores sem pejo em admitir que, apesar de votarem Obama agora, não o fariam numa eleição geral. Finalmente, os comentários do Reverendo Wright não ajudam nada à credibilização de Obama.
Por tudo isto, Clinton está agora mais segura. As sondagens indicam-na agora como a candidata democrata mais preparada para vencer McCain e as próximas eleições no Indiana e na Carolina do Norte podem, essas sim, vir a ser decisivas.
A este propósito, não resisto a partilhar esta pequena pérola, de que o Otto me falou e que é, agora, ainda mais actual.
Clinton ganhou por 10% dos votos, conseguindo, assim, alcançar a que era considerada pela generalidade dos media norte-americanos como a marca mínima para se manter na campanha.
Mais do que a vitória de Clinton, já previsível, o interessante é que parece que a maré está de facto a mudar. Obama saiu muito fragilizado da Pensilvânia e não parece que, desde então, tenha conseguido recuperar o tão falado momentum. A crise económica está aí e as pessoas parecem cada vez menos dispostas a entregarem o país a alguém tido por inexperiente. Por outro lado, a questão da raça tem jogado um importante papel, contrariamente ao que todos desejaríamos. Nas sondagens à boca das urnas são muitos os eleitores sem pejo em admitir que, apesar de votarem Obama agora, não o fariam numa eleição geral. Finalmente, os comentários do Reverendo Wright não ajudam nada à credibilização de Obama.
Por tudo isto, Clinton está agora mais segura. As sondagens indicam-na agora como a candidata democrata mais preparada para vencer McCain e as próximas eleições no Indiana e na Carolina do Norte podem, essas sim, vir a ser decisivas.
A este propósito, não resisto a partilhar esta pequena pérola, de que o Otto me falou e que é, agora, ainda mais actual.
quinta-feira, 24 de abril de 2008
Unidade europeia
O Parlamento Europeu aprovou um relatório em que critica duramente os Estados-membros que aceitaram assinar acordos bilaterais com os EUA relativos à troca de dados dos passageiros aéreos em troca da respectiva admissão no programa norte-americano de supressão de vistos. Nada de mal haveria nestes acordos se:
1) esta não fosse uma competência comunitária (não a relativa aos vistos, que continua a ser matéria reservada a cada Estado, mas sim a que diz respeito à troca de informação dos passageiros - e esta faz sentido que seja comunitária, até porque um português (Portugal não assinou nenhum acordo do género) que embarque em Praga (a República Checa assinou) para os EUA verá todos os seus dados transmitidos a Washington, enquanto que se partisse de Lisboa isso não acontecia. Acresce que os dados transmitidos são, no mínimo, invasivos - desde de todo o historial de viagens, ao número do cartão de crédito, passando por eventuais exigências alimentares expressas pelos passageiros;
2) a assinatura destes acordos não relevasse uma das mais típicas características dos novos Estados-membros da UE e que justifica que ainda utilizemos esta designação: o extremo voluntarismo com que se socorreram dos princípios da unidade e solidariedade europeias quando tal lhes convém (v.g. quando têm de lidar com certos vizinhos), mas também a facilidade com que os ignoram quando pensam que isso os favorece (é o caso dos ditos acordos);
3) finalmente, nada haveria de mal nestes acordos se eles não contribuíssem para igualmente demonstrar o sucesso das políticas externas de muitos países terceiros à UE, nomeadamente Rússia e EUA, que apostam, quando tal lhes convém, nas suas relações bilaterais com Estados membros individuais, ignorando o conjunto da União. E o triste é que conseguem...
segunda-feira, 21 de abril de 2008
Is Obama too cool to win?
E finalmente, alguém põe o dedo na ferida: o Obama está demasiado «lá» para ser o candidato ideal. Duas análises muito interessantes e, como não podia deixar de ser, bem escritas, no Times Online:
As primárias da Pensilvânia são amanhã, e aí, espero em Deus, poderemos deixar em paz os nossos leitores. Haverá fumo branco (alimentado, anseio, pelo material de campanha de uma candidata que não nomeio). Mas talvez não, talvez não, e quem fará a festa é o Sebastião.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Nós de olhos postos no Mundo!
Porque às vezes nos custa perceber o que se passa no Mundo, decidimos publicar a título permanente, o link para um mapa interactivo, actualizado a cada 5 minutos, contendo breve informação sobre os principais incidentes com interesse para a comunidade internacional.
Claro que está que, como todos os projectos deste género, faltam algumas informações relativas a determinados países - o que poderia levar-nos a pensar que não se passa nada nesses países...
Uma vez que a maior parte destes incidentes são registados através de informação publica e livre, torna-se indispensável haver liberdade de expressão e informação para o mapa interactivo funcionar em pleno.
Limitações àparte, o mapa está suficientemente completo para termos um panorama geral do (mau) estado do Globo!
Claro que está que, como todos os projectos deste género, faltam algumas informações relativas a determinados países - o que poderia levar-nos a pensar que não se passa nada nesses países...
Uma vez que a maior parte destes incidentes são registados através de informação publica e livre, torna-se indispensável haver liberdade de expressão e informação para o mapa interactivo funcionar em pleno.
Limitações àparte, o mapa está suficientemente completo para termos um panorama geral do (mau) estado do Globo!
quinta-feira, 17 de abril de 2008
Entretanto, em Itália...
Berlusconi ganhou, com uma maioria maior do que aquela que ele próprio esperaria e o circo já começou: o Governo espanhol é demasiado cor-de-rosa e em Itália o novo executivo não poderá ser tão paritário, já que lá a política é coisa de homens - Berlusconi dixit.
Note-se ainda que a maioria de Berlusconi é, em grande medida, função do crescimento eleitoral do Liga do Norte - partido do nada recomendável Sr. Bossi. A este propósito, aqui está um cartaz elucidativo (que diz qualquer coisa como: eles também aceitaram a imigração e agora vivem em reservas!!!!). Comentários para quê?
segunda-feira, 14 de abril de 2008
Este post não é sobre política externa (II)
O Conserto das Nações coloca-se indiscutivelmente à frente no panorama bloguístico nacional com este passo de gigante: quais eleições no Zimbabué, qual atribulado percurso da tocha olímpica, quais biocombustíveis, qual queda de Fidel Castro e democratização de Cuba! Disso já falámos aqui. Disto é que não.
E não, leitor, não nos agradeça. Estamos todos na linha da frente da modernidade, e só com um ano de atraso. Para um país que se queixa há séculos de estar décadas atrás de todos os demais, reconheça-se que não estamos assim tão mal, pelo menos no que toca às expressões culturais e recreativas globais.
E não, leitor, não nos agradeça. Estamos todos na linha da frente da modernidade, e só com um ano de atraso. Para um país que se queixa há séculos de estar décadas atrás de todos os demais, reconheça-se que não estamos assim tão mal, pelo menos no que toca às expressões culturais e recreativas globais.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Pode haver banho de sangue no Zimbabwe...
A julgar pelas informações do The Zimbabwe Times (http://thezimbabwetimes.com/page890.htm), Mugabe prepara a ultima ronda das presidenciais com algum esmero...
O periódico de Harare até publica os nomes dos 200 capatazes de Mugabe que foram enviados aos 4 cantos do país. Receio que o homem não saiba como sair de uma situação que o ultrapassa e da qual não pode sair por cima...
Manifestações Olímpicas
Sou provavelmente dos poucos seres humanos que considera uma covardia esta onda de protestos em torno dos Jogos Olímpicos na China. Concordo, o Tibete aos Tibetanos, mas discordo na necessidade de transformar a volta ao mundo do facho olímpico numa feira de protestos (a ver quem protesta mais veementemente contra a política chinesa para o Tibete).
Quando os JO são usados para manipulação política (munique '72) a coisa corre necessariamente mal... e duvida-se da eficácia dos boicotes (Moscovo '80) como forma de mudar atitudes políticas.
Quem perde é o desporto, são os atletas, são os fãs do desporto e dos ideais olímpicos, que cada vez mais são esquecidos a favor da demagogia barata e fácil. Concordo que se exija à China uma atitude diferente em relação ao Tibete na Assembleia Geral das Nações Unidas. Não concordo que se usem os JO como arma de arremesso político.
E sobre a posição do nosso Presidente da República... considero-a sóbria, digna e honrada. Diz que não vai e pronto.
PS - Creio que o Dalai Lama agradece a 'boa' intenção dos protestos, mas é capaz de concordar comigo...
Quando os JO são usados para manipulação política (munique '72) a coisa corre necessariamente mal... e duvida-se da eficácia dos boicotes (Moscovo '80) como forma de mudar atitudes políticas.
Quem perde é o desporto, são os atletas, são os fãs do desporto e dos ideais olímpicos, que cada vez mais são esquecidos a favor da demagogia barata e fácil. Concordo que se exija à China uma atitude diferente em relação ao Tibete na Assembleia Geral das Nações Unidas. Não concordo que se usem os JO como arma de arremesso político.
E sobre a posição do nosso Presidente da República... considero-a sóbria, digna e honrada. Diz que não vai e pronto.
PS - Creio que o Dalai Lama agradece a 'boa' intenção dos protestos, mas é capaz de concordar comigo...
terça-feira, 1 de abril de 2008
A Aliança II
O Presidente Bush (ele ainda está na Casa Branca, ao contrário daquilo que o circo das primárias poderia fazer crer) apoia firmemente a entrada da Ucrânia na NATO.
E faz muito bem. Ele que apoie firmemente o que quiser até 21 de Janeiro de 2009, não me parece que vá fazer nem grande bem nem grande mossa. Qualquer assunto mais importante vai caber aos senhores que se seguem, Dr. Medvedev and Mr. Putin, por um lado e... venha quem vier, pelo outro.
Seguindo a linha do Sebastião, a Ucrânia está na posição ingrata de ser demasiado importante para ser deixada aos ucranianos. Está na zona de fricção das duas potências da Europa, e qualquer escolha que faça terá consequências, algumas delas imprevisíveis.
Por isso pode ser bom decidir não decidir. Ser «marca», «tampão» ou «terra de ninguém» não é necessariamente mau, especialmente para quem se vê empurrado pelas circunstâncias para uma posição defensiva. Se Kiev tivesse planos de hegemonia, ou mágoas irredentistas, seria mais difícil. Mas assim, talvez haja mais espaço para beneficiar da situação de "amor que não ousa dizer o seu nome" do Ocidente, ao mesmo tempo que não hostiliza abertamente a Rússia.
Equilibrismo, sustos, ansiedade? Com certeza, mas a alternativa, e recente, era ser uma repúpblica socialista soviética, e parece que os ucranianos não têm muitas saudades disso.
Zimbabwe
Ainda não há resultados definitivos e não há futurólogo que nos diga com certeza o que vai acontecer no Zimbabwe. Mas não deixa de haver um fundo de esperança de que as coisas venham a mudar. Só podemos esperar que tal venha de facto a acontecer. A bem do Zimbabwe.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Tibete
O que se está a passar no Tibete não é tanto uma surpresa, mas antes uma confirmação do que a China está disposta a fazer, mesmo nas vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, para manter a unidade da pátria. Taiwan deve tomar nota.
Mas mais do que discorrer sobre as acções dos monges e as represálias do exército, gostaria, aqui, de me referir às hipóteses de boicote dos JO que sistematicamente são referidas, tanto pelos eurodeputados como, até, pela parelha Sarkozy-Kouchner.
A UE deve, sem medos nem hesitações, assumir os seus valores e promover a sua disseminação sem quaisquer receios. Até aí estaremos todos de acordo (penso eu!). Afirmar já que se boicotarão as cerimónias de abertura e encerramento dos Jogos (oportunidade única para a liderança chinesa mostrar a todo o mundo o seu progresso e desenvolvimento) será a melhor maneira de o fazer? A meu ver, não. Felizmente já ninguém se refere a boicotes pelos atletas, que apenas servem para pôr em causa o espírito olímpico (que muito bem pode fazer a populações limitadas nos seus contactos com o exterior). O que está hoje em dia em causa é um boicote político. Humilhar a China não aparecendo. Sinceramente, duvido que funcione. Pequim poderá estar preocupada com a imagem que transmite. A limpeza das ruas, a deslocalização de fábricas, as aulas públicas aos cidadãos com matérias como "fazer uma fila", são sinais disso mesmo. Mas há coisas mais importantes para a China do que a sua imagem internacional. A unidade do país é uma delas. E por isso não há boicote que funcione. Daí que seja preferível manter a pressão, exigir mais diálogo, procurar manter o assunto na agenda, mas não misturar o plano político com o desportivo, isolando Pequim com países pouco recomendáveis, deteriorando as relações com o Ocidente e fechando possíveis portas de entendimento futuro.
terça-feira, 25 de março de 2008
Regresso
Que não se julgue que O Conserto das Nações é gerido e erigido por gente com pouco que fazer, nem muito menos por gente que não tira férias na Páscoa. Dito isto, segue-se uma curtíssima resenha do pouco que se passa por este mundo fora:
3 - Por fim, uma nota de humor e boa disposição vinda do mais improvável dos lugares, e que é já bem exemplificativa de que sopram ventos diferentes daquela remota parte do mundo. Seja como for, o momento musical que se segue é muitíssimo bonito, e vale a pena:
1 - China, Tibete, Jogos Olímpicos. Os únicos lugares do mundo onde não há secessões possíveis é nos membros permanentes do Conselho de Segurança. Excepção feita à URSS, por desistência/dissolução da própria, e às velhas potências coloniais Reino Unido e França, porque outros membros do Conselho de Segurança (não digo nomes) assim o decidiram. Estabelecer regras neste mundo, como se vê, não é fácil.
2 - SEXA PR está em Moçambique, falando do Renault Dauphine com que "desbravou África". Uma escolha de palavras a que talvez alguns moçambicanos não terão achado graça, mas que, não obstante, talvez seja desculpável, sabendo quão poderoso é o feitiço do Império. Ninguém é perfeito.
3 - Por fim, uma nota de humor e boa disposição vinda do mais improvável dos lugares, e que é já bem exemplificativa de que sopram ventos diferentes daquela remota parte do mundo. Seja como for, o momento musical que se segue é muitíssimo bonito, e vale a pena:
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A Aliança
Regresso, depois de um longo período de ausência, para escrever sobre um assunto que tem, em Portugal, passado um pouco despercebido, mas que é essencial não só para a segurança da zona euro-atlântica, mas também, e consequentemente, para o conjunto das relações da UE com a Rússia. Refiro-me à próxima Cimeira da NATO em Bucareste, em que deverão ser aprovados os Membership Action Plans (antecâmaras de uma futura adesão) da Albânia, da Croácia e, provavelmente, da Macedónia (se a Grécia aceitar um compromisso sobre o nome do país). Preocupante, contudo, é a discussão que terá igualmente lugar sobre as aspirações de adesão da Ucrânia e da Geórgia.
Há Estados-membros da Aliança, com os EUA à cabeça, que apoiam fortemente a adesão de Kiev e de Tiblissi. Do lado de cá do Atlântico, contudo, a perspectiva é um pouco mais comedida e, a meu ver, mais realista.
A NATO é uma aliança de defesa que, com o fim da Guerra-fria, precisou de uns anos para encontrar o seu novo rumo, após o colapso da sua raison d'être (a URSS). Foi um processo complexo, mas a Rússia continua a pairar na cabeça de muitos Estados, principalmente da Europa de Leste, como uma ameaça real. A NATO, hoje em dia, não tem um inimigo claro e identificado, levando a que a célebre máxima que levou à sua criação ("keep the americans in, the germans down and the russians out") tenha perdido muita da sua actualidade. Houve, e continua a haver, claros sinais de uma crise de identidade na Aliança, que, após 1991, liderou, pela primeira vez, uma intervenção armada e está agora envolvida na sua primeira guerra. Durante alguns anos o debate foi sobre as out-of-area operations. Este é um assunto hoje em dia resolvido - as fronteiras são hoje em dia de interesses e estes defendem-se onde for preciso, mesmo que em Cabul.
A putativa adesão da Ucrânia e da Geórgia apenas complica este cenário e demonstra que a crise identitária se mantém. Numa altura em que a postura perante a Rússia deveria ser de unidade, firmeza e coerência, há Estados que ainda acreditam que é necessário manter a Russia out. Para isso é necessário cercá-la de todos os lados e admitir Kiev e Tiblissi no círculo dos Estados amantes da paz e da liberdade. Nada de mais errado. Que eles amem a paz e a liberdade óptimo. Que tenham relações privilegiadas com a Aliança fantástico. Que a ela adiram nem pensar, pelo menos num futuro próximo. A Rússia tem ainda hoje um profundo complexo de menoridade e cercá-la dessa forma apenas o iria exacerbar, com graves custos não só para a Ucrânia e para a Geórgia (as relações comerciais seriam as primeiras a sofrer e muito) mas para o conjunto dos Estados-membros da Aliança, o que, é certo, confirmaria os receios dos Estados da Europa de Leste, quanto ao urso russo. Contudo, evitar a adesão não só adoçaria o urso como lhe demonstraria que a Aliança já não está orientada contra Moscovo e que espera da Rússia uma atitudade cooperante nos mais variados assuntos. E neste plano a dura verdade é que nos temos comportado mal com Moscovo. Por um lado exigimos mais e melhor cooperação. Queremos ser amigos. Por outro espetamos-lhe facadas destas nas costas. É, no mínimo, insensato. E feio.
Por mais que custe a alguns, ainda há Estados que devem funcionar como buffer zones. O conceito, recorde-se, não se aplica apenas a situações em que do outro lado esteja um inimigo. Ele é igualmente válido nos casos em que do outro lado está um país enorme, particularmente sensível e militarmente significativo, que não convém nada atiçar. Mais uma vez a escolha é entre o confronto e a cooperação. Conscientemente, quem, podendo optar pela segunda, escolhe a primeira?
terça-feira, 18 de março de 2008
Irresistível II
Tenho, antes de mais nada, de penitenciar-me: eu não devia estar a usar o digno O Conserto das Nações para isto. Isto, quero dizer, não é completamente alheio a questões de política externa - aliás, é relevante, interessante e até acredito que vá permanecer na memória colectiva durante algum tempo.
Mas por mais voltas que se lhe dê, é lixo. Perdão. Contritamente.
Como no nosso país, pela 1000.ª vez, se adopta um "modelo" (estamos na fase do modelo finlandês), também me parece salutar ver como os nossos irmãos escandinavos não são todos uns anjinhos louros hiper-produtivos e que só vieram ao mundo para nos mostrar todos os dias o quão insuficientes somos todos, mesmo todos.
Pronto. Não repito a gracinha. Mas que tem graça, tem.
Mas por mais voltas que se lhe dê, é lixo. Perdão. Contritamente.
Como no nosso país, pela 1000.ª vez, se adopta um "modelo" (estamos na fase do modelo finlandês), também me parece salutar ver como os nossos irmãos escandinavos não são todos uns anjinhos louros hiper-produtivos e que só vieram ao mundo para nos mostrar todos os dias o quão insuficientes somos todos, mesmo todos.
Pronto. Não repito a gracinha. Mas que tem graça, tem.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Sentido de Estado... e de humor!
O blog Notas Verbais não resistiu e nós também não, por isso aqui vai...
Do Correio Brasiliense,
"No Rio de Janeiro para participar da organização das solenidades que marcam os 200 anos da chegada da família real ao Brasil, o embaixador de Portugal, Francisco Seixas Costa, foi abordado por um estudante que lhe fez uma provocação, dizendo que o Brasil seria melhor se tivesse outros colonizadores, como os holandeses. Seixas da Costa não perdeu a fleuma. Depois de sugerir ao jovem que estudasse mais a história do continente, saiu-se com esta: "Queria ver você cantar Garota de Ipanema em holandês!""
Quem fala assim, não é gago!
Do Correio Brasiliense,
"No Rio de Janeiro para participar da organização das solenidades que marcam os 200 anos da chegada da família real ao Brasil, o embaixador de Portugal, Francisco Seixas Costa, foi abordado por um estudante que lhe fez uma provocação, dizendo que o Brasil seria melhor se tivesse outros colonizadores, como os holandeses. Seixas da Costa não perdeu a fleuma. Depois de sugerir ao jovem que estudasse mais a história do continente, saiu-se com esta: "Queria ver você cantar Garota de Ipanema em holandês!""
Quem fala assim, não é gago!
quarta-feira, 12 de março de 2008
A kind of Magic!
O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Bernard Kouchner, afirmou numa entrevista que manteve com Roger Cohen, do International Herald Tribune, que os Estados Unidos da América 'perderam a magia' e que o sucessor de George W. Bush dificilmente a conseguirá recuperar. Depois de o afirmar, Kouchner acrescentou que os EUA mantêm o poder militar mas que a imagem externa do país demorará a ser restabelecida.
Este activista da esquerda socialista francesa, Ministro de um governo de centro-direita (onde é que eu já vi isto...?) considera que existe um novo mundo e uma nova diplomacia, mas que o exercício desta 'nova' diplomacia "is very difficult, very time consuming".
Aqui está a razão pela qual é imperativo que qualquer responsável político (e político responsável) que exerça o cargo de MNE, deve ter uma consciencia temporal apurada e uma visão holistica da História. Este senhor, cheio de si (afinal trata-se de um dos fundadores dos Médicos sem Fronteiras) vai dizendo uma barbaridades de quando em vez para arrepio dos mais atentos. Senão vejamos:
- Para um bom analista, expressões como 'a magia acabou' soam a determinismo bacoco. As Relações Internacionais não se fazem de 'magias', fazem-se de trocas comerciais, acordos políticos e diplomáticos, de cooperação internacional a diversos níveis, de relações inter-estaduais e com ONG's, relações bilaterais e multilaterais, onde a personalidade dos líderes políticos assume alguma importância no processo, mas não toda. A política externa norte-americana tem mais de dois 230 anos e não são os 8 anos de actuação da Administração Bush que lhe tiram a 'magia'. Ser superpotência constitui por si só "a kind of Magic" que não se perde sem mais nem menos.
- Para um bom analista, expressões como 'estamos perante um novo mundo' soam a determinismo bacoco. O mundo é o mesmo e o 'homo homini lupus' mantém a mesma actualidade (apenas a 'tecnologia' empregue é nova). Compreendo a afirmação, mas apenas se não considerar os séculos de história mundial que moldaram a actualidade.
- Para um bom analista, expressões como 'nova diplomacia' soam a determinismo bacoco. A Diplomacia não é nova, é velha como a história. Com a evolução das sociedades e dos mecanismos inter-relacionais entretanto criados, a Diplomacia passou a ser exercida em dois métodos: o multilateral (as Nações Unidas são o maior exemplo) e a diplomacia aberta (aquela praticada por Chefes de Estado e de Governo em Cimeiras como as do G8 ou nos Conselhos Europeus). Não acho que se trate de uma 'nova' Diplomacia, para mim é a mesma mas com novos atributos e áreas de intervenção.
Novo Sr. Kouchner, nada, até porque a Diplomacia tem horror a novidades e a surpresas. Compreendo que seja por vezes exasperante e "very time consuming", mas o exercício da Diplomacia está reservado aos mais pacientes, aos mais preserverantes, àqueles que têm uma comprensão do tempo muito diferente do conceito de imediatismo dos nossos dias. Para alguns Estados como Portugal, que já andam nestas andanças da Diplomacia há algum tempo, são séculos de relações diplomáticas que estão em causa e que é preciso considerar e saber manter. It's a kind of Magic!
Este activista da esquerda socialista francesa, Ministro de um governo de centro-direita (onde é que eu já vi isto...?) considera que existe um novo mundo e uma nova diplomacia, mas que o exercício desta 'nova' diplomacia "is very difficult, very time consuming".
Aqui está a razão pela qual é imperativo que qualquer responsável político (e político responsável) que exerça o cargo de MNE, deve ter uma consciencia temporal apurada e uma visão holistica da História. Este senhor, cheio de si (afinal trata-se de um dos fundadores dos Médicos sem Fronteiras) vai dizendo uma barbaridades de quando em vez para arrepio dos mais atentos. Senão vejamos:
- Para um bom analista, expressões como 'a magia acabou' soam a determinismo bacoco. As Relações Internacionais não se fazem de 'magias', fazem-se de trocas comerciais, acordos políticos e diplomáticos, de cooperação internacional a diversos níveis, de relações inter-estaduais e com ONG's, relações bilaterais e multilaterais, onde a personalidade dos líderes políticos assume alguma importância no processo, mas não toda. A política externa norte-americana tem mais de dois 230 anos e não são os 8 anos de actuação da Administração Bush que lhe tiram a 'magia'. Ser superpotência constitui por si só "a kind of Magic" que não se perde sem mais nem menos.
- Para um bom analista, expressões como 'estamos perante um novo mundo' soam a determinismo bacoco. O mundo é o mesmo e o 'homo homini lupus' mantém a mesma actualidade (apenas a 'tecnologia' empregue é nova). Compreendo a afirmação, mas apenas se não considerar os séculos de história mundial que moldaram a actualidade.
- Para um bom analista, expressões como 'nova diplomacia' soam a determinismo bacoco. A Diplomacia não é nova, é velha como a história. Com a evolução das sociedades e dos mecanismos inter-relacionais entretanto criados, a Diplomacia passou a ser exercida em dois métodos: o multilateral (as Nações Unidas são o maior exemplo) e a diplomacia aberta (aquela praticada por Chefes de Estado e de Governo em Cimeiras como as do G8 ou nos Conselhos Europeus). Não acho que se trate de uma 'nova' Diplomacia, para mim é a mesma mas com novos atributos e áreas de intervenção.
Novo Sr. Kouchner, nada, até porque a Diplomacia tem horror a novidades e a surpresas. Compreendo que seja por vezes exasperante e "very time consuming", mas o exercício da Diplomacia está reservado aos mais pacientes, aos mais preserverantes, àqueles que têm uma comprensão do tempo muito diferente do conceito de imediatismo dos nossos dias. Para alguns Estados como Portugal, que já andam nestas andanças da Diplomacia há algum tempo, são séculos de relações diplomáticas que estão em causa e que é preciso considerar e saber manter. It's a kind of Magic!
segunda-feira, 10 de março de 2008
Eleições no Zimbabwe
"O governo zimbabweano, muitas vezes acusado de fraude eleitoral, declarou esta semana que o escrutínio crucial previsto para finais de Março corrente será livre e justo.
Esta promessa foi feita pelo ministro zimbabweano dos Negócios Estrangeiros, Simbarashe Mumbengegwi, aos diplomatas acreditados no Zimbabwe. Nessa ocasião, o chefe da diplomacia zimbabwena afirmou que um intenso trabalho preparatório, que envolveu a oposição, foi feito para assegurar a realização das eleições livres e justas a 29 de Março corrente para eleger um novo Presidente e novos representantes das Câmaras Baixa e Alta do Parlamento. O chefe da diplomacia zimbabweana afirmou que observadores estrangeiros foram convidados para controlar o desenrolamento do escrutínio, mas que os países críticos ao governo foram excluídos. Trata-se, entre outros, da Grã Bretanha e dos Estados Unidos que lançaram uma campanha contra o governo do Presidente Robert Mugabe, acusando-o de violações dos direitos humanos e de fraudes eleitorais", acusões rejeitadas pelo governo zimbabweano.
No passado, os partidos da oposição do Zimbabwe acusaram o governo de ter procedido a uma fraude maciça dos votos, acusações que as autoridades continuam a desmentir. Desta vez, a oposição ameaçou sair às ruas se casos de fraude forem assinalados. "
com http://www.angolapress-angop.ao/africa.asp
Até podia ser verdade...
Esta promessa foi feita pelo ministro zimbabweano dos Negócios Estrangeiros, Simbarashe Mumbengegwi, aos diplomatas acreditados no Zimbabwe. Nessa ocasião, o chefe da diplomacia zimbabwena afirmou que um intenso trabalho preparatório, que envolveu a oposição, foi feito para assegurar a realização das eleições livres e justas a 29 de Março corrente para eleger um novo Presidente e novos representantes das Câmaras Baixa e Alta do Parlamento. O chefe da diplomacia zimbabweana afirmou que observadores estrangeiros foram convidados para controlar o desenrolamento do escrutínio, mas que os países críticos ao governo foram excluídos. Trata-se, entre outros, da Grã Bretanha e dos Estados Unidos que lançaram uma campanha contra o governo do Presidente Robert Mugabe, acusando-o de violações dos direitos humanos e de fraudes eleitorais", acusões rejeitadas pelo governo zimbabweano.
No passado, os partidos da oposição do Zimbabwe acusaram o governo de ter procedido a uma fraude maciça dos votos, acusações que as autoridades continuam a desmentir. Desta vez, a oposição ameaçou sair às ruas se casos de fraude forem assinalados. "
com http://www.angolapress-angop.ao/africa.asp
Até podia ser verdade...
Curtas IV
- Hugo Chavez é grande! Mas acho que é bipolar.
- Vladimir Putin é ainda maior!
- Nicolas Sarkozy já esteve melhor....
- A Boeing perde para a Airbus (again...), e Portugal esteve lá.
- Os EUA não estão interessados no Uzbequistão, pelo menos a título formal...
- Este senhor pode ser o fim da África do Sul...
- Maggie Thatcher está melhor... mas Sir Francis Pym nem por isso...
- Vladimir Putin é ainda maior!
- Nicolas Sarkozy já esteve melhor....
- A Boeing perde para a Airbus (again...), e Portugal esteve lá.
- Os EUA não estão interessados no Uzbequistão, pelo menos a título formal...
- Este senhor pode ser o fim da África do Sul...
- Maggie Thatcher está melhor... mas Sir Francis Pym nem por isso...
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sábado, 8 de março de 2008
Paz em Macondo
E acabou-se tudo. Os presidentes deram mãozadas, bacalhaus e palmadões nas costas, e os batalhões blindados bolivarianos já não vão extinguir milhares de espécies desconhecidas na selva colombiana.
Quem ganha, quem perde? Ganha quem não se cobriu de ridículo em frente às câmaras e quem conseguiu alcançar os seus objectivos: a Colômbia.
Perdem os demais, a Venezuela por mais um "Chavismo", perdem o Equador e a Nicarágua por gritarem a todo o mundo que são paus mandados da Venezuela (então a Nicarágua, Deus do céu, que em 24 horas cortou e reatou relações com a Colômbia...), perde finalmente o Brasil pelo papel apagado em todo a situação. Brasília teria ficado bem na fotografia sendo o cenário dos abraços, mas não - foi Santo Domingo. Estas oportunidades não aparecem todos os dias.
Quem ganha, quem perde? Ganha quem não se cobriu de ridículo em frente às câmaras e quem conseguiu alcançar os seus objectivos: a Colômbia.
Perdem os demais, a Venezuela por mais um "Chavismo", perdem o Equador e a Nicarágua por gritarem a todo o mundo que são paus mandados da Venezuela (então a Nicarágua, Deus do céu, que em 24 horas cortou e reatou relações com a Colômbia...), perde finalmente o Brasil pelo papel apagado em todo a situação. Brasília teria ficado bem na fotografia sendo o cenário dos abraços, mas não - foi Santo Domingo. Estas oportunidades não aparecem todos os dias.
quinta-feira, 6 de março de 2008
Biocombustíveis
Pode parecer um tema no mínimo deslocado num blog dedicado a assuntos de política externa. No entanto, basta olharmos para um mapa e para uns quantos indicadores económicos para nos apercebermos do enorme impacto e das possíveis consequências negativas que a recente deriva, senão mesmo obsessão, pelos biocombustíveis pode originar.
O que me preocupa não é o mérito da solução - não sou especialista, nem pretendo ser. Há, de resto, estudos com os mais díspares resultados quanto à eficácia dos biocombustíveis na redução da emissão de gases com efeito de estufa. Olhar para a proveniência desses estudos também é um exercício interessante, mas não é dele que me pretendo ocupar por agora.
O que está em causa são as consequências geopolíticas desta decisão. Não são poucos os autores que defendem que os conflitos no século XXI vão ser em larga medida função da escasez de recursos naturais (como se, até agora, não o tivessem sido igualmente!). Se passarmos de uma economia dependente em larga medida de petróleo para uma assente na transformação em combustível de cereais não vejo porque não estabelecer também aqui uma ligação.
Acresce que há zonas do mundo em que a competição por terra arável é já uma realidade - se à básica necessidade de alimentação de populações acrescentarmos um enorme benefício económico na forma de combustíveis só podemos imaginar o que vai acontecer.
Por outro lado, a água potável é cada vez mais um bem escasso, e igualmente motivo para fortes desavenças e possíveis futuros conflitos (the Middle East comes to mind), pelo que desviá-la para plantações com um maior e provavelmente mais rápido retorno económico não parece uma solução muito inteligente.
Há igualmente que ponderar a ligação há muito estabelecida entre segurança e desenvolvimento. Se considerarmos que hoje não falamos em fronteiras territoriais, mas antes em fronteiras de interesse não é igualmente um exercício muito difícil concluir quais as consequências no primeiro vector (segurança) de uma diminuição do segundo (desenvolvimento), mercê de uma quebra assinalável da oferta de cereais básicos.
Podemos igualmente pensar nas consequências para a economia global que um aumento considerável dos preços dos cereais acarretará. Se as metas propostas pela UE vierem, de facto, a ser plenamente assumidas, as oscilações a que temos assistidos na bolsa de Chicago, por exemplo, terão apenas tendência para se eternizar.
Finalmente há a magna questão ética. Neste ponto (e tal como o Economist apenas neste) concordo com Fidel Castro. Uma solução que aposta aposta no desvio de cereais para a produção de combustíveis, levando, assim, a um aumento do seu preço, quando a fome mundial é o que se sabe, não me parece eticamente muito louvável.
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quarta-feira, 5 de março de 2008
Curtas III
#1 - Ohio, Texas, Clinton. "Yes she will"? Maybe, maybe not. Looking good for McCain, though.
#2 - Falando em McCain, o recém-ungido candidato Republicano foi encontrar-se com o chefe do partido à Casa Branca, procurando a bênção de um "conservador genuíno". Se é boa ou má ideia, o tempo o dirá, mas parece um pouco inevitável, a bem da unidade do partido. McCain também merece agora um pouco mais da nossa atenção.
#3 - Com um pouco de atraso, vitória de Zapatero no último debate, Segunda à noite. Rajoy é fraco, não apresentou (no debate) uma única proposta substantiva para Espanha e insiste na niña. Não funciona, mas nem a cacete. Caramba. Eleições Domingo.
#4 - Continua-se a chocalhar espadas na América do Sul. Só ouço declarações ponderadas da Colômbia - se descontarmos a história da bomba nuclear que as FARC quereriam fazer. Isso é quase como os 45 minutos de distância do lançamento de AMD pelo Iraque.
#5 - A nossa animada discussão sobre a boa razão, ou não, da retirada do Iraque merece posts, Niccolò. Pense nisso que eu também.
#2 - Falando em McCain, o recém-ungido candidato Republicano foi encontrar-se com o chefe do partido à Casa Branca, procurando a bênção de um "conservador genuíno". Se é boa ou má ideia, o tempo o dirá, mas parece um pouco inevitável, a bem da unidade do partido. McCain também merece agora um pouco mais da nossa atenção.
#3 - Com um pouco de atraso, vitória de Zapatero no último debate, Segunda à noite. Rajoy é fraco, não apresentou (no debate) uma única proposta substantiva para Espanha e insiste na niña. Não funciona, mas nem a cacete. Caramba. Eleições Domingo.
#4 - Continua-se a chocalhar espadas na América do Sul. Só ouço declarações ponderadas da Colômbia - se descontarmos a história da bomba nuclear que as FARC quereriam fazer. Isso é quase como os 45 minutos de distância do lançamento de AMD pelo Iraque.
#5 - A nossa animada discussão sobre a boa razão, ou não, da retirada do Iraque merece posts, Niccolò. Pense nisso que eu também.
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Ainda não foi desta...
Ainda não foi esta noite que ficou claro quem irá ser o candidato democrata às eleições presidenciais. Do lado republicano, contudo, será McCain, tendo ontem à noite servido apenas para confirmar aquilo que já todos sabíamos...
Tal como o Otto, já estou um pouco farto de escrever sobre as eleições primárias nos EUA, mas não deixa de haver algumas coisas a registar.
A vitória de Clinton no Ohio, no Texas e em Rhode Island (ninguém se lembraria sequer de esperar que este estado lhe desse a vitória) deram azo a um dos melhores discursos de Clinton de sempre. Tal como aquela frase com que terminou o debate no Texas, o discurso de ontem foi inspirado, emotivo, pessoal. Parecia Obama... Este, por seu turno, fez um discurso racional, frio, quase calculista. Podemos ter perdido no geral, mas continuamos a liderar no número de delegados, disse ele. Para um candidato-poeta não foi o seu melhor momento.
O que os resultados de ontem confirmam, mais do que o facto da corrida continuar aberta, é que tudo não passa de psicologia. Os títulos dos jornais passaram de "Hillary has to win Texas and Ohio" para "Major victory for Hillary". A vitória pode não ter sido grande em número de votos, mas foi enorme em termos de imagem pública, permitindo parar o até-agora-imparável Obama. Ah e percebemos outra coisa também: a partir de agora the gloves are off. Clinton atacou, forte e feio, Obama e resultou. O anúncio sobre a crise às 3 da manhã (ver vídeo abaixo) pode ter sido decisivo... Only downhill from now... A questão será saber se Obama sabe lutar com as mesmas armas e se, optando por isso, mantém a aura de candidato fora do sistema.
Tal como o Otto, já estou um pouco farto de escrever sobre as eleições primárias nos EUA, mas não deixa de haver algumas coisas a registar.
A vitória de Clinton no Ohio, no Texas e em Rhode Island (ninguém se lembraria sequer de esperar que este estado lhe desse a vitória) deram azo a um dos melhores discursos de Clinton de sempre. Tal como aquela frase com que terminou o debate no Texas, o discurso de ontem foi inspirado, emotivo, pessoal. Parecia Obama... Este, por seu turno, fez um discurso racional, frio, quase calculista. Podemos ter perdido no geral, mas continuamos a liderar no número de delegados, disse ele. Para um candidato-poeta não foi o seu melhor momento.
O que os resultados de ontem confirmam, mais do que o facto da corrida continuar aberta, é que tudo não passa de psicologia. Os títulos dos jornais passaram de "Hillary has to win Texas and Ohio" para "Major victory for Hillary". A vitória pode não ter sido grande em número de votos, mas foi enorme em termos de imagem pública, permitindo parar o até-agora-imparável Obama. Ah e percebemos outra coisa também: a partir de agora the gloves are off. Clinton atacou, forte e feio, Obama e resultou. O anúncio sobre a crise às 3 da manhã (ver vídeo abaixo) pode ter sido decisivo... Only downhill from now... A questão será saber se Obama sabe lutar com as mesmas armas e se, optando por isso, mantém a aura de candidato fora do sistema.
terça-feira, 4 de março de 2008
Venezuela-Colômbia: Segundo Assalto
O primeiro foi ontem. Regresso ao assunto dos tambores de guerra que soam em Macondo (com a devida vénia ao Gabriel García Márquez, claro).
Como me parece que quaisquer comentários à política externa venezuelana estão cada vez mais votados à insuficiência e ao esgotamento do vocabulário de quem neles se aventura, prefiro deixar aqui as ligações para a imprensa online de cada um dos países envolvidos, para que os nossos leitores (essa legião!) possam ir beber directamente à fonte.
Ora então:
Pela Colômbia: El Espectador, El Tiempo e La República.
Pelo Equador: La Hora, El Comercio e Hoy.
Pela Venezuela: El Nacional, El Universal e El Mundo.
Pelo Brasil (de onde não leio nada de encorajador): A Folha de São Paulo, O Globo e Veja
Uma turbo-reflexão: o facto de a Colômbia ter morto guerrilheiros das FARC em território equatoriano é uma violação da soberania deste último país. Mas o governo de Quito parece dar mais importância a isso do que aos factos de (1) guerrilheiros estrangeiros se encontrarem no seu território e (2) ou conduzirem operações de guerra a partir dele ou, no mínimo, encontrarem nele refúgio.
Não me parece estranho, porque se sabe de que lado se encontram as pessoas; só me parece um rabo escondido com o gato de fora, que só não vê quem não quer.
Como me parece que quaisquer comentários à política externa venezuelana estão cada vez mais votados à insuficiência e ao esgotamento do vocabulário de quem neles se aventura, prefiro deixar aqui as ligações para a imprensa online de cada um dos países envolvidos, para que os nossos leitores (essa legião!) possam ir beber directamente à fonte.
Ora então:
Pela Colômbia: El Espectador, El Tiempo e La República.
Pelo Equador: La Hora, El Comercio e Hoy.
Pela Venezuela: El Nacional, El Universal e El Mundo.
Pelo Brasil (de onde não leio nada de encorajador): A Folha de São Paulo, O Globo e Veja
Uma turbo-reflexão: o facto de a Colômbia ter morto guerrilheiros das FARC em território equatoriano é uma violação da soberania deste último país. Mas o governo de Quito parece dar mais importância a isso do que aos factos de (1) guerrilheiros estrangeiros se encontrarem no seu território e (2) ou conduzirem operações de guerra a partir dele ou, no mínimo, encontrarem nele refúgio.
Não me parece estranho, porque se sabe de que lado se encontram as pessoas; só me parece um rabo escondido com o gato de fora, que só não vê quem não quer.
segunda-feira, 3 de março de 2008
Curtas II
#1 - Que Dimitri Medvedev (para aspirantes a José Rodrigues dos Santos, lê-se Miédeviédiéve, torcendo os lábios da direita para a esquerda) tenha ganho as eleições na Rússia, não é grande notícia, e não merece destaque. Merece sim, na próxima reunião dos G8, por exemplo, que a Chanceler alemã lhe pergunte: "Estás tu de turno, agora?"
#2 - Já merece mais destaque o pé de guerra em que Hugo Chávez pôs o seu país, e que espero não tenha alastrado à Colômbia, país visado pelo chocalhar de sabres bolivarianos. Mesmo assim, é agradável ver como um adversário se desacredita sozinho. Uma oportunidade para a Colômbia se deixar estar e sair bem na fotografia, sem reagir; e uma oportunidade para o Brasil, para flectir músculo na sua remota Amazónia e mostrar que a potência regional ali é ele e não a Venezuela.
#3 - Gastão Salsinha entregou-se às autoridades. Ainda bem. Esperemos que Timor normalize, nem que seja um bocadinho só.
#4 - Sempre a destacar, os cartoons de Peter Brookes no The Times Online. A nunca perder.
#2 - Já merece mais destaque o pé de guerra em que Hugo Chávez pôs o seu país, e que espero não tenha alastrado à Colômbia, país visado pelo chocalhar de sabres bolivarianos. Mesmo assim, é agradável ver como um adversário se desacredita sozinho. Uma oportunidade para a Colômbia se deixar estar e sair bem na fotografia, sem reagir; e uma oportunidade para o Brasil, para flectir músculo na sua remota Amazónia e mostrar que a potência regional ali é ele e não a Venezuela.
#3 - Gastão Salsinha entregou-se às autoridades. Ainda bem. Esperemos que Timor normalize, nem que seja um bocadinho só.
#4 - Sempre a destacar, os cartoons de Peter Brookes no The Times Online. A nunca perder.
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Regiões da Europa II
Retomo aqui, depois de uns meses de interregno, a revista das Regiões da Europa, bocadinhos do nosso continente que, por um motivo ou por outro, lutam denodadamente contra o centralismo imperialista, chauvinista e opressor de outro bocadinho do nosso continente.
A homenageada de hoje é a Catalunha, ou melhor, os «Paisos Catalans», um pot pourri que amalgama as comunidades autónomas da Catalunha, Valência, Baleares, uns pozinhos de Aragão e o departamento dos Pirénées-Orientales (vulgo Rossilhão, em França). Se as regiões mencionadas a seguir à Catalunha estão muito interessadas nos PC, isso é outra conversa.
O nacionalismo catalão é um daqueles que, não sendo puramente lírico e épico como o escocês (veja-se o primeiro post desta série, de 18 de Setembro de 2007), não é puramente onzeneiro e mercantil como o da Flandres ou da Padânia. É assim um misto de ambos, mas em que o resultado é mauzinho. E mauzinho porquê?
Porque tudo quanto é simbólico do nacionalismo catalão fala de derrota. São umas vítimas históricas, os catalães e a sua terra. Uns desgraçados, portanto.
A começar pela bandeira, a Senyera (que significa "bandeira", em catalão e se lê senhéra), que, mesmo bonita, tem associada a lenda de que foi um conde de Barcelona, ao morrer em combate, que passou os dedos (4) ensanguentados pelo seu escudo até aí inteiramente dourado. Daí as quatro barras vermelhas sobre fundo amarelo. Mas até aqui tudo bem.
Depois há o dia nacional, a Diada (11 de Setembro), em memória do dia 11 de Setembro de 1714, em que, nos últimos estertores da Guerra da Sucessão Espanhola, as tropas de Filipe V tomaram de assalto as fortificações de Barcelona e fizeram um banho de sangue entre os defensores. Desde então (situação confirmada pelos decretos de Nueva Planta, de 1716) que a Coroa de Aragão, a que pertencia a Catalunha, tinha perdido os seus foros e liberdades. Foi o início da Espanha centralizada e unificada, e o dia nacional catalão assinala a sua derrota derradeira. Inspirador.
O hino, valha-nos isso, é Els Segadors, uma melodia tradicional com um som poderoso, e que fala de mais uma revolta fracassada, a dos camponeses em Junho de 1640, aproveitando a guerra entre França e Espanha.
Aliás, a propósito desta revolta circula a ideia pouco esclarecida de que os castelhanos se viram obrigados a escolher entre reprimir a Catalunha ou afogar a restauração da independência portuguesa, nesse mesmo ano. Nada mais falso: a Catalunha recebeu apoio activo da França, porque era teatro de operações e os catalães chegaram a declarar Luís XIII conde de Barcelona. Entre isso e Portugal, a premência da guerra fez da Catalunha a primeira linha. E a guerra com Portugal durou até 1668, já agora, décadas depois da derrota dos segadores. Pelos vistos, já nesse tempo, os catalães gostavam de estrangeiros para heróis do nacionalismo (e aqui falo do Figo, sim, que cometeu o crime de lesa-catalanidade de ir para o Real).
Enfim, não acho o nacionalismo catalão com muitas pernas para andar. Porque não faz apelo ao passado remoto mas robusto que tem (Jaime I, a expansão pelo Mediterrâneo, os Almogávares, a cultura) mas sim ao passado recente desgraçado que preferem recordar. E aos benditos 18% do PIB espanhol que produzem. Uau.
A bem da pluralidade, aqui fica o texto onde fui sacar a fotografia da bandeira, e o site do Conselho Nacional Catalão, onde se encontram dados sobre um país que não é.
Mudança de intensidade
A eleição de Dmitry Medvedev para a Presidência da Fed. da Rússia representa apenas uma normal mudança de intensidade na política russa.
Se passarmos a traços largos a história das sucessões políticas no cargo de Secretário-geral do PCUS desde a Revolução Bolchevique, temos que a Lenine (de linha branda) sucede Estaline (de linha dura) que é sucedido por Khrushchov (de linha branda) sucendo-lhe Brezhnev (de linha dura), Andropov e Tchernenko (período de gerontocracia) e por fim Gorbachev (de linha branda).
No caso da história das sucessões políticas no cargo de Presidente da Federação da Rússia, temos que a Boris Ieltsin (de linha branda) sucede Vladimir Putin (de linha dura) e agora temos Dmitry Medvedev (de linha branda).
Vamos portanto entrar num período de relativa redução de intensidade na forma como Putin e a Rússia exercem pressão no Sistema Internacional. Podemos igualmente supor que o Delfim quererá descolar-se do Mestre para se afirmar, mas não creio que Putin tenha escolhido Medvedev por este ser um destemido.
Se passarmos a traços largos a história das sucessões políticas no cargo de Secretário-geral do PCUS desde a Revolução Bolchevique, temos que a Lenine (de linha branda) sucede Estaline (de linha dura) que é sucedido por Khrushchov (de linha branda) sucendo-lhe Brezhnev (de linha dura), Andropov e Tchernenko (período de gerontocracia) e por fim Gorbachev (de linha branda).
No caso da história das sucessões políticas no cargo de Presidente da Federação da Rússia, temos que a Boris Ieltsin (de linha branda) sucede Vladimir Putin (de linha dura) e agora temos Dmitry Medvedev (de linha branda).
Vamos portanto entrar num período de relativa redução de intensidade na forma como Putin e a Rússia exercem pressão no Sistema Internacional. Podemos igualmente supor que o Delfim quererá descolar-se do Mestre para se afirmar, mas não creio que Putin tenha escolhido Medvedev por este ser um destemido.
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Sobre o reconhecimento da Independencia do Kosovo...
Não é por solidariedade com o regime de Madrid, nem por simpatia com a causa que Portugal ainda não reconheceu o Kosovo. Simplesmente não há pressa. Concordo com o que diz o Otto, mas estamos (a meu ver, bem) a ser um pouco neutrais (pelo menos para já) , nesta questão.
A proclamação unilateral de Independencia do Kosovo gera um sério precedente potencialmente destabilizador do vizinho continental espanhol e por isso, é mais pela estabilidade da Península que aguardamos, reflectimos e talvez mais tarde reconheçamos a necessidade de enfim... podermos vir a dizer qualquer coisa sobre o assunto.
Primeiro é preciso ver se o Kosovo funciona como Estado de Direito...
Portugal e o reconhecimento do Kosovo
Se está certo ou errado, se devia ter acontecido ou não, se pudéssemos voltar atrás até 1999 e fazer tudo de forma diferente... isso agora não importa.
Perante o facto consumado, Portugal vai ou não vai reconhecer o Kosovo? E se ainda não o reconheceu, porquê? Do que estará à espera?
O argumento principal que por cá corre é que estamos a ser "solidários com a Espanha". E eu até acredito. Claro que há quem diga logo que Portugal está mas é a reboque da Espanha, e que seguiremos o vento que soprar de Madrid.
Aqui, eu já não acredito. Em primeiro lugar, e por questão de princípio, porque aquele ditado sobre ventos de Espanha está fundado em séculos de estudo aprofundado; em segundo lugar, porque dizer-se solidário com a Espanha é uma boa maneira de protelar tomar partido até que os nossos homens saiam de Mitrovica.
Se já sabemos que quem reconhece o Kosovo se torna um alvo para os sérvios, podemos pelo menos ter a serenidade de deixar que as nossas tropas deixem a zona de perigo antes de nos conformarmos (infelizmente, digo eu) com aquilo que aconteceu. Entretanto, sim sim, somos solidários com a Espanha. Coitada.
Perante o facto consumado, Portugal vai ou não vai reconhecer o Kosovo? E se ainda não o reconheceu, porquê? Do que estará à espera?
O argumento principal que por cá corre é que estamos a ser "solidários com a Espanha". E eu até acredito. Claro que há quem diga logo que Portugal está mas é a reboque da Espanha, e que seguiremos o vento que soprar de Madrid.
Aqui, eu já não acredito. Em primeiro lugar, e por questão de princípio, porque aquele ditado sobre ventos de Espanha está fundado em séculos de estudo aprofundado; em segundo lugar, porque dizer-se solidário com a Espanha é uma boa maneira de protelar tomar partido até que os nossos homens saiam de Mitrovica.
Se já sabemos que quem reconhece o Kosovo se torna um alvo para os sérvios, podemos pelo menos ter a serenidade de deixar que as nossas tropas deixem a zona de perigo antes de nos conformarmos (infelizmente, digo eu) com aquilo que aconteceu. Entretanto, sim sim, somos solidários com a Espanha. Coitada.
domingo, 2 de março de 2008
Curtas
#1 - O príncipe Harry no Afeganistão. Diga-se o que se disser, é de homem. Caladinho, com a colaboração dos jornalistas britânicos, num cenário de combate. Está certo. Não me tinha ocorrido que pudesse ser tudo orquestrado como golpe de propaganda. Tinha o cinismo desligado, o Nuno Rogeiro hoje à tarde não. Não se ganha sempre. E já viram o corte de cabelo do candidato Bogdanov? Nuno Rogeiro e Bogdanov na mesma frase. Não digo mais nada.
#2 - Há quem não esteja satisfeito com os resultados das eleições na Arménia. Há sempre histórias estranhas quando aparecem no mesmo parágrafo eleições e ex-repúblicas soviéticas. E aqui meto os nossos co-EM bálticos, porque lá também lá se passam muitas originalidades no que toca ao tratamento das minorias russas.
#3 - Como já estou a ficar farto de escrever sobre eleições nos EUA, espero que Terça seja O dia. Espero mesmo. E deixar toda a gente descansar até Setembro, quando aquecer tudo de novo.
#2 - Há quem não esteja satisfeito com os resultados das eleições na Arménia. Há sempre histórias estranhas quando aparecem no mesmo parágrafo eleições e ex-repúblicas soviéticas. E aqui meto os nossos co-EM bálticos, porque lá também lá se passam muitas originalidades no que toca ao tratamento das minorias russas.
#3 - Como já estou a ficar farto de escrever sobre eleições nos EUA, espero que Terça seja O dia. Espero mesmo. E deixar toda a gente descansar até Setembro, quando aquecer tudo de novo.
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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Comissão (Inter)Nacional de Eleições
É com o que este blog se começa a assemelhar, mas não temos culpa da variedade de actos eleitorais que populam por esse mundo fora. Este domingo é a vez da Rússia. Dia 2 os russos vão às urnas eleger Medvedev (não é assim tão difícil de pronunciar, como poderá parecer por este vídeo:
O exercício de domingo é a prova provada do sistema à la Putin de "democracia soberana". Os potenciais candidatos que poderiam causar algum incómodo ao sistema estabelecido foram afastados por alegadas irregularidades técnicas. Restam três: Zyuganov, líder do Partido Comunista, para manter o folclore presente, e Zhirinovsky, o líder nacionalista, e Bogdanov, que até têm feitos uns favorzitos ao Kremlin.
Não será, pois, surpresa para ninguém que Medvedev ganhará por larga maioria e que se tornará Presidente da Rússia, passando Putin a ocupar o lugar de Primeiro-Ministro.
A imprensa internacional tem retratado Medvedev como um candidato mais liberal e, politicamente, não tão crítico do Ocidente. Até pode ser, mas ideologicamente trata-se de uma "gelatina política", parafraseando Manuel Maria Carrilho. Medvedev fará o que Putin quiser, pelo que são de aguardar muito poucas surpresas. Mas voltarei a este assunto...
O exercício de domingo é a prova provada do sistema à la Putin de "democracia soberana". Os potenciais candidatos que poderiam causar algum incómodo ao sistema estabelecido foram afastados por alegadas irregularidades técnicas. Restam três: Zyuganov, líder do Partido Comunista, para manter o folclore presente, e Zhirinovsky, o líder nacionalista, e Bogdanov, que até têm feitos uns favorzitos ao Kremlin.
Não será, pois, surpresa para ninguém que Medvedev ganhará por larga maioria e que se tornará Presidente da Rússia, passando Putin a ocupar o lugar de Primeiro-Ministro.
A imprensa internacional tem retratado Medvedev como um candidato mais liberal e, politicamente, não tão crítico do Ocidente. Até pode ser, mas ideologicamente trata-se de uma "gelatina política", parafraseando Manuel Maria Carrilho. Medvedev fará o que Putin quiser, pelo que são de aguardar muito poucas surpresas. Mas voltarei a este assunto...
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